Roteirista de série da Netflix revela choque em sala de produção: 'Intervenções'

Autora de romances voltados ao público jovem, incluindo O Roteiro do Amor, Ray Tavares encontrou no audiovisual um novo caminho para contar histórias. Roteirista das duas últimas temporadas de De Volta aos 15 (2022-2024), série da Netflix inspirada na obra homônima de Bruna Vieira, ela se destacou no time responsável por transformar os dramas adolescentes de Anita (Maisa/Camila Queiroz) em um dos maiores fenômenos da plataforma no Brasil. Agora, ela sonha com a adaptação de um de seus romances: Os 12 Signos de Valentina.

Em entrevista ao Notícias da TV, Ray revelou que se surpreendeu com a dinâmica da sala de roteiro e com o nível de interferência de diferentes setores do audiovisual. "Foi um choque ver como o roteiro é colaborativo, e como existem intervenções de todas as partes do processo. Produtores, diretores, atores, executivos… Todo mundo dá a própria visão", conta.

"No começo, foi estranho. No livro, é só você, sua cabeça e talvez um editor. No roteiro, às vezes você ouve um: 'Não gostei, reescreve tudo'. Hoje, acho até mais tranquilo escrever em conjunto. É menos ansioso", acrescenta.

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Ray chegou ao projeto já na segunda temporada da série, quando a trama havia conquistado uma base fiel de fãs. Ainda assim, conseguiu se adaptar com facilidade ao tom da narrativa e aos personagens. "Já tinha lido o livro, assistido à primeira temporada e tinha me familiarizado. O Vitor Brandt, chefe de sala, tem um humor muito parecido com o meu. Não precisei me segurar", afirmou Ray, que declara: "Foi a série mais legal que eu já escrevi".

A experiência também serviu para que ela lidasse com o ego criativo e aprendesse a defender suas ideias sem transformar críticas em ataques pessoais. "Se você não separa as coisas, recebe o feedback como ofensa. Mas todo mundo ali quer que o projeto dê certo. A roteirista me forçou a ser mais objetiva. Meus livros estão diminuindo de tamanho por causa disso."

Apesar de já ter uma base própria de leitores, Ray não teme ver seus livros ganharem novas versões nas telas. Pelo contrário: ela espera ansiosa por isso. "Não tenho medo de adaptações. Tenho mais medo de nunca ver um livro meu adaptado", admite.

Se pudesse eleger uma história para virar série, ela escolheria Os 12 Signos de Valentina, romance que a lançou ao estrelato. "Hoje faria tudo diferente. Tenho mais experiência, e queria desenvolver esse projeto com liberdade total", revela. Sobre quem escalaria para o projeto, ela admite: "Elenco dos sonhos? Não sei. Gosto de ser surpreendida. Um bom teste me convence".

Conhecida por criar protagonistas sarcásticas e romances envolventes, a escritora afirma que pensa primeiro nos personagens --e não no público-- na hora de escrever. "Quero que a história faça sentido pra eles. Quero que sejam felizes. Talvez isso gere identificação", explica.

Ray também comenta sobre a pressão de ser vista como inspiração para novos escritores. "Escrevo pra não enlouquecer. As histórias voam na minha mente, e preciso colocar em algum lugar. É meu jeito de existir. Algumas surgem prontas, outras ficam anos esperando. É assim desde sempre. Espero que nunca pare", conclui Ray Tavares.