Ator de Mar do Sertão dá a volta por cima após boicote do governo Bolsonaro

Thardelly Lima chega a sua terceira novela na Globo dando a volta por cima. Com raízes no teatro, o ator, que viverá o agiota Vespertino na nova novela das seis Mar do Sertão, precisou migrar para o cinema nos últimos anos após o que ele chama de boicote do governo de Jair Bolsonaro (PL) à área teatral. "As bilheterias não sustentavam mais", conta o artista em entrevista ao Notícias da TV.

Além de gravar as cenas como o malvado da nova trama, Lima atua em campanhas publicitárias e viaja pelo país com a Sertão Teatro, sua companhia. O ator se dedica aos palcos desde 1999 e conta que abraçou o cinema em consequência da escassez de oportunidades oferecidas pelo novo governo.

"Com a mudança do governo e os fechamentos dos editais, as bilheterias não sustentavam mais o grupo, e o cinema foi uma saída para mim", relata Thardelly Lima, que se considera um "artista de caminhão". "Me chama pra trabalhar que vou", afirma o ator.

NOVO AMOR?

Chifre trocado: Em Volta por Cima, Violeta sai com bandido e deixa Osmar furioso

DIA CHEIO

Garota do Momento: Lígia vai para a cama com Raimundo no meio de festa de família

Ele pontua que nunca se imaginou fazendo uma novela. "Eu era visto como ator de teatro com veia cômica". Atualmente, o grupo teatral do ator encena Alegria de Náufrago, peça que em abril teve sua temporada no Rio de Janeiro e seguirá em novos destinos em revezamento com a novela. "O cronograma [das gravações] sai na quinta, e eu já fico com aquele aperto no coração", entrega.

Confira uma publicação de Thardelly Lima nos palcos:

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Thardelly Lima (@thardellylima)

De motorista a patrão

Thardelly Lima é um dos atores paraibanos que integram o elenco de Mar do Sertão. Seu personagem, Vespertino, é um agiota mercenário de Canta Pedra, a fictícia cidade da trama de Mario Teixeira. Diferentemente do motorista Odailson de Quanto Mais Vida, Melhor! (2021), Vespertino não tem pretensão de ser cômico.

Para o ator, a veia cômica do agiota é despertada em algumas cenas, como acontecerá com todos os personagens, mas Vespertino não carrega comicidade. "Ele tem coisas engraçadas, mas que não deveriam ser. É mais agressivo, frio, calculista, foge da ingenuidade do Odailson e fica num lugar mais sombrio", analisa.

Além disso, enquanto na novela das sete, o personagem de Thardelly estava sempre pronto para as ordens de Guilherme (Mateus Solano), o atual personagem agora só manda e desmanda, principalmente em Pajeú (Caio Blat), seu jagunço. "Se não pagarem ele, o Pajeú vai bater à porta", adianta.

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Thardelly Lima como Odailson

De acordo com o ator, Vespertino é cruel, mercenário e malvado. O ator também entrega um traço animalesco do personagem. "Ele é meio zoomórfico, tem uns bichos que tento trazer por meio da sonoridade", conta.

Dono da casa de câmbio, o agiota enxerga uma oportunidade em tudo, até mesmo quando Timbó (Enrique Diaz) vir sua vida melhorar da noite para o dia. "Tá precisando mudar o destino, procure o Vespertino", será o bordão do personagem, que também vai ser peça-chave para as tramoias de Deodora (Debora Bloch), a mulher do Coronel Tertúlio (José de Abreu).

"Vai ter uma parceria com ela, ele sente uma coisa por ela, mas não sei se vai se concretizar. De todo mundo que ele se aproxima, quer algo em troca", adianta Lima.

Mar da Paraíba

O ator começou a rodar a nova novela das seis no final de julho. Seu personagem dispensou gravações externas no Nordeste, mas a rotina foi novidade para ele. É que em Quanto Mais Vida, Melhor!, os trabalhos foram feitos em uma fase mais complicada da pandemia.

"Tem uma parte da equipe da novela [Quanto Mais Vida, Melhor!] que eu encontro que eu estou redescobrindo por causa de máscara e compartilhar camarim, o elenco está muito mais integrado com a retomada", conta.

Outro motivo que o faz se sentir à vontade nos estúdios é que o sotaque paraibano foi o adotado pela equipe para a novela. "Vai ser um deleite", comenta. O ator contracenará ao lado de conterrâneos como Suzy Lopes, Everaldo Pontes, Nanego Lira e a própria protagonista do folhetim, Isadora Cruz.

Casamento às pressas

Filho de radialista e locutor esportivo, Thardelly Lima ganhou o nome por conta de um jogador de futebol italiano, Marco Tardelli, um dos destaques da Copa do Mundo de 1982, quando a Itália foi tricampeã. Nascido naquele ano, em Cajazeiras, no interior da Paraíba, o ator vive há dois anos no Rio de Janeiro ao lado da mulher, Helena.

A mudança para a capital fluminense surgiu em decorrência do convite para atuar em Quanto Mais Vida, Melhor!, no ano passado. O ator avalia que foi seu reconhecimento por Bacurau (2019) que o levou para a TV. No filme, ele deu vida ao político Tony Junior, o candidato da cidadezinha do longa.

DIVULGAÇÃO

Thardelly Lima em Bacurau

Por causa dos testes para a novela de Mauro Wilson, ele conseguiu também a oportunidade de fazer uma ponta em Amor de Mãe (2019). "Aceitei porque pensei que já pagaria a passagem de volta e ainda sobrava dinheiro pro Carnaval", brinca o ator, que, na ocasião, pisou nos estúdios da emissora pela primeira vez.

Na trama de Manuela Dias, Thardelly Lima atuou em alguns capítulos como o zelador do prédio onde Vitória (Taís Araujo) morou na fase em que ficou pobre. Na história, o personagem se aproveitava da situação da advogada para cobrar caro pelos serviços. "Já ensaiava a agiotagem de Vespertino sem saber", diz.

Com pouco mais de uma semana como prazo para se mudar de mala e cuia para a Cidade Maravilhosa, Lima precisou apressar o casamento e realizar a cerimônia de maneira virtual, em meio à pandemia do coronavírus.

Na casa de sua família, no Nordeste, ele disse sim à amada com os familiares ao lado e o juiz de cartório na tela. No momento da resposta da noiva, ele conta que o carro do ovo invadiu o cenário ao passar na rua anunciando "vai passando o carro do ovo na porta da sua casa". A cena, claro, virou cômica e marcou o enlace.

Mar do Sertão conta direção artística de Allan Fiterman. Mario Teixeira conta com colaboração dos roteiristas Marcos Lazarini, Claudia Gomes e Dino Cantelli e Carol Santos. A direção geral é de Pedro Brenelli com Bernardo Sá, Natália Warth e Rogério Sagui. A produção é de Silvana Feu, e a direção de gênero, de José Luiz Villamarim.

Boicote à cultura

Desde que assumiu a presidência, em 2019, Bolsonaro cravou uma guerra contra o setor cultural e iniciou um desmonte a incentivos do setor. Já no dia da posse, o chefe do Executivo anunciou o fim do Ministério da Cultura, subordinando a pasta à secretaria e vinculando-a inicialmente ao Ministério da Cidadania e depois ao Ministério do Turismo.

Com o rebaixamento da pasta, muitos projetos que estavam em andamento não foram para frente. Editais de incentivo como aqueles voltados para os grupos de teatro foram cortados bruscamente, e verbas destinadas a produções artísticas, até mesmo voltadas ao cinema, ficaram congeladas desde então.

Para se ter ideia, a lei Rouanet criou uma regra de limitar os cachês de artistas a R$ 3.000 e impedir que um patrocinador invista num mesmo projeto durante mais de dois anos seguidos, o que dificulta a perenidade das relações no setor, como mostrou o jornal Folha de S.Paulo.

Ao longo dos quatro anos a oferta dentro da pasta também despencou. Dados do jornal também apontam que entre janeiro e agosto de 2021, a secretaria analisou 45% menos propostas em comparação a igual período do ano anterior.

Saiba tudo sobre os próximos capítulos das novelas com o podcast Noveleiros

Ouça "#113 - Matias confessa assassinato em Além da Ilusão!" no Spreaker.

Inscreva-se no canal do Notícias da TV no YouTube e assista a vídeos com revelações de Mar do Sertão.