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COLUNA DE MÍDIA

Resultados ruins do Disney+ colocam 'farra' do preço camarada em xeque

Divulgação/Disney

A atriz Scarlett Johansson

Scarlett Johansson em Viúva Negra: filme da Disney decepcionou nos cinemas e no streaming

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 12/11/2021 - 20h11

A Disney anunciou nesta semana os resultados de seu último trimestre. Os parques e empreendimentos de turismo apresentaram uma melhora nos números, com crescimento de 99% da receita, à medida que os visitantes retornam às atrações. Mas o Disney+, grande aposta da empresa durante a pandemia, sofreu um baque. A plataforma de streaming adicionou pouco mais de 2 milhões de assinantes no trimestre encerrado em 2 de outubro.

Segundo a empresa, o total de clientes chegou a 118,1 milhões. Os analistas esperavam que chegasse a 125,3 milhões. Durante o trimestre anterior, o Disney+ tinha ganho mais de 12 milhões de contratos.

Os números da Disney são um alerta para os riscos no caminho do streaming. Um dos segredos para o rápido crescimento da companhia (e de outros concorrentes) foi o que muitos viram como "compra" de assinantes.  Promoções agressivas, preços muito baixos e combos de serviços com valor abaixo do custo. 

Outra estratégia é a aquisição de concorrentes. Na Índia, após comprar o Hotstar, em abril de 2020 a Disney lançou o Disney+ Hotstar. Em setembro de 2020, o mesmo aconteceu na Indonésia. Segundo a Disney, a receita nesses mercados é significativamente menor em relação ao resto do mundo, apesar de cerca de 25% dos seus usuários estarem nessas regiões.

Netflix: cara, mas com dobro de receita

Quando a Netflix anunciou um aumento de preços no país, seus concorrentes correram às redes sociais para anunciar descontos e fazer provocações, mas os números são claros. A Netflix não cresceu como gostaria, mas com lançamentos como Round 6, conseguiu manter um crescimento aceitável, apesar de também ter visto desaceleração considerável.

Para efeito de comparação, no primeiro semestre deste ano, a receita média por assinante (Arpu, ou average revenue per user) da Netflix era mais do que o dobro da do Disney+. A Arpu do streaming do Mickey --excluindo o Hotstar da Índia-- no meio do ano era de US$ 5,61 por mês, enquanto a receita média por usuário da Netflix, nos EUA e Canadá, era de US$ 14,25 por mês. Do meio do ano para cá, a receita média do Disney+ caiu 9% se o Hotstar entrar na conta.

O presidente-executivo da Disney, Bob Chapek, disse que a empresa está gerenciando seus negócios diretos ao consumidor "para o longo prazo, não trimestre a trimestre". O executivo, que vem sendo criticado pela maneira dura e focada em cortes de custos com que conduz a Disney, afirmou que o Disney+ ainda está a caminho de atingir a meta anterior de 230 milhões a 260 milhões de assinantes em todo o mundo até o final do ano fiscal de 2024. 

Disney+ segue dando prejuízo

O número de assinantes e o ano de 2024 são importantes porque, nos planos da Disney, representam o início dos lucros da plataforma, que dá prejuízo desde seu lançamento. A Netflix só começou a dar lucro no ano passado, após mais de uma década no vermelho.

A Disney espera reverter a tendência de queda aumentando seus lançamentos ainda neste trimestre do ano, a exemplo do que a Netflix também promete. Nessa sexta-feira (12), a Disney anunciou diversos lançamentos, apesar de já ter adiantado que adiará algumas produções aguardadas para 2022. 

"O quarto trimestre [de 2022] será a primeira vez na história do Disney + que planejamos lançar conteúdo original de Disney, Marvel, Star Wars, Pixar e Nat Geo. Isso inclui títulos altamente esperados, como Ms. Marvel e Pinocchio", disse Christine McCarthy, diretora financeira da Disney, na teleconferência de resultados da empresa.

A executiva acrescentou que a empresa espera que as adições de assinantes ao Disney+ no segundo semestre fiscal de 2022 sejam significativamente maiores do que no primeiro semestre do ano.

Competição e custos crescentes

As vendas de conteúdo e as receitas de licenciamento aumentaram 9%, para US$ 2 bilhões, mas o aumento com custos operacionais e de marketing levaram a divisão a um prejuízo operacional de US$ 65 milhões durante o trimestre. 

Essa é outra armadilha para as empresas de mídia. À medida que a batalha pela atenção e pelo tempo dos espectadores se intensifica, e os competidores investem cada vez mais, maiores se tornam os custos para reter e atrair espectadores no cinema e no streaming.

Uma das críticas ao Disney+ feita por analistas como Kannan Venkateshwar, do Barclays, é que ao focar em suas franquias e realizar poucos lançamentos, a Disney deixa de ser atrativa para uma audiência mais abrangente e adulta. 

Outro problema é que quando grandes apostas como Viúva Negra e Eternos não decolam, o dinheiro e o tempo perdidos são difíceis de recuperar.

Nesse aspecto, a Netflix leva outra vantagem. Ao se tornar rentável, a líder de streaming tem mais capital livre à disposição para lançar conteúdo mais diverso e atraente para a audiência e até ter surpresas como o fenômeno de audiência Round 6, produzida por uma fração dos custos de uma grande franquia da Disney.

Para muitos, o caminho natural é que as empresas passem a buscar o lucro cortando descontos, promoções e vendas em conjunto para atrair assinantes, como o Disney+ faz desde sua estreia. Em contrapartida, devem seguir o exemplo da Netflix e, no médio prazo, aumentar os preços das assinaturas para equilibrar as contas.

Obviamente é possível argumentar que o Disney+ é apenas uma forma de atrair mais visitantes para os parques e atrações turísticas, além de vender mais produtos. Mas a queda de 9% das ações da Disney na Bolsa no dia seguinte ao anúncio de resultados mostra que os acionistas têm uma visão diferente.

Disney entra no metaverso

Chapek sinalizou que tem planos para o metaverso. Porém, acabou virando piada nas redes ao mostrar pouca intimidade com o tema e dizer que o Disney+ é o metaverso da Disney, mas que ele não imagina que as pessoas o vivenciem em realidade aumentada.

Aparentemente, Chapek esqueceu que a Disney trabalha com projetos de realidade aumentada e que o metaverso sem realidade aumentada perde seu principal fator de interação, mais ou menos como um parque sem brinquedos.

À medida que o streaming fica cada vez mais caro e competitivo, e que a Netflix se consolida na liderança, não se surpreenda se as empresas de mídia começarem a falar cada vez mais do metaverso como próximo grande negócio e deixarem o streaming em segundo plano. Muitos gigantes vão cair nas armadilhas pelo caminho ou encontrar novas histórias de sucesso para contar.


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