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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Boris Casoy voltou à faculdade para fugir da depressão: 'Sem tempo para morrer'

DIVULGAÇÃO

Boris Casoy em seu escritório e cenário do Jornal do Boris, no YouTube

Boris Casoy em seu escritório e cenário do Jornal do Boris, que ele comanda no YouTube

ELBA KRISS

elba@noticiasdatv.com

Publicado em 5/9/2021 - 7h00

"Não tenho tempo para morrer". Foi com esse pensamento que Boris Casoy se tornou calouro de Medicina Veterinária aos 80 anos. O sonho antigo foi retirado da gaveta para evitar que o jornalista caísse no que chama de "caminho da depressão". Fora da televisão, ele se viu desgostoso com as horas livres que ganhou. "Comecei a entrar em parafuso. Falei: 'Isso não está bom. Vou caminhar para a melancolia'", revela.

Assim, desde o mês passado, a agenda dele é dividida entre o Jornal do Boris, que ele comanda no YouTube pela manhã, o trabalho como dono do próprio canal na plataforma durante a tarde e as aulas --ainda virtuais por causa da pandemia-- no período noturno, na Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. Cansativo para alguém da terceira idade?

"Vivo de desafios. Televisão foi um desafio. Fazer um jornal na internet também é um desafio. A partir do vestibular, já respirei melhor. Estava com tempo vago. Vou me formar veterinário aos 85 anos. Sempre sonhei em ser veterinário. Tenho uma relação boa com os animais. Tenho um deslumbramento por eles", compartilha.

Boris Casoy e Neguinha, sua pet: jornalista cursa Medicina Veterinária (Foto: Divulgação)

Em entrevista ao Notícias da TV, ele conta que está pronto até para ser um futuro estagiário de Veterinária. Afinal, o curso exige aprendizado prático na área. "Se eu estiver vivo até lá, faço (risos)", diverte-se. Na casa do veterano, quem reina é Neguinha, sua cadela adotada sem raça definida.

Casoy é dono do bordão mais famoso do jornalismo brasileiro. Nos anos 1980 e 1990, a frase "isso é uma vergonha" o consagrou à frente do TJ Brasil (1988-1997), no SBT. Desde então, fez e viu de tudo na profissão. No último ano, enfrentou a pandemia e se viu isolado em casa. Mas não deixou de trabalhar, pois fazia boletins diários para a RedeTV!.

A crise da Covid-19, no entanto, o atingiu em cheio. Em setembro do ano passado foi demitido da emissora de Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho. No mês seguinte, estreou seu canal no YouTube, no qual passou a comandar o próprio noticiário. "Acabo de atingir 100 mil inscritos", comemora. A empreitada completa um ano em outubro.

O Jornal do Boris --retransmitido pela TV Gazeta-- é uma homenagem ao programa O Trabuco (1962-1978), da Rádio Bandeirantes, que lia as manchetes do dia. Em sua atração, o youtuber também comenta as principais notícias dos jornais (impressos e online).

Símbolo do jornalismo opinativo, ele lamenta que a imprensa passe por uma fase grave de adversidades. Para ele, a rixa de Jair Bolsonaro com os profissionais da área é um dos pontos que movimenta a atual aflição. "Ninguém cava mais a sua sepultura do que o presidente. Ele ajuda as emissoras a fazerem oposição", opina.

Com 65 anos de carreira, o âncora também teve tropeços em sua trajetória. Das poucas amargas lições que teve no ofício, ele se arrepende do episódio em que ofendeu garis no ar. Em 31 de dezembro de 2009, quando estava na bancada do Jornal da Band, o telejornal exibiu uma vinheta com dois profissionais desejando boas festas.

reprodução/YouTube

Casoy em seu Jornal do Boris de quinta-feira (2)

Uma falha técnica fez com que o telespectador ouvisse um comentário do comunicador. "Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho", disse. A gafe repercutiu. Na época, ele se retratou publicamente e considerou sua frase "infeliz".

Não bastou. A polêmica foi parar na Justiça, com o apresentador sendo alvo de processos por ter ofendido os trabalhadores e a classe. "Uma consideração que fiz, da qual eu me arrependo. Da qual pedi desculpas", relembra. Em um dos imbróglios, ele foi condenado a pagar R$ 60 mil a um dos garis.

No âmbito judiciário, ele também enfrentou outras batalhas. Em 2013, foi insultado por Jorge Kajuru. Quando ainda não era senador, o artista havia dito em suas redes sociais que Casoy era "racista, fascista e pedófilo".

O jornalista foi à Justiça. E somente em 2020 a questão teve o prenúncio do desfecho. "Ele foi condenado em primeira instância num processo criminal. Há um outro processo cível e estamos tocando", entrega.

Ossos do ofício. Agora e nos próximos anos, o veterano quer se preocupar apenas com sua nova rotina de estudante de Veterinária. Casoy espera ser inspiração para os idosos. Para ele, o ócio é um perigo.

"A pessoa se deprime, fica doente e começa a pensar bobagem, a fazer retrospectiva triste. Se você tem uma ocupação, não tem tempo para bobagem. Como já disse: eu não tenho tempo para morrer", finaliza.

Leia entrevista exclusiva com Boris Casoy:

Notícias da TV - Eu sei que você já deve ter contado isso inúmeras vezes. Mas é sempre bom ouvir de novo. Como surgiu o bordão 'isso é uma vergonha'?
Boris Casoy - Surgiu sem querer. Eu estava no TJ Brasil [1988-1997], no SBT, o primeiro telejornal que apresentei. Houve a transmissão de uma reportagem sobre um pronto-socorro no Recife. O pronto-socorro estava --não muito diferente dos prontos-socorros de hoje-- cheio de problemas, com gente espalhada pelo chão, falta de remédios e tudo isso. Nós vivíamos o final do regime militar [1964-1985], e não era hábito das emissoras de televisão cobrir esse tipo de acontecimento. Aquela reportagem era longa e detalhada. Eu não tinha visto antes e comecei a ficar indignado. E me veio à cabeça [a lembrança] de uma pequena rede de emissoras do meio oeste norte-americano. Quando John F. Kennedy [1917-1963] foi assassinado, ela parou de transmitir a programação e colocou no ar um enorme letreiro escrito 'shame', ou seja, vergonha. Aquilo me veio à cabeça.

Quando a câmera abriu para mim, quase por impulso, eu disse três vezes: 'Isso é uma vergonha!'. O sentido era de indignação. Não tem nenhum sentido moralista. Quando terminou o jornal, uma pessoa importante do SBT me esperava na porta e disse: 'Boris, você tem que tomar cuidado com algumas coisas. Você agrediu o telespectador. Você estava em close, só o seu rosto no ar, e você entrou na casa do telespectador com essa frase, isso é uma vergonha. Isso é uma agressão'. Falei: 'Putz, estrepei o Silvio Santos. Estrepei a emissora dele'. Quando entramos na Redação, os telefones estavam estourando. As pessoas estavam ligando e a grande resposta a isso era o seguinte: 'Você interpretou o grito que estava entalado na minha garganta'. Aquilo representou a indignação das pessoas. Logo depois me propuseram fazer um programa chamado Isso É Uma Vergonha. Eu não quis.

divulgação

Boris Casoy no TJ Brasil, no SBT

E teve um episódio mais recente com o Carioca [Marvio Lucio], o humorista. Ele decidiu fazer uma caricatura, uma imitação minha e repetiu duas coisas: o 'isso é uma vergonha' e o 'boa noite'. Eu passo num shopping ou em algum lugar, e alguém atrás me diz: 'Isso é uma vergonha'. Ou grita: 'Boa noite'. Essa é a história do 'isso é uma vergonha'. Uma frase de indignação, que eu uso com muita moderação. Uma frase que não pode ser desgastada. Evito brincar com ela porque continua representando a indignação da população ante determinados fatos.

Notícias da TV - E porque você não aceitou fazer o programa chamado Isso É Uma Vergonha?
Boris Casoy - Senti que o 'isso é uma vergonha' estava bem encaixado no telejornal. Às vezes, não haveria uma coisa disponível para dizer 'isso é uma vergonha'. Eu teria que forçar, me impor uma obrigação de todo dia dizer 'isso é uma vergonha' ante fatos que nem sempre representariam essa indignação. Pensei assim e acho que acertei. Não quis vulgarizar [a frase]. [O convite] era de uma emissora voltada para o público classe B e C, e achavam que isso iria entusiasmar. Mas decidi não fazer.

Notícias da TV - Boris, quando você era foca [novato], você imaginava que estaria na ativa aos 80 anos?
Boris Casoy - Olha, eu fazia rádio. Comecei com 15 anos. Rádio era uma realização e, ao mesmo tempo, eu ganhava dinheiro. Ganhava o que na época era o salário mínimo: eram Cr$ 3.700 [Cruzeiros]. Dava todo o dinheiro para a minha mãe. Televisão era um instrumento distante de mim. Meu futuro estava calcado no curso de Direito, que acabei não terminando. Cheguei no quinto ano e tranquei a matrícula. A vida me conduziu por outros caminhos, pelo Jornalismo. Eu fazia o curso com prazer, mas gosto de outras coisas também.

divulgação

Boris Casoy no início da carreira

Por exemplo, comecei a cursar Veterinária, que era um velho sonho. Sou um aluno de Medicina Veterinária na Universidade Cruzeiro do Sul. E as aulas já começaram. Vou, aos 85 anos, me formar veterinário. Sempre sonhei em ser veterinário. Tenho uma relação boa com os animais. Tenho quase um deslumbramento por eles. Então, estou fazendo Veterinária à noite.

Notícias da TV - Estamos sabendo. Parabéns pela faculdade, curso e iniciativa. Como foi prestar vestibular, se preparar para uma prova, fazer o teste e agora estudar aos 80 anos?
Boris Casoy - Olha, não era o vestibular da USP (Universidade de São Paulo). É um vestibular com uma concorrência por vagas muito pequena. Fiz à distância. Claro, é uma avaliação de nível e constava apenas de uma redação, que ainda consigo fazer (risos). [A nota] era de 1 a 5. Eu tirei 4,5.

Notícias da TV - Você falou que gosta de animais. Tem paixão por cachorros ou algum animal específico?
Boris Casoy - Nutro uma admiração grande pelos animais. O animal me encanta. Envolve até: 'Quem será que construiu tudo isso? Que funcionamento fantástico! Como é que isso se desenvolveu?'. É o grande mistério da vida, e isso me motiva. Encontro nos animais todos a maneira de admirar, de usufruir com o belo que isso oferece e de pesquisa para saber como funcionam os seres humanos.

Tenho uma cachorrinha, que é a figura principal da minha casa mesmo. É a Neguinha. É [um nome] politicamente incorreto. Já me disseram: 'Como é que você dá esse nome?'. Ela já veio com esse nome. Eu adotei a Neguinha.

Notícias da TV - Com as aulas virtuais, teve aquela coisa de abrir a câmera para a sala?
Boris Casoy - Evidentemente, num curso de Veterinária, fui alvo de uma curiosidade zoológica. Queriam me ver (risos). Teve um pouco de tietagem e brincadeira. Mas isso passa. É o começo. Teve um movimento lá de: 'Como é que é esse bicho?' (risos).

Notícias da TV - Tem previsão de quando vai começar a ter aulas presenciais?
Boris Casoy - Não sabemos quando as aulas vão começar presencialmente. Estou preparado e louco para ser presencial. Já tenho o número de sala, sei onde é, conversei com o pessoal da faculdade e sei onde é o estacionamento (risos). Tem uma série de coisas que vou reviver da minha vida acadêmica. Quer saber? Eu já tinha desistido [de voltar a estudar]. Falei: 'Ah, não dá, né? Com 80 anos?'. Na [minha] sala, uma senhora falou: 'Perdi o meu reinado de ser a mais velha da classe' (risos).

Notícias da TV - Já ouvi de ex-estudantes de Veterinária, que desistiram do curso quando tiveram que estudar anatomia do animal em cadáveres. Você está pronto para esse tipo de aula?
Boris Casoy - Estou pronto. Não tenho dúvida de que gosto, conheço e sei o que é Veterinária. Não vou me decepcionar com o curso nem com a vocação. O que pode acontecer é não conseguir fazer por falta de preparo e base. Por enquanto, estou entusiasmado. Se eu sentir que não há condições mentais, físicas ou mesmo de capacidade de aprendizado, deixo o curso. Mas vou tentar e me esforçar. Essa possibilidade que deixo em aberto não vai ser desculpa para deixar o curso. Por enquanto a minha mente ainda funciona (risos).

Notícias da TV - Vai chegar o momento de estagiar. Você tem planos para isso?
Boris Casoy - Se eu estiver vivo até lá, faço (risos). Mas não estou preocupado com isso. Quero queimar essas etapas de dar a partida. O tiro inicial que estou dando para ver se resisto.

Notícias da TV - Como é o Boris aluno?
Boris Casoy - Levei um susto com o livro de Bioquímica básica. Já entrei num site e vou rever Química básica. Vivo desafios. Televisão foi um desafio. Fazer um jornal na internet também é um desafio. A partir do vestibular, já respirei melhor. Estava com tempo vago. Fazia o jornal de manhã. À tarde lia e via um filme. Caminho da depressão.

reprodução/notícias da tv

Boris Casoy cursa Veterinária

Notícias da TV - Você falou que estava sobrando tempo. A faculdade foi para preencher esse vazio?
Boris Casoy - Tenho a manhã inteira ocupada pelo meu jornal [no YouTube] e pelos meus afazeres. Uma série de coisas relativas ao jornal e à minha vida pessoal. À tarde, eu estava me dedicando ao lazer. Dava uma dormidinha, pois acho bom dormir depois do almoço. Mas a dormidinha se prolongou. Eu assistia a um pouco de televisão, lia alguma coisa e via o noticiário. Na hora do jantar, lia os jornais melhor. Isso começou a ser repetitivo e enjoativo.

O que começou a acontecer? No sábado e domingo, comecei a entrar em parafuso e sem objetivo. Uma pessoa que tinha uma atividade intensa como a que tinha na televisão. Falei: 'Isso não está bom. Vou caminhar para a melancolia, para um processo depressivo'. Então: 'Opa, Veterinária'. Entrei no computador e falei: 'Deixa eu ver onde tem [curso] à noite, reconhecido pelo MEC [Ministério da Educação] e presencial'. Dei uma espiada, encontrei e fui em frente. Eu não tenho tempo de morrer.

Notícias da TV - Boris, na televisão, você foi o pioneiro nessa questão de dar opinião no ar. Você tem consciência que fez história no jornalismo do Brasil?
Boris Casoy - Cada vez mais as pessoas me convencem disso. Comecei a olhar para trás e acho que fiz alguma coisa. Você chega aos 80 anos e começa a fazer uma revisão da sua vida, dos seus erros e acertos. Acho que servi a sociedade. Cumpri e tenho cumprido o que suponho que é uma função social. Isso dá uma massageada na alma. Mas não me considero nenhuma pedra preciosa.

Notícias da TV - E como você encara o jornalismo hoje em dia, como espectador e profissional?
Boris Casoy - O jornalismo no Brasil está vivendo um momento de crise. É uma crise econômica, uma redução de investimento grande. Os jornais e as emissoras de televisão e de rádio foram obrigados a abrir mão de pessoas talentosas. Muitos escolheram os cortes de talentos e salários melhores como critério para abrir mão dessa gente. A RedeTV!, no meu caso. Eu tinha um salário que eles consideravam alto e estava em casa fazendo um comentário por dia. Enfim, acabei saindo e outras pessoas foram vítimas disso. Além disso, vivemos uma crise política que antecede essa crise [econômica], com o Bolsonaro ameaçando isso e aquilo.

A crise tem muito a ver com essa questão da divisão do país. Sei que fica difícil manter uma certa independência. Vou dizer uma palavra: uma certa imparcialidade. Fica difícil. Isso é agravado nesse instante no Brasil porque, em face dos acontecimentos, alguns jornais e emissoras tiveram que tomar posições, que não seriam naturais se estivéssemos num momento normal da vida do país.

Vou citar o caso a Globo, que tem a sua sobrevivência ameaçada pelo próprio presidente da República. Ele mostra claramente e diz que vai procurar dificultar a renovação da concessão da Rede Globo. Então, a Rede Globo reage. O presidente ameaça a Folha de S.Paulo, a Folha reage. Há um sentido grande de oposição. Essa oposição não é motivada só por essa razão das ameaças presidenciais. Também é muito ajudada pelo próprio presidente. Ninguém cava mais a sua sepultura do que o presidente Bolsonaro. Ele ajuda as emissoras a fazerem oposição. Assim mesmo, sei que há uma luta pela preservação dos órgãos de imprensa.

Notícias da TV - Sobre os canais de notícias, temos a CNN, grande novidade dos últimos tempos. Lá tem o Alexandre Garcia, que vem sendo criticado pelas opiniões que dá no ar. Eu queria saber se você acompanha esses novos veículos e esses colegas de profissão.
Boris Casoy - Acompanho, claro. Comparo e preciso ver o noticiário. Acho a CNN uma conquista. Ela também é vítima da crise. Mas não quero criticar. O Alexandre Garcia fala o que quiser. Ele é um jornalista importante e tem um contingente enorme de admiradores e inimigos, porque tem uma posição ideológica. E as pessoas que têm acesso a grande parte da comunicação não gostam da posição ideológica dele.

Mas, enfim, ele é um bom profissional de imprensa. Não vou fazer julgamento. O julgamento profissional? Ele escreve bem, ele fala bem. Julgamento ideológico? Desde que você fundamente bem, raciocine direito, não seja corrupto e não esteja à venda, acho que não me cabe fazer nenhuma consideração sobre nenhum jornalista; inclusive, o Alexandre Garcia.

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Boris Casoy no estúdio da RedeTV!

Notícias da TV - Como espectador, você acha que há profissionais mais desinformando do que informando?
Boris Casoy - Também. Cada órgão é um órgão. Num todo, não acho que a imprensa brasileira está desinformando. As redes sociais, blogs e tudo isso [talvez]. Acho que a imprensa brasileira é, basicamente, séria e quer acertar. Você escolhe o seu jornal. Os jornais têm um grande concorrente que são os sites. Vejo que os jornais estão procurando ir para a área opinativa. Enfim, o mercado escolhe. Você escolhe o seu jornal e a sua rádio. Tem gosto para tudo.

Há um esforço nas redações. Nem todas erram. Muitas vezes, algum reizinho diz: 'Não vamos dar essa reportagem: Bolsonaro inaugurou uma ponte de 18 metros de madeira. Não vamos dar essa reportagem'. Outro diz: 'Ele inaugurou uma ponte de 18 metros e gastou R$ 700 mil. Parece uma bobagem'. E outro vai dizer: 'O presidente inaugura uma grande obra, que era uma reivindicação da sociedade local de 200 anos. Veja só: uma ponte de madeira de lei de 18 longos metros'. É a maneira que cada um vê. Sinto que a busca da precisão tem sido feita. Os dirigentes e as cúpulas das redações que conheço são de bom nível.

Notícias da TV - Boris, em outubro você completa um ano de YouTube. Como foi esse último ano como youtuber? Está dando para ganhar dinheiro?
Boris Casoy - Não. Está se pagando. Mas não fui ao mercado ainda. Estou me preparando para ir. Acabo de atingir 100 mil inscritos no YouTube e há mais de 50 mil que nos acompanham no Facebook. Estou cobrindo as despesas com os meus gatos pingados. E vou ter um produto vigoroso para ir ao mercado.

Notícias da TV - Mas a intenção é lucrar um pouco?
Boris Casoy - Claro. Por que não? Não fiz voto de pobreza (risos).

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Casoy no cenário do Jornal do Boris

Notícias da TV - Nesse meio tempo, depois da sua saída da RedeTV! e o investimento no YouTube, algum outro canal de procurou?
Boris Casoy - Olha (risos), não quero avançar porque são coisas sigilosas. Já fui procurado por televisão, internet e rádio. Não me interessou. Agora, o campo se estreitou mais porque se alguém me convidar para fazer um telejornal à noite --até algum tempo atrás, poderia ter aceito-- mas agora a minha prioridade está no Jornal do Boris e no estudo de Veterinária. Enquanto [o curso] durar, não vou abrir mão para fazer nada.

Tem [convites de] rádios. De repente, pego alguma coisa, pois gosto de fazer também. Não afasto a hipótese. Se você dirigir uma emissora de TV ou rádio, olha e fala: 'Esse cara tem 80 anos. Vamos contratar um cara mais jovem, uma moça bonita, um cara bonito. Esse cara tá velho e gasto'. Tem esse pensamento. É um preconceito (risos). A vida é assim. Mas se as pessoas estão me procurando, isso também massageou a minha alma. Estou vendo que não estou tão fora das cogitações. E vou contemplar possibilidades. Estou analisando com carinho algumas que já apareceram.

Notícias da TV - Em 65 anos no jornalismo, você já se arrependeu de alguma fala sua, algum comentário na bancada ou fora da bancada?
Boris Casoy - Já me arrependi e já cometi gafes. Teve uma --entre aspas-- gafe, em que se imaginou que o estúdio estava desligado e era impossível as coisas saírem daquele local. Vazou o episódio dos garis. Soltei uma frase besta, que normalmente não falo. Foi uma piadinha besta. Todo mundo deu risada. Aquilo vazou. Me disseram que tentaram me cancelar --naquela época não se chamava cancelar. Tentaram me boicotar. Não aconteceu. A minha audiência subiu. Todo mundo queria ver quem era aquele idiota que tinha dito isso. Uma consideração que fiz, da qual eu me arrependo. Da qual pedi desculpas. Acho que naquele dia, era 31 de dezembro, satanás estava presente no estúdio da Band.

Notícias da TV - Esse episódio foi parar na Justiça. Já se encerrou?
Boris Casoy - A Band cuidou de tudo e me deu todo o apoio. O Johnny Saad veio da sala dele, me deu todo o apoio o tempo todo. Houve vários processos, em várias partes do Brasil. Tenho a impressão de que o episódio, sob o aspecto judicial, está encerrado.

Boris Casoy como editor-chefe da Folha

Notícias da TV - Por falar em Justiça, como ficou o caso do Jorge Kajuru? Teve o processo de injúria e difamação que você moveu contra ele. Como ficou essa história?
Boris Casoy - O episódio do Kajuru está sub judice. Ele foi condenado em primeira instância num processo criminal. Há um outro processo cível e estamos tocando. E pronto. Estou respondendo com as armas democráticas. Usando os métodos que a Justiça permite para reagir.

Notícias da TV - Boris, 80 anos, youtuber, e, agora, estudante de Veterinária. O segredo da vitalidade é trabalhar?
Boris Casoy - É um dos [segredos]. A expressão que uso é: ter uma atividade. Se alguém da terceira idade não tiver condições ou não quiser ter emprego, vai ser voluntário. Faça alguma coisa. Seja útil e sinta-se útil. Se você me perguntar se eu gostaria de me recostar numa praia e ficar em Ibiza [Espanha] olhando para o mar, eu gostaria. Mas em dois meses começo a enlouquecer. A gente é acostumado a trabalhar. Seu cérebro não aguenta.

Tem uma história que não sei se é verdadeira ou uma lenda: as pessoas que se aposentam e ficam paradas morrem logo. Acho que tem a ver, porque a pessoa se deprime, fica doente e começa a pensar bobagem, a fazer retrospectiva triste. Se você tem uma ocupação, não tem tempo para bobagem. Como já disse: eu não tenho tempo para morrer.

Confira os destaques da entrevista de Boris Casoy ao Notícias da TV:


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