CURIOSIDADE MÓRBIDA
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Elize Matsunaga em cena de Era Uma Vez um Crime, série documental que estreia na Netflix em julho
Mortes, vítimas, assassinos e investigações são o recheio de documentários que abordam crimes reais. Esse tipo de produção tem se mostrado muito popular e chamado a atenção de diferentes tipos de pessoas, com canais e streamings apostando na produção de atrações temáticas. E, se quanto mais macabro, melhor, não faltam opções para que os fãs possam satisfazer seu desejo, inclusive com casos brasileiros.
O sucesso dessas séries documentais passa principalmente pela curiosidade. Mas não seria uma vontade um tanto quanto grotesca de ver os corpos ou as cenas dos crimes, mas simplesmente o fato de querer saber até que ponto uma pessoa ultrapassa os limites da sanidade para tirar a vida do outro.
"O que causa a popularidade dessas séries são que elas abordam crimes que chamaram a atenção, ganharam força na mídia e ficaram em evidência durante muito tempo. O fato de aparecer no noticiário e ter abrangência grande faz com que prenda a atenção da pessoa, muito pela barbárie envolvida também. Desperta uma curiosidade atrás de detalhes e da resolução do caso", avalia Guido Palomba, psiquiatra forense e atual diretor cultural da APM (Associação Paulista de Medicina).
Com experiência de mais de 40 anos na área, ele acredita que espectadores desse tipo de material não correm risco de desenvolver algum tipo de distúrbio. "Há apenas uma curiosidade intelectual para saber os limites, até onde vai a maldade dos criminosos. É que o conteúdo acaba sendo mais chamativo do que outros temas e pode haver essa preocupação, mas é inexistente. Quando acaba o programa, as pessoas desligam e voltam para sua vida normal", explica.
Esse espetáculo macabro ganha força justamente por poder fazer parte da realidade de qualquer pessoa. "Séries e filmes de terror, por exemplo, contam com roteiros e buscam assustar. Acho que quando as pessoas se veem diante da realidade nua e crua, muitas vezes bizarra, ficam alardeadas. Isso faz parte da alegoria dessas produções nacionais e internacionais", comenta Palomba.
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Cena de Sophie: Assassinato em West Cork
A mais recente atração do gênero é Sophie: Assassinato em West Cork, recém-lançada pela Netflix. No centro das atenções está Sophie Toscan du Plantier, cineasta e produtora de TV francesa que passava férias em uma região remota na Irlanda, em 1996. Seu corpo foi encontrado pela polícia dois dias antes do Natal.
O streaming aquece ainda mais seu catálogo com a chegada da Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime, com estreia marcada para esta quinta (8). A produção brasileira mergulha em um dos crimes mais chamativos dos últimos anos, sobre a criminosa que esquartejou o então marido, Marcos Matsunaga (1970-2012), e dividiu os pedaços em três malas para deixar o apartamento onde tudo aconteceu.
Histórias nacionais chegam no formato de documentários já com uma prévia forçada em noticiários policiais. As emissoras buscam casos em todo o Brasil para colocar na tela de maneira chamativa. A Record, por exemplo, prepara uma série para o streaming PlayPlus sobre o assassino Lázaro Barbosa (1988-2021), que ficou conhecido como o "serial killer de Brasília".
Roteirista e apresentadora do podcast Modus Operandi, especializado em crimes reais, Mabê Bonafé diz que, quanto mais assustadora e cheia de detalhes, melhor a trama. "Querendo ou não, somos [os brasileiros] acostumados com isso no dia a dia. Há programas de televisão diários que exploram esse tema há anos. Somos bombardeados com conteúdo, e sempre tem alguns que se destacam", diz.
REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY
Caso Evandro está no Globoplay
Ela destaca o caso Evandro, em torno do desaparecimento e da morte brutal do garoto Evandro Caetano, na década de 1990. "Começou como um podcast, ganhou série documental [pelo Globoplay] e virou livro. É um crime brutal que aconteceu há quase 30 anos e não há resposta, deixou várias perguntas em aberto. Há elementos de bruxaria e satanismo envolvidos, e isso abre para se criar hipóteses e lendas em cima", comenta.
Séries dramáticas que são baseadas em fatos reais também são populares, mas não mobilizam tanto os fãs. American Crime Story tenta recriar ao máximo detalhes de personagens, cenas e diálogos de famosos casos norte-americanos que envolveram mortes. Já Mindhunter (2017-2019) é baseada no livro de um ex-agente que fundou a unidade de ciência comportamental do FBI, a primeira do mundo a estudar a mente dos criminosos.
Os dois entrevistados acreditam que a distância criada por elementos de ficção não gera o mesmo impacto no espectador como ocorre com os documentários. Palomba conta que não gosta de acompanhar esse tipo de atração, nem mesmo programas dos quais participa por estar envolvido.
Apesar da diversão no consumo do público, Mabê alerta para a responsabilidade na hora das sessões. "Com certeza é um conteúdo pesado e que pode ser gatilho para certas pessoas. Precisa ser consumido com certo cuidado e inteligência, ainda mais atrações sensacionalistas que tiram o foco da história e se valem mais da emoção. Materiais completos são melhores. É preciso ser mais analítico", ressalta a podcaster.
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