CEMITÉRIO NA TV
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
O ator e apresentador Miguel Falabella se despede do público na última edição do Vídeo Show
Se algumas atrações tiveram vida curta na TV em 2019, outras chegaram ao fim neste ano após uma longa história no ar e certamente deixarão sua marca em todas as enciclopédias da televisão brasileira. Entre as causas que determinaram seus encerramentos, estão queda na audiência, desgaste do formato e até mesmo o desejo de terminar no topo.
O caso mais emblemático é o do Vídeo Show, um dos programas mais duradouros e reverenciados da Globo, encerrado às pressas logo no início do ano, às vésperas de completar 36 anos no ar. O motivo? A emissora se cansou de ser derrotada pelas fofocas do quadro A Hora da Venenosa, um fenômeno das tardes da Record.
Destino mais memorável teve o Tá no Ar: A TV na TV. O humorístico criado por Marcius Melhem e Marcelo Adnet chegou ao fim depois de seis temporadas a pedido da própria equipe, que queria se dedicar a novos projetos antes de explorar o formato de paródias televisivas até a última gota.
E o cemitério de grandes atrações não recebeu apenas programas da Globo. A Cultura "contribuiu" com o Viola, Minha Viola --que até ganhou sobrevida após a morte de sua apresentadora, mas não resistiu. E a Gazeta colocou um ponto final no Todo Seu depois de trocar o tradicional horário noturno de Ronnie Von pela tarde.
Confira cinco atrações de sucesso que chegaram ao fim em 2019:
divulgação/tv cultura
A cantora Inezita Barroso (1925-2015) se tornou uma espécie de marca do Viola, Minha Viola
O programa fez história como um dos poucos a apresentar cantores de música caipira de raiz depois da explosão do gênero sertanejo, visto como mais moderno e popular. Lançada em 1980, a atração ficou muito associada à imagem de Inezita Barroso (1925-2015), sua terceira apresentadora --antes, os modões eram comandados por Nonô Basílio (1922-1997) e Moraes Sarmento (1922-1998).
Após a morte de Inezita, a Cultura começou a reprisar os melhores momentos do Viola, Minha Viola enquanto buscava um novo rosto para o programa. Lima Duarte foi convidado e chegou a topar, mas acabou não podendo assumir o musical por conta de seu vínculo empregatício com a Globo. Em 2017, Adriana Farias foi chamada para ficar à frente da atração, que não durou muito: a última edição inédita foi ao ar em 6 de janeiro. De lá para cá, apenas reprises nas manhãs de domingo.
reprodução/tv globo
Sophia Abrahão se emocionou na última semana do Vídeo Show: mais de 35 anos no ar
Em 20 de março de 1983, a Globo decidiu colocar no ar um programa no qual poderia mostrar os bastidores de suas novelas e atrações, além da intimidade dos artistas. Nascia assim o Vídeo Show, apresentado por Tássia Camargo e exibido aos domingos. De lá para cá, dezenas de nomes passaram pela bancada, o formato virou diário e quadros como Falha Nossa entraram no imaginário popular.
Com tanta história, causou surpresa o anúncio de que o Vídeo Show chegaria ao fim no início do ano. O cancelamento súbito foi escondido pela Globo em meio a um grande texto no qual anunciava todas as novidades da grade de janeiro. Um atestado de que o vespertino tinha virado a maior vergonha da emissora, com sucessivas derrotas para as fofocas de Fabíola Reipert na Record.
Curiosamente, o fim do Vídeo Show não mudou os resultados da audiência. O Se Joga, lançado em 30 de setembro como uma opção moderninha para as tardes da Globo, também virou freguês da Hora da Venenosa --e, em ocasiões dramáticas, perde até para o enlatado The Thundermans, do SBT.
reprodução/tv gazeta
Ronnie Von durou menos de quatro meses com o programa Todo Seu nas tardes da Gazeta
Uma instituição na Gazeta, onde estava desde 1999, Ronnie Von deixou a emissora em julho inconformado porque sequer teve a oportunidade de se despedir de seu público. O Todo Seu, que ele apresentava desde 2004, se tornou vítima de uma mudança do próprio canal: em 1º de abril deste ano, a Gazeta decidiu criar um grande bloco de programas femininos similares, das 10h30 às 17h50.
Com essa transformação, a atração de Ronnie, tradicionalmente exibida à noite (e com cara, cenário e formato de programa noturno), passou a ser exibida às 13h30. Na época, o ex-galã da Jovem Guarda não demonstrou muita preocupação e afirmou que, na Gazeta, o "horário nobre é à tarde". No fim, não durou nem quatro meses na nova faixa e foi demitido juntamente com Celso Zucatelli, estreante na grade.
reprodução/tv globo
Fernando Rocha saiu da Globo antes mesmo do fim do Bem Estar, que virou apenas quadro
Lançado em 2011 com a proposta de tratar de temas de saúde usando uma linguagem mais popular, o Bem Estar fez história na Globo. Colocou, por exemplo, os apresentadores Fernando Rocha e Mariana Ferrão dentro de um modelo que simulava um ânus gigante. E também virou meme quando Rocha soltou a infame piada do encontro da clara com a gema dentro de um bolo.
Apesar de não ter sido um fenômeno de audiência, o matinal ganhou sobrevida porque tinha fila de anunciantes dispostos a participarem das pautas do programa. Nem isso foi suficiente: Rocha foi dispensado no fim de fevereiro (apesar de ter contrato com a Globo até agosto) e Mariana decidiu não renovar com a emissora menos de um mês depois. Michelle Loreto assumiu o formato, que deixou de ser programa em 5 de abril e virou um mero quadro do Encontro e do É de Casa.
reprodução/tv globo
Elenco do Tá no Ar se reúne em cena do último episódio do humorístico: seis anos de sucesso
Único acerto de Marcelo Adnet na Globo até o momento, o Tá no Ar chegou ao fim em abril deste ano, depois de seis temporadas de muita repercussão --tanto positiva quanto negativa. O humorístico irritou religiosos com paródias como a Galinha Preta Pintadinha e atacou políticos ao denunciar a corrupção em Brasília, mas também fez a diversão dos telespectadores com números musicais e piadas nonsense.
O programa ainda teve liberdade para falar de outras emissoras --homenageou de Carlos Alberto de Nóbrega a João Kleber, por exemplo, e botou Silvio Santos (na verdade, uma imitação de Adnet) para cantar os mais variados hits do momento. Também remontou a vila do Chaves, em uma crítica ao governo de Jair Bolsonaro.
Apesar de estar em um bom momento criativo, e com médias de audiência decentes (não chegou a ser um fenômeno, mas também não fracassou), a equipe do Tá no Ar preferiu encerrar o programa no auge. Em 2020, parte dos roteiristas e do elenco estarão no Fora de Hora, uma paródia de jornalístico que deve suprir essa lacuna.
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