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DIREITA OU ESQUERDA?

Pantanal afugenta bolsonaristas? Novos discursos dão nó na cabeça dos 'gados'

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Marcos Palmeira como José Leôncio em Pantanal; ele está em cima de um cavalo tocando o berrante junto à boiada

O fazendeiro José Leôncio (Marcos Palmeiras) toca o berrante para os gados na novela Pantanal

ARTHUR PAZIN

arthurpazin@noticiasdatv.com

Publicado em 14/7/2022 - 6h35
Atualizado em 14/7/2022 - 8h35

No ar em ano de eleições presidenciais e com assuntos políticos pipocando nas redes sociais, Pantanal também tem sido alvo de polarização. Apesar de estar longe de afugentar os bolsonaristas, a novela das nove da Globo acumula discursos progressistas que, mesmo presentes na versão original, têm servido para dar nó na cabeça dos "gados", como são apelidados os defensores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O berrante de José Leôncio (Marcos Palmeira), um dos protagonistas da trama de Bruno Luperi, conseguiu atrair para frente da TV muita gente que se diz "anti-Globo" e boicota dia e noite a emissora por conta de sua oposição crítica ao chefe do Executivo, sua família e seus aliados.

Isso graças a temas adoráveis para o perfil dos seguidores do "mito", como o cenário rural e assuntos ligados ao agronegócio, grande reduto do atual presidente. Além de conter falas consideradas e ostentar em seu elenco artistas que já apoiaram publicamente condutas do atual governo, como Juliano Cazarré e Guito, intérpretes, respectivamente, de Alcides e Tibério.

Outros elementos também colaboram para esta atração ao folhetim: tem cantoria com moda de viola e personagens com raízes mais conservadoras, além do fato de ser um remake bastante fiel a uma época com menos direitos e representatividade, o que carrega em si a identificação com este tempo saudoso para alguns.

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Bicho morto em incêndio de Pantanal (2022)

Bicho morto em incêndio de Pantanal (2022)

Na novela pode?

Apesar de reunir temáticas apreciadas da direita brasileira, Pantanal tem trazido para a história discussões que acabam indo na contramão das narrativas de quem discorda as chamadas "questões identitárias", presentes na trama tanto pela escalação do elenco, como pela abordagem na história do folhetim.

Exibida desde março, a novela já descaracterizou o machismocom direito a "palestrinhas" de Guta (Julia Dalavia) em defesa de Jove (Jesuita Barbosa), apontado mais de uma vez como gay por não carregar o perfil rústico dos moradores da fazenda.

A questão ambiental, alvo de crítica constante da oposição ao governo de Jair Bolsonaro, que chegou até a perder o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles em meio a investigações de fraudes ambientais, não passa batida na novela das nove.

O chalaneiro Eugênio (Almir Sater) já entoou discurso contra as queimadas nas matas, e, no final de junho, a trama chocou o público ao exibir imagens reais de incêndio no Pantanal, com direito a bichos mortos e o Velho do Rio (Osmar Prado) agonizando.

Nos últimos capítulos,  a discussão do assédio ganhou força com a tentativa de estupro de José Lucas (Irandhir Santos) a Juma (Alanis Guillen). O machão recebeu a lição sendo atacado por Maria Marruá (Juliana Paes) em forma de onça, além de ser repreendido pelo Velho do Rio.

No Brasil, a importunação sexual é crime, mesmo diante de situações em que condutas abusivas são encaradas como "mimimi" por alguns.

Tema muitas vezes encarado como "esquerdista" para bolsonaristas, o racismo também se faz presente nas discussões de Pantanal. Neste mês, Zuleica (Aline Borges) acusou Tenório (Murilo Benício) de tratar Guta de forma diferenciada dos irmãos por ser branca. "Não é piada, não é frescura. É preconceito!", ensinou a enfermeira.

E o que falar da homofobia? Preconceito naturalizado pelo próprio presidente e escudo feroz de seus seguidores como defesa da família tradicional, a homofobia ganhou força nesta versão de Pantanal com o empoderamento de Zaquieu (Silvero Pereira).

O mordomo, que ainda não virou definitivamente um peão da fazenda dos Leôncio, terá um novo olhar para a questão LGBTQIA+ no remake da obra de Benedito Ruy Barbosa. Ao sofrer com a resistência e o preconceito dos peões, a novela corrige os erros do passado e troca a chacota ao personagem por uma importante discussão acerca da diversidade.

Escrita por Benedito Ruy Barbosa, a novela Pantanal foi exibida em 1990 pela extinta Manchete (1983-1999). O remake da Globo é adaptado por Bruno Luperi, neto do criador da saga rural, e ficará no ar até outubro.



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Ouça "#109 - Velho do Rio leva mensagem bombástica a Juma em Pantanal!" no Spreaker.


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