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NOVOS TEMPOS

30 anos de machismo? O que Pantanal precisa mudar para remake fazer sucesso

DIVULGAÇÃO/TV MANCHETE

Atores Cristiana Oliveira e Marcos Winter se abraçam em cena de Pantanal

Cristiana Oliveira e Marcos Winter na novela Pantanal (1990); trama ganhará remake na Globo

Em Pantanal (1990), Marcos Winter interpretou Jove, um rapaz rejeitado pelo pai, José Leôncio (Cláudio Marzo), que o achava "afeminado". Aos poucos, o personagem se adaptou à vida pantaneira e impressionou ao torna-se um "legítimo" peão, em uma história com tintas de machismo. Passados 32 anos, a novela ganhará um remake na Globo e chegará como uma grande aposta da emissora. Entretanto, da exibição original da novela de Benedito Ruy Barbosa para cá, o mundo mudou, o que suscita a pergunta: o folhetim precisa mudar muito para fazer sucesso hoje em dia?

Para Leonardo de Sá Fernandes, dramaturgo e pesquisador do Centro de Estudos da Telenovela (CTVN) da Universidade de São Paulo, a novela precisará passar por algumas atualizações, como no caso da própria trama do protagonista.

"Acho que tem alguns tópicos que precisariam ser analisados e reavaliados a algumas pautas que estão ocupando o debate público contemporâneo. Tudo isso [temas da novela] talvez servisse muito bem nos anos 90. Acho que ainda serve hoje em dia, mas com certeza com uma nova abordagem", destaca.

Fernandes cita, por exemplo, o fato de que o personagem será interpretado por Jesuíta Barbosa na nova versão da novela, um ator que ao longo de sua trajetória artística tem buscado um debate sobre questões de gênero e padrões de masculinidade.

Esse debate vai ter que ser feito à luz das questões sobre identidade de gênero, diversidade, todas as multiplicidades que estão postas com o protagonismo da população LGBTQI+. Acho que se esse debate for colocado na novela, precisa ser atualizado, aprofundado. Ele não poderá ser feito de uma maneira tão rasa quanto talvez fosse feito nos anos 90, somente dizer que o personagem é 'afeminado'. Outras coisas teriam que ser problematizadas.

O escritor Aimar Labaki, autor da novela Paixões Proibidas (2006), da Band, e colaborador em Órfãos da Terra (2019), concorda que uma novela precisa estar galgada na realidade em que é exibida. Ao mesmo tempo, ele destaca que é possível que haja personagens que destoem de valores atuais para se discutir assuntos relevantes.  

"Qualquer novela contemporânea sempre deve estar sintonizada com os valores de seu momento específico. Mesmo quando se trata de uma novela de época. Uma personagem machista pode e deve existir --para que se discuta o machismo", frisa o novelista. 

Segundo ele, para a nova Pantanal atrair novos espectadores, que não viram e portanto não possuem a lembrança afetiva da primeira versão, ela precisa justamente "estar sintonizada com os valores e a realidade dos dias que correm".

Nostalgia

Por falar em memória, Leonardo de Sá Fernandes aposta que o investimento da Globo em Pantanal está sustentado justamente na percepção de que o público tem uma relação nostálgica com o folhetim, que fez um estrondoso sucesso quando foi exibido. 

Originalmente sugerido por seu autor para a Globo, o projeto nunca foi aprovado pela emissora e acabou sendo comprado pela hoje extinta TV Manchete (1983-1999). A decisão se mostrou um erro estratégico da rede dos Marinho, que viu a concorrente bater recordes e até derrotá-la na audiência. 

"A gente sente que há um movimento da Globo de aposta na relação do público com a memória afetiva. 2021 marcou 70 anos da telenovela no Brasil, então existe a tentativa da emissora de fazer esse resgate. De marcar a sua importância em relação ao processo de constituição de memória do povo brasileiro", ressalta o pesquisador.

Me parece que essa aposta no remake tem um pouco a ver com esse diálogo com a memória. A Globo percebeu que pode angariar públicos e nichos não necessariamente criando coisas novas, mas apostando naquilo que já constitui uma certa identificação do público com a telenovela.

Aimar Labaki também sustenta que o fascínio por Pantanal se deve ao fato de a novela ser um grande clássico da dramaturgia nacional, mas acredita que a nostalgia do público pode atrapalhar o desenvolvimento do remake. 

"A nostalgia do público joga contra. Por melhor que seja o novo produto, nunca será o original. E para quem assistiu, sempre parecerá pior, mesmo que não o seja. O público jovem, atual, que nunca assistiu ao original é que pode fazer com que dê certo", argumenta o roteirista.

reprodução/tv globo

Atriz Alanis Guillen

Alanis Guillen protagonizará nova Pantanal

Novos tempos, novos públicos

Esse novo público de que fala Labaki é outro ponto de reflexão para a próxima trama da Globo. "Remake ou não, ninguém sabe por que uma novela dá certo. Já por que dá errado, em geral, é mais fácil. Não pode faltar a compreensão de que os tempos são outros, o público é outro", afirma o autor.

Já Fernandes explica que os espectadores atuais são muito diferentes daqueles dos anos 90, sobretudo em decorrência das novas mídias digitais. "É um público que tem um olhar treinado pelo streaming, uma nova audiência digital. Muito diferente do público que assistiu a Pantanal na década de 1990, que estava lá de uma maneira mais passiva, sem poder se pronunciar sobre o que estava vendo em cena. Hoje em dia isso não acontece", discorre o pesquisador.

O público de hoje é muito mais exigente com o que consome. "As audiências não estão só prontas para repercutir nas redes sociais, como estão apropriadas. A gente faz análises de postagens no Twitter, e as pessoas entendem sobre termos técnicos de dramaturgia, de direção de arte, cenografia. É uma crítica especializada do público", complementa Fernandes.

O remake de Pantanal está previsto para estrear em março. A novela será escrita por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, e protagonizada por Alanis Guillen, no papel de Juma Marruá. O elenco conta ainda com Renato Goés, Bruna Linzmeyer, Juliana Paes, Osmar Prado, Dira Paes, Juliano Cazarré, José Loreto, Debora Bloch, Murilo Benício, Julia Dalavia e Gabriel Sater.


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