AMOR À VIDA
FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) em 1º primeiro beijo entre homens das novelas
Nas últimas semanas, a Globo virou alvo de críticas por ter censurado dois beijos lésbicos em suas produções. O primeiro caso aconteceu em Vai na Fé, com o casal Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman). Dias depois, o clima mais quente entre Olga (Camila Pitanga) e Ivona (Elisa Volpatto) foi retirado de Aruanas na TV aberta. Os cortes vão na contramão do que a emissora fez há dez anos, quando Amor à Vida (2013) entrou para a história da dramaturgia ao exibir o primeiro beijo entre homens das novelas brasileiras em pleno horário nobre.
O primeiro folhetim de Walcyr Carrasco na faixa das nove atingiu um feito raro: conseguiu fazer com que o público torcesse pelo amor de Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso). O romance, inclusive, fez parte da redenção do vilão --que havia conquistado completamente o telespectador com seu jeito ácido e divertido ao mesmo tempo.
Amor à Vida narrava os conflitos da rica família Khoury, proprietária do Hospital San Magno. De olho na herança do pai, Félix cometia atrocidades para prejudicar a irmã, Paloma (Paolla Oliveira). O vilão foi capaz até mesmo de jogar a sobrinha, Paulinha (Klara Castanho), ainda recém-nascida, em uma caçamba de lixo.
A menina acabou sendo criada por Bruno (Malvino Salvador), que se envolveu com Paloma anos depois, sem nem imaginar que ela era a mãe biológica de Paulinha.
Após muito drama e conflitos, Félix foi perdoado pela irmã e encontrou paz nos braços de Niko. O "carneirinho" era responsável por mostrar um lado mais humano do ricaço, e os dois viraram queridinhos do público.
Mas o telespectador precisou esperar até o último capítulo da trama para ver o tão aguardado beijo. A cena foi ao ar em 31 de janeiro de 2014 e foi muito comemorada.
"Você fazer aquele beijo para o horário nobre, para o Brasil inteiro, com muito sucesso e com as pessoas pedindo para que acontecesse", valorizou Fragoso no especial 70 Anos Esta Noite.
"Lembro que, no dia que a gente recebeu o capítulo, veio a cena. E no final da fala 'eu que não vivo sem você', vinha uma linha de asteriscos. Falei: 'isso só pode querer dizer uma coisa'", relembrou Solano, que completou:
O beijo de Félix e Niko foi a coroação de uma relação de amor entre o público e essas personagens. Este beijo redimiu um Brasil preconceituoso, assassino. Fico imaginando quantos milhões de pessoas não puderam amar, porque tem uma sociedade que diz que não é certo se não for daquele jeito.
A novela também ficou marcada pelas trapalhadas de Valdirene (Tatá Werneck), as maldades de Aline (Vanessa Giácomo) e o romance de idas e vindas entre Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casadevall).
Beijo lésbico na novela Em Família (2014)
O corte que aconteceu recentemente em Vai na Fé não foi o primeiro das novelas da emissora. Em 2005, por exemplo, o beijo de Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) gravado para o último capítulo de América foi vetado poucas horas antes de ir ao ar.
Nos anos 1990, então, um romance homoafetivo chocou tanto o público que o autor Silvio de Abreu se viu obrigado a matar o casal Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni) em uma explosão em Torre de Babel (1998).
Em Mulheres Apaixonadas (2003), que será reprisada novamente no Vale a Pena Ver de Novo, o telespectador até simpatizou com Rafaela (Alinne Moraes) e Clara (Paula Picarelli) --mas não queria ver beijo entre elas.
Já Órfãos da Terra (2019) teve um beijo lésbico vetado num primeiro momento, mas, após uma enxurrada de críticas, Valéria (Bia Arantes) e Camila (Anaju Dorigon) puderam trocar carícias em seu casamento.
Mais recentemente, um beijo entre Plínio (Nikolas Antunes) e Leopoldo (Michel Blois) em Além da Ilusão (2022) foi impedido por Arminda (Caroline Dallarosa). "O horário não permite", justificou a jovem no próprio folhetim.
As censuras às demonstrações de afeto na comunidade LGBTQIA+ vão em contrapartida do que a emissora vinha fazendo nos últimos anos para aumentar a representatividade em suas produções.
O público já viu beijos gays e lésbicos em novelas das onze, nove, sete, seis e até em Malhação (1995-2020). Ou seja, é difícil de aceitar que a Globo tenha regredido nesse quesito por puro medo do conservadorismo.
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