SEGUNDA CHAMADA
Divulgação/Globo
A professora Sonia (Hermila Guedes) socorrerá a aluna Rita (Nanda Costa), que terá complicações após aborto
FERNANDA LOPES
Publicado em 8/10/2019 - 5h21
Segunda Chamada estreia nesta terça (8) na Globo com a promessa de combinar emoções com críticas contundentes, mostrando realidades brasileiras sofridas. É a série mais política que a emissora lança nos últimos anos, com inclinação à esquerda: denuncia as injustiças sociais e a precariedade do ensino público e defende o respeito às minorias. Conservadores sentirão o impacto.
A atração se passa em uma escola na periferia de São Paulo, num curso noturno na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). Todos os alunos são pessoas que passam dificuldades na vida e muitas vezes trazem seus problemas para a sala de aula.
As mulheres enfrentam dramas diretamente ligados ao gênero. A personagem de Nanda Costa, por exemplo, é uma mulher que já tem três filhos, tenta fazer uma laqueadura na rede pública de saúde e é impedida. Ela engravida novamente e, desesperada, faz um aborto clandestino. Passa mal na escola e é socorrida pelas professoras.
Há ainda o caso de uma ex-presidiária, que busca uma nova chance com a educação, e uma garota de programa, que quer ser respeitada independentemente da forma com que ganha a vida.
Já está chamando a atenção dos telespectadores também, só pelas chamadas na Globo, a trama de Natasha, vivida pela atriz e rapper Linn da Quebrada. Se trata de uma mulher trans, que vai enfrentar muito preconceito e agressões por ser quem é.
divulgação/globo
Linn da Quebrada interpreta a personagem Natasha e enfrenta preconceito na escola
Já do lado dos homens, também há casos bastante tensos. Há um morador de rua que frequenta as aulas, um rapaz que vende drogas para colegas e professores, e o personagem de Felipe Simas, que arma um assalto no meio da sala de aula após ser demitido e ficar desesperado.
As autoras de Segunda Chamada, Carla Faour e Julia Spadaccini, afirmam que não tiveram nenhuma restrição da Globo em relação às histórias e que escreveram o que quiseram e acharam importante destacar. A grande maioria dos casos foram inspirados em acontecimentos reais, relatados por professoras de EJAs de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Fica claro que a série se posiciona a favor dessas pessoas em situação de vulnerabilidade, que cometem erros mas continuam na luta para terem educação e melhorarem de vida. Mas as autoras afirmam que não levantam bandeiras.
"A gente aborda vários temas dentro da nossa escola, mas sem julgar. A gente sempre tentou levar pelo lado humano todas as histórias. Quando um conflito explode, a gente procura não dar voz só à vitima, ou a um dos lados. Os assuntos são sempre tratados com muito cuidado. Não é levantar bandeira, é levantar a discussão", diz Carla Faour.
Além dos dramas dos alunos, Segunda Chamada explora os casos dos professores, as dificuldades e problemas que eles têm em casa, como violência doméstica. Acima de tudo, a série pretende chamar a atenção para as precariedades do sistema público de educação e para a importância de dar atenção e investimentos a setor. Atores e a direção fazem questão de alfinetar o atual Governo Federal.
"O momento político que o Brasil enfrenta é de um governo que não leva a educação com a seriedade que deveria. A série não fala de uma instituição só, fala principalmente da relação entre professor e aluno, quão importante são as pontes que os professores criam pros alunos, quantas possibilidades esses encontros podem gerar e transformar a vida de um ser humano. A gente tá num país que não valoriza a educação e o professor", diz a diretora Joana Jabace.
Segunda Chamada irá ao ar às terças-feiras, após Filhos da Pátria.
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