Segunda Chamada
Mauricio Fidalgo/TV Globo
A atriz trans Linn da Quebrada faz sua estreia na Globo na pele da personagem Natasha, de Segunda Chamada
FERNANDA LOPES
Publicado em 8/9/2019 - 5h25
Linn da Quebrada é mulher trans, cantora, ativista social e agora também atriz. Ela fará sua estreia em Segunda Chamada, série da Globo prevista para estrear em outubro. Aos 29 anos, interpreta uma aluna de um curso para adultos e confessa que sua vida escolar foi complicada. Na adolescência, ela não se sentia bem em sua escola e fugiu.
"Passei por violências, principalmente por ser uma criança afeminada. Mas tive experiências traumáticas no que diz respeito à estrutura da educação. Sempre fui uma boa aluna, ganhei bolsa no ensino médio pra estudar num colégio particular. Mas a pressão foi tanta, e por não sentir a escola como um espaço acolhedor que realmente me motivasse, eu fugi", revela ao Notícias da TV.
Linn diz que foi na adolescência que começou a experimentar novas estéticas e a fazer, ainda que inconscientemente, a sua transição de gênero. "Eu já fui muitas, costumo dizer que sou uma legião", brinca.
Na série da Globo, que se passa em uma escola que funciona na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), Linn vive Natasha, uma das alunas. Os dramas tanto de estudantes quanto de professores são explorados na trama, e a atriz diz que tem muito em comum com a personagem.
"Felizmente ou infelizmente, a vida de pessoas trans tem situações que são recorrentes. Como as violências sofridas, as opressões e pressões sociais impostas cotidianamente. Uma coisa que eu absorvo é que a Natasha é muito corajosa, muito determinada a estudar, frequentar a escola, ocupar esse lugar tão importante", conta.
"Eu percebo que nós, pessoas trans, passamos por essa disputa de território; não temos direito a estudar, a ocupar espaços dentro do mercado de trabalho, não podemos ocupar o espaço da igreja, muitas vezes não podemos viver livremente dentro das nossas próprias casas. Que lugares são receptivos à nossa vivência? Acho que a Natasha traz essa inquietude, que eu também compartilho", explica.
Para estar na série, Linn fez testes com a diretora Joana Jabace. As gravações duraram quatro meses em uma escola abandonada em São Paulo, e ela conta que teve de abdicar de uma turnê internacional como cantora para poder fazer o trabalho como atriz. Afirma, sem hesitar, que não se arrepende.
Linn diz que não se sente uma representante da comunidade LGBTQ+, porque as experiências dessas pessoas são muito múltiplas e variadas para serem representadas por apenas um indivíduo. Mas acredita que a representatividade e a diversidade são cada vez mais importantes nas narrativas de TV, e por isso não há espaço para medo de preconceito em sua trajetória.
"Quanto mais diversas forem as narrativas que nós tivermos na TV, mais isso servirá para que as pessoas possam ver e pensar: 'Nossa, então posso ser diferente'. A minha atuação, na TV e na música, evidencia isso", acredita.
"Acho que tudo o que está acontecendo me serve ainda mais como motor. As dificuldades já estavam aí há muito tempo, principalmente pra uma classe que é tradicionalmente marginalizada há séculos. Quem está com medo é uma classe conservadora que se vê perdendo território. Eu estou com programa de TV, continuo fazendo shows e cada vez com mais força. Acho até meio óbvio que devido a tudo isso eles sintam medo. Eu também sentiria se estivesse na pele deles", debocha.
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