DESALMA
ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO
Cassia Kis interpreta a bruxa Haia em Desalma; feiticeiras mantêm maldição na Globo
As bruxas de Desalma não quebraram uma das mais antigas maldições da Globo, que ainda patina em suas tentativas de emplacar uma produção de horror. O gênero é o principal "calcanhar de Aquiles" da emissora, que já pagou micos homéricos com Casa do Terror (1995) e Supermax (2016). Longe de ser um desastre, a série é vítima de uma das políticas mais tradicionais da casa --o famigerado padrão Globo de qualidade.
A narrativa foi cercada de cuidados, com direito até mesmo a contar com a consultoria do sonoplasta alemão Alexandre Würtz, um dos nomes por trás de Dark (2017-2020). A direção de Carlos Manga Jr. também buscou referência em sucessos recentes como A Bruxa (2015) e Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019).
O excesso de zelo é um dos principais responsáveis por estrangular o roteiro de Ana Paula Maia, que atinge o seu ápice nas mãos de veteranas como Cassia Kis e Cláudia Abreu. O núcleo jovem e inexperiente, que parece saído de uma temporada sombria de Malhação, escancara que a trama é mais forma do que conteúdo.
Com todos os investimentos, a Globo parece ter ignorado uma lição óbvia para os fãs de terror: orçamento não assegura a qualidade dos sustos. Algumas das maiores bilheterias dos últimos 20 anos, inclusive, são todas feitas com poucos recursos, a exemplo de Jogos Mortais (2004), Atividade Paranormal (2009) e Sobrenatural (2010).
Afinal, a fórmula é um dos pontos mais importantes para o horror, que prende o espectador na expectativa de seguir ou não certos clichês. O realizador que encontrar um novo método está sentado em cima de um baú de ouro. É o caso dos produtores de REC (2007), que arrecadou 16 vezes o seu orçamento inicial ao misturar zumbis com found footage (filmagem encontrada, em inglês).
ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO
Ana Melo em Desalma: inspiração em Midsommar
Desalma é propriamente um folhetim clássico, com ganchos para uma segunda temporada que a Globo pretende produzir após a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). A maneira que a história se desenrola não é tão diferente quanto Flor do Caribe (2013) ou Haja Coração (2016), que não metem medo em ninguém.
Esse padrão da Globo engessa o roteiro, que não consegue bancar momentos catárticos ou chocantes justamente pela máxima do "cenas do próximo capítulo". Algumas de suas rivais apelam justamente ao formato de antologia para poder eliminar personagens, a exemplo de American Horror Story. Outras apostam no caráter episódico, como Arquivo X (1993-2018).
Caso realmente aconteça, o desafio para a segunda temporada de Desalma é manter o aspecto visual, mas não deixá-lo dominar a sua narrativa. O esmero é bem-vindo para não acarretar numa catástrofe como Terrores Urbanos (2018), do PlayPlus, mas também não pode entediar o público.
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