DENTRO E FORA DA TV
REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY E NETFLIX
Osvaldo Marcineiro teve sua redenção após documentário; João de Deus voltou para a cadeia
O interesse do público por crimes reais de grande repercussão é um filão há muito explorado em filmes e séries, sejam eles documentários ou dramatizações. E uma característica curiosa desse gênero é a capacidade de transformar a própria repercussão em novos desdobramentos e mais conteúdo. No streaming, há exemplos de produções que geraram comoção e fizeram com que investigações reais tomassem outro rumo após o lançamento.
João de Deus - Cura e Crime chegou em agosto ao catálogo da Netflix, e o caso real sobre o médium acusado de estupro contado no documentário teve uma reviravolta apenas um dia após o lançamento, com a volta do condenado à cadeia. Caso Evandro, série lançada em junho no Globoplay, também mudou a vida dos envolvidos e resultou em um episódio extra com a redenção de um dos condenados após 20 anos do desaparecimento do garoto em Guaratuba, Santa Catarina.
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A narrativa se esforça para balancear os testemunhos chocantes das sobreviventes dos abusos com depoimentos daqueles que ainda acreditam que todas as denúncias partiram de uma armação. Entre os dois universos, aparecem aqueles que defendem a teoria de que João de Deus tinha, sim, poderes mediúnicos --e curou muitas pessoas-- antes de a perversidade de seu lado humano tomar conta.
A produção da Netflix, lançada no último dia 26, faz um relato detalhado da trajetória do homem acusado de molestar sexualmente centenas de mulheres que visitaram seu centro espírita em busca de cura. O último dos quatro episódios, intitulado Justiça?, deixa um gosto amargo na boca de quem sentiu empatia pelas vítimas. Na época em que a produção foi finalizada, João Teixeira de Faria havia conseguido permissão para cumprir prisão domiciliar e não estava mais na cadeia.
O ex-médium ficou na prisão entre dezembro de 2018 e março de 2020, quando conseguiu o benefício e foi para casa. Um dia depois do lançamento do documentário, no entanto, uma reviravolta: João de Deus voltou para o presídio de Anápolis, em Goiás, após o Ministérios Público apresentar a 15ª denúncia contra ele, desta vez por estupro de vulnerável.
O documentário baseado no podcast sobre o desaparecimento do menino Evandro Ramos Caetano, de seis anos, em 1992, mexeu com os nervos do público e resultou em momentos de tensão fora da tela. O Globoplay optou por liberar dois episódios por semana e testou a paciência (ou falta de) do tribunal da internet.
Os primeiros relatos mostrados na série fizeram muitos acreditarem que Celina e Beatriz Abagge foram as responsáveis por matar o garoto de Guaratuba para cumprir um suposto ritual macabro. Mãe e filha sofreram ataques nas redes sociais antes de o documentário, nos capítulos seguintes, apresentar provas contundentes de que elas tinham sido vítimas de tortura, o que resultou nas falsas confissões de culpa na época.
O menino Evandro nunca foi encontrado, mas a injustiça sofrida por Celina e Beatriz Abagge ganhou desdobramentos após a série entrar completa na plataforma de streaming.
O Globoplay, inclusive, produziu um episódio extra com o emocionante relato de Osvaldo Marcineiro, a única das vítimas de tortura que não havia dado seu depoimento. O homem que teve sua vida destruída pela acusação de infanticídio se sentiu acolhido após a repercussão do documentário e da tardia reviravolta no caso.
reprodução/netflix
Gerry e Kate McCann em busca da filha
O sumiço da britânica Madeleine McCann é um dos mistérios mais longevos e que ainda figura nos noticiários de todo o mundo. Há 14 anos, a história intrigante da garotinha que desapareceu de um resort na região de Algarve, em Portugal, às vésperas de completar quatro anos de idade está sem solução.
A Netflix contou em oito episódios, lançados em 2019, o martírio de Kate e Gerry, pais da menina, que chegaram a ser acusados de negligência no caso. A polícia portuguesa encerrou a investigação 14 meses depois do sumiço, sem uma resposta para o paradeiro de Madeleine. O caso foi reaberto cinco anos depois.
Em junho de 2020, no ano seguinte ao lançamento da série documental, a Scotland Yard apontou um novo rumo para a investigação com a descoberta de um suspeito: um homem de nacionalidade alemã, de 43 anos, acusado de pedofilia, e que vivia na região na época em que a família McCann passava férias em Portugal. Apesar das novas evidências, Madeleine ainda é considerada desaparecida.
divulgação/netflix
Steven Avery preso por assassinato
A série sobre a condenação de Steven Avery e Brendan Dassey pelo assassinato de Teresa Halbach provocou tanto barulho após seu lançamento que se misturou ao caso, tornando-se praticamente um reality show criminal.
Em dezembro de 2015, a Netflix contou em dez episódios a história da investigação que levou tio e sobrinho a serem acusados e presos. O documentário deu detalhes perturbadores de todo o inquérito, e sua narrativa deixou o público dividido: a dupla é culpada ou foi vítima de uma injustiça?
Os defensores da inocência de Avery e Dassey criaram uma petição na tentativa de conseguir o perdão do presidente Barack Obama e acumularam 130 mil assinaturas no mês de lançamento da série. A Casa Branca, no entanto, não atendeu à apelação. "Segundo a Constituição, apenas condenações de crimes na esfera federal podem ser perdoados pelo presidente", dizia um trecho do texto divulgado, sobre o crime julgado pelo Estado de Wisconsin.
O fenômeno se tornou um sistema de retroalimentação, e a repercussão rendeu material suficiente para a produção de uma segunda temporada, lançada em 2018. Nos novos episódios, a série pegou carona na comoção popular gerada pela primeira leva e acompanhou o trabalho da advogada Kathleen Zellner, que assumiu o caso disposta a conseguir uma reviravolta na Suprema Corte dos Estados Unidos.
Com o caso ainda em andamento, a gigante do streaming já confirmou a terceira temporada, desta vez centrada em um novo elemento: um presidiário que teria confessado o crime pelo qual tio e sobrinho foram presos.
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