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MEMÓRIA DA TV

Público aprovou lésbicas de Mulheres Apaixonadas em 2003, mas não queria beijo

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

As atrizes Alinne Moraes (Rafaela) e Paula Picarelli (Clara) sorriem abraçadas como as personagens de Mulheres Apaixonadas

Rafaela (Alinne Moraes) e Clara (Paula Picarelli) eram um casal em Mulheres Apaixonadas (2003)

THELL DE CASTRO

Publicado em 23/8/2020 - 7h05

"Sair do armário pode, mas beijar na boca não". Essa foi a conclusão das pesquisas realizadas pela Globo, em 2003, a respeito do romance entre as então adolescentes Rafaela (Alinne Moraes) e Clara (Paula Picarelli) em Mulheres Apaixonadas. O casal era um dos destaques da novela de Manoel Carlos, que será reexibida pelo Viva a partir desta segunda (24).

Na época, a emissora tinha uma grande dúvida se o público iria aprovar a relação lésbica. Como antecedentes, existiam os casos de rejeição em Vale Tudo (1988), com Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska), e, principalmente, em Torre de Babel (1998), quando Silvio de Abreu teve que matar Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) na explosão do shopping.

Nas primeiras semanas de Mulheres Apaixonadas, o autor Manoel Carlos disse que ainda não havia grande interesse pelo assunto. "Nos meus passeios pelo Leblon, nunca citaram esse núcleo", declarou ao jornal O Globo de 16 de março de 2003.

"Na rua, ninguém comenta nada. As pessoas não se aproximam de mim. Talvez porque o assunto seja um tabu. Pouco se fala sobre a relação entre mulheres, por isso mesmo é perfeito que a novela do Maneco fale", declarou Alinne na reportagem.

Paula, por sua vez, passou por alguns momentos de constrangimento, como algumas hostilidades nas ruas e uma vendedora de loja que a esnobou, recusando-se a atendê-la.

Já em 19 de março, a Folha de S.Paulo informou que o futuro das jovens seria decidido pelos tradicionais grupos de pesquisas que a emissora realiza.

"Até lá, segundo o autor, as jovens continuarão no armário, apesar das evidências, como a troca de carinhos e as manifestações de ciúmes. Ao contrário do que ocorreu em Torre de Babel, Rafaela e Clara correm menos risco de morte. Dependendo do grau de rejeição (e da pressão de executivos da Globo), elas poderão tomar outro rumo", enfatizou a matéria de Daniel Castro.

"Não as cortarei da trama simplesmente por vontade do grupo [de pesquisa]. É preciso que junto com a opinião e a reprovação do grupo ocorra uma proibição (ou sugestão persistente) da empresa", afirmou o novelista. "Estou abordando o tema com cuidado. Não quero ter de matar ou afastar as atrizes, cancelando a história. Prefiro resolver de um outro modo, caso me impeçam de prosseguir", completou.

Sem beijo

O resultado das primeiras pesquisas saiu em 24 de abril, quando a Folha divulgou que "o público pesquisado --a maioria de donas de casa-- tinha aprovado o casal Rafaela e Clara, que são adolescentes e lésbicas, mas rejeitou qualquer hipótese de elas se beijarem na boca".

"Sei que existem limites. Se as pesquisas aprovam o relacionamento das duas e se a audiência não cai quando elas aparecem, isso se deve a uma abertura maior, mas também à forma delicada com que estou tocando a história. Então, longe de mim qualquer provocação. Um beijo na boca entre dois homens ou duas mulheres, numa novela, seria perder a história. Viriam todos para cima de mim", afirmou Manoel Carlos, que prometeu manter as personagens, mas sem ousadias.

No mesmo levantamento, o público estava dividido quando ao futuro da protagonista Helena (Christiane Torloni): parte deles torcia para que ela ficasse com Téo (Tony Ramos), e outra parte com César (José Mayer). Também existia dúvida sobre outro tema polêmico: o relacionamento da professora Raquel (Helena Ranaldi) com o aluno Fred (Pedro Furtado) por causa da diferença de idade entre eles.

Mais perto do encerramento, Alinne Moraes comentou que a estratégia do autor deu certo. "O Manoel Carlos preparou uma armadilha para os telespectadores: fez com que as personagens os cativassem e depois mostrou que elas se amavam. Aí, as pessoas foram avaliar a situação, e o amor sincero delas venceu o preconceito", declarou em entrevista ao jornal O Globo de 14 de setembro.

No final da novela, em 10 de outubro, Maneco deu um jeito de incluir um rápido beijo entre as moças, durante a encenação de uma peça de William Shakespeare (1564-1616). O capítulo derradeiro atingiu 59 pontos de média.

Depois, a Globo teve mais um sério caso de rejeição de casal lésbico em Babilônia (2015), inclusive com grande polêmica quando foi mostrado um beijo entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, logo no primeiro capítulo da trama.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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