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CRÍTICA

Realista e muito tensa, Segunda Chamada cria problema para a Globo

Reprodução/TV Globo

A atriz Débora Bloch em cena da série Segunda Chamada, em que vive a professora Lúcia

Débora Bloch interpreta a professora Lúcia em Segunda Chamada, elogiada série da Globo

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 19/10/2019 - 6h05

Segunda Chamada, nova série da Globo, mantém um pé na realidade para fisgar seu público. A trama de Lúcia (Débora Bloch) e sua luta pela educação apresenta histórias baseadas em fatos reais sem carregar nas tintas. Convincente, a produção coleciona qualidades, fruto de um trabalho de pesquisa prévia feita pelas autoras Carla Faour e Julia Spaldaccini.

O resultado apresentado é bastante positivo ao traçar um retrato fiel das dificuldades de um serviço público à beira do sucateamento e que só sobrevive graças à força de vontade daqueles que ocupam seu espaço, no caso os professores.

Justamente por sua lista de predicados, Segunda Chamada cria um problema enorme para a Globo: sua qualidade inevitavelmente faz surgir comparações com o produto principal de sua programação, as novelas. Especialmente quando ela é exibida na sequência de A Dona do Pedaço, trama de roteiros questionáveis.

O ambiente inclusivo da escola Carolina Maria de Jesus é retratado também na diversidade de rostos e sotaques, e Segunda Chamada ganha dinamismo ao não se limitar ao ambiente escolar, abrindo espaço para os dramas pessoais dos alunos e mestres. São vários os retratos que encontram identificação fácil.

Mas as histórias mais fortes, até agora, são as de Solange (Carol Duarte), a mãe solteira que assalta a cantina para alimentar a própria filha, e Natasha (Linn da Quebrada), a aluna transexual que enfrenta o preconceito diário por ser quem é.

O elenco é outro ponto alto da atração. Despida de qualquer vaidade, Débora Bloch está impecável como a protagonista idealista. Além disso, a amargura justificada de Sônia encontra em Hermila Guedes a intérprete perfeita. E Thalita Carauta dá o respiro cômico sem cair na caricatura ao interpretar Eliete.

Único erro de Segunda Chamada até agora, seu horário de exibição foi corrigido após a experiência da última terça (15), quando a série foi ao ar mais cedo, em homenagem ao Dia dos Professores. A audiência satisfatória certamente pesou na decisão da Globo de adiantar o início de Segunda Chamada nas próximas semanas.

Qualidade que vira problema

A série segue os passos de sua antecessora, Sob Pressão, com uma proposta dramática crível, tensão carregada ao nível máximo, situações tocantes, um misto de crueza e realidade com emoção, tudo muito bem dosado.

Diante disso, como continuar produzindo novelas com tão baixa qualidade, ao mesmo tempo em que a emissora prova ser capaz de colocar no ar produtos bem acabados, como essas duas séries, que fazem sucesso com público e crítica?

A emoção que Segunda Chamada consegue transmitir é capaz de provocar as maiores catarses de novela e o melhor: sem pesar a mão no drama ou resvalar na pieguice, muito menos apelar para diálogos banais e de fácil entendimento.

Guardadas as devidas proporções entre as abordagens e os tons dos folhetins em diferentes horários, ao menos a trama das nove pode (e deve) ter semelhanças com as séries que a emissora faz. Ainda que sejam gêneros diferentes, novela e série conversam entre si, e é totalmente possível haver um denominador comum para as produções --afinal competência e profissionais para isso, a Globo mostrou que tem.

É urgente que o principal produto da emissora siga o mesmo critério qualitativo que norteia suas séries: um alinhamento entre estética, texto e histórias interessantes e de impacto. Oxigenar a telenovela requer, principalmente, nivelar por alto as histórias que são contadas. E talvez o melhor exemplo esteja dentro da própria casa.

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