CRÍTICA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Gloria Pires vive a protagonista Lola, personagem marcante nas versões anteriores de Éramos Seis
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 5/10/2019 - 5h30
Atualizado em 5/10/2019 - 5h31
A tarefa de encarar uma personagem que habita a memória afetiva de grande parte do público é no mínimo ingrata. Dona Lola, a protagonista de Éramos Seis, nova novela das seis da Globo, atravessa gerações na trama que ganha agora a quinta versão para a televisão. Gloria Pires, depois de papéis que estavam bem aquém do seu talento, como Babilônia (2015) e O Outro Lado do Paraíso (2017), finalmente tem em mãos uma personagem que faz jus a seu nome.
Lola é, antes de tudo, uma mulher sem grandes nuances: a doçura da mãe de família segue com ela em todos os momentos da história, mesmo nos mais difíceis. É uma personagem solar, mas que ao mesmo tempo contida na aflição de manter a harmonia familiar.
A responsabilidade de Gloria é ainda maior pois toda a força de Éramos Seis gira em torno de sua personagem. Qualquer deslize que cometesse poderia colocar tudo a perder. Delicada no gestual, Lola tem um ótimo contraponto com a brutalidade do marido, Julio (Antonio Calloni) e a parceria dos atores em cena também funcionou.
Gloria apostou ainda na sutileza, como na composição do sotaque paulista, com uma prosódia quase imperceptível, e acertou no tom ao conseguir transmitir uma alternância de sentimentos. Ao se distanciar das outras intérpretes de Lola, Gloria deu à sua criação características únicas e não é de se espantar que carregue a novela nas costas.
Éramos Seis é uma novela sem atropelos e flerta com uma certa inocência infantil que casa perfeitamente com o horário em que é exibida. O humor é bem dosado, com destaque para Eduardo Sterblitch (Zeca) e Maria Eduarda de Carvalho (Olga). A cena em que ele a leva para a ferroviária em um carro de bois, por exemplo, foi engraçada e não caiu no pastelão.
Por fim, não há vilania exacerbada, e os conflitos dos personagens são compostos pelos contratempos cotidianos, como as dificuldades financeiras, as brigas fraternais e as picuinhas entre os vizinhos.
A saga familiar é um tema que atinge qualquer público, e o folhetim é uma aposta certa em tempos de conservadorismo do público e, consequentemente, das narrativas que são exibidas na TV atual (salvo raríssimas exceções). A simplicidade é a tônica de Éramos Seis.
O ritmo da narrativa, a fotografia sem exageros de cores, a reconstrução de época, o elenco afiado, tudo parece um casamento bem arranjado. A única coisa que destoa do restante da novela é a abertura com música instrumental, em tom épico, distante demais do afeto que Lola e sua família mostram em cena.
Com Éramos Seis, a Globo manda um recado claro: não é tempo de experimentalismos nem extravagâncias. O formalismo é a regra que parece imperar na novela. Colocar Gloria Pires como a protagonista certamente é atestar que não quer correr riscos. Só mesmo uma atriz com sua tarimba seria capaz de criar com características únicas um tipo já explorado em outras produções.
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