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CENTÉSIMO CAPÍTULO

Globo vira Éramos Seis de cabeça para baixo; descubra 5 mudanças

ESTEVAM AVILLAR/TV GLOBO

Os atores Nicolas Prattes, Giullia Buscacio, Danilo Mesquita, Gloria Pires, André Luiz Frambach e Simone Spoladore em cena de Éramos Seis

Lola (Gloria Pires) com a família reunida em de Éramos Seis; novela chega ao centésimo capítulo hoje (24)

DANIEL FARAD

Publicado em 24/1/2020 - 5h18

Éramos Seis chega ao seu centésimo capítulo nesta sexta-feira (24) depois de virar a vida de Lola (Gloria Pires) de cabeça para baixo. O remake de Angela Chaves não se rendeu ao purismo de seguir à risca os rumos do livro escrito por Maria José Dupré (1898-1984). A autora também não teve pudores na hora de mexer na obra de seu chefe e retalhar o texto do "todo-poderoso" Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia da Globo.

O escritor foi um dos responsáveis pela adaptação do romance para o SBT em 1994, ao lado do parceiro Rubens Ewald Filho (1945-2019). Os roteiros serviram de base para que a autora recontasse a história, enfrentando o melindre de revisitar uma das obras de maior repercussão de seu superior imediato.

A novelista propôs mudanças desde o primeiro capítulo, com reformulação completa de alguns personagens para tornar a narrativa mais atual em sua quinta versão para a televisão. Apesar de uma primeira fase criticada pela lentidão e marcada por poucos acontecimentos, o folhetim se aproveitou de velhos e novos dramas para conseguir recuperar o ritmo da saga da família Lemos.

A história deslanchou a partir da morte de Júlio (Antonio Calloni), um dos marcos já esperados pelo público, mas também surpreendeu com a gravidez de Clotilde (Simone Spoladore) e um possível final feliz para a matriarca interpretada por Gloria Pires.

Confira alguma das principais guinadas na novela das seis da Globo:

ESTAVAM AVILLAR/TV GLOBO

Afonso (Cássio Gabus Mendes) beija Lola (Gloria Pires) no folhetim das seis: novos rumos


Segunda chance

A principal mudança é a possibilidade de Lola escapar de um destino melancólico. Em todas adaptações anteriores, a baluarte dos Lemos terminou sozinha, rejeitada pelos filhos, com dificuldades de pagar por um quarto nos fundos de um pensionato para freiras.

Para isso, a autora precisou reescrever completamente a trama de Afonso (Cássio Gabus Mendes), que até então era um personagem menor nas versões para a televisão e sequer chega a ser mencionado no livro que deu origem à saga. Em 1994, o papel ficou a cargo de Umberto Magnani e se chamava Alonso.

De origem espanhola, o dono do armazém era casado com Pepa (Nina de Pádua) e pai de Carmencita (Eliete Cigarini). A menina se envolvia com Carlos, agora interpretado por Danilo Mesquita, e também sofreu alterações na trama atual, se convertendo em Inês (Carol Macedo).

O romance entre a viúva e o quitandeiro veio à tona na capítulo de quarta (22), quando o comerciante se encheu de coragem e beijou a quituteira

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Simone Spoladore interpreta Clotilde no remake de Angela Chaves: grande drama em destaque


Filho bastardo

Na publicação original, Clotilde também auxilia Lola com seus doces, mas termina a história sozinha e infeliz em Itapetininga. Um interesse amoroso para a personagem só foi aparecer em 1967, na adaptação da TV Tupi, em que Edgar Franco entrou na história como Almeida para fazer par romântico com Geórgia Gomide.

O drama de seu envolvimento com um homem desquitado permaneceu inalterado em 1994, mas os dois acabaram se transformando no principal casal coadjuvante em 2020. Simone Spoladore ganhou torcida nas redes sociais e elogios da crítica com sua interpretação da solteirona.

Dessa vez, a tia de Isabel (Giullia Buscacio) acabou engravidando do personagem de Ricardo Pereira e ganha espaço na ficção em seu dilema em abandonar, ou não, a criança em uma roda dos expostos. O arco dramático não existia em nenhuma das versões anteriores.

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Barbara Reis em cena da produção como Shirley:  personagem volta à segunda fase na trama


Nova antagonista

Ao propor um romance para Lola após a morte de Júlio, a roteirista também precisou reestruturar a sua crônica em busca de uma antagonista para a sua dona de casa. Shirley (Barbara Reis) voltou ao remake na quinta (23) para ser a principal pedra no sapato do relacionamento entre a mãe de Alfredo (Nicolas Prattes) e Afonso.

A personagem é livremente inspirada em Pepa, da versão de 1994 por Silvio de Abreu. A ideia era retratar a adaptação de imigrantes que chegavam à capital paulista no período de Entreguerras (1918-1939), em que o Brasil era visto como um "país de oportunidades" diante dos inúmeros conflitos armados na Europa.

Em busca tornar a sua versão mais representativa, Angela decidiu usar o papel para abordar a questão racial, mesmo que não de maneira direta. Na primeira fase, por exemplo, Shirley sofreu com o preconceito da mãe de João Aranha (Caco Ciocler), que fez de tudo para afastá-la do filho pela sua origem humilde e a cor de sua pele. 

reprodução/tv globo

Emília (Susana Vieira) e Adelaide (Joana de Verona): megera esconde um segredo da herdeira


Racismo velado

A lista de maldades de Emília (Susana Vieira) não para de crescer. A vilã foi capaz de exilar Adelaide (Joana de Verona) na Europa para manter as aparências da família e esconder um terrível crime que aconteceu em sua mansão. Ela também não pensou duas vezes antes de dopar Justina (Julia Stockler) com inúmeros calmantes para que a história não viesse à tona.

Difícil acreditar, porém a crueldade da madame foi suavizada em relação à versão de 1994, quando Nathalia Timberg ficou encarregada de botar para fora todos os absurdos da megera. Em 2020, Angela optou por cortar uma das cenas mais pesadas em que Lola, então vivida por Irene Ravache, se surpreende com o racismo da tia ao lhe pedir para contratar Durvalina (Chica Lopes).

Na época, a senhora disse com todas as letras que não aceitaria uma empregada negra dentro de casa, diferente da vilã interpretada por Susana Vieira. Thiago Justino ficou com o papel do mordomo Higino, anteriormente interpretado por um ator branco, Paulo Hesse.

A intolerância da ricaça passou a ser mais velada do que explícita, a exemplo da cena em que ela duvida da capacidade de Selma (Aline Borges), em que ela diz preferir um médico branco e rico.

reprodução/tv globo

A psiquiatra Selma (Aline Prado) foi criada para nova versão: empoderamento feminino na TV


Poder feminino

A terapeuta de Aline Borges, aliás, é uma adição de Chaves à história, em busca de diminuir o machismo presente no livro original e nas adaptações anteriores. A doutora é livremente inspirada em Nise de Silveira (1905-1999), psiquiatra brasileira que revolucionou os cuidados em saúde mental no Brasil, se opondo a tratamentos cruéis e agressivos como o eletrochoque.

A autora também alterou a personalidade de Lola para reforçar a representação do poder feminino na trama, já que anteriormente a doceira era mais submissa ao marido. Na produção da Globo, a viúva ganhou força e já deixou claro, por exemplo, que quer crescer na vida pelos seus próprios méritos. Ela chegará a brigar com Afonso por ser beneficiada às escondidas na sociedade dos dois.

Isabel é outra a fazer parte desse processo de empoderamento, já que batalhará para ter uma profissão na narrativa de 2020. Além de se formar professora, ela procurará por um curso de datilografia para seguir carreira como secretária. Em 1994, ela terminou pobre e infeliz por Felício não conseguir bancar a companheira ao perder clientes por conta de seu desquite.


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