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OPINIÃO

Crise de assinantes da Netflix aponta para a morte do streaming?

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Millie Bobby Brown é segurada pelo braço em cena de Stranger Things

Millie Bobby Brown em cena de Stranger Things, série cartão-postal da Netflix

BRUNO MAIA

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 12/5/2022 - 6h15

Os recentes números da Netflix, que apontam uma reversão na tendência de crescimento, não são sinônimos de uma crise no modelo econômico que a plataforma ajudou a inventar e consolidar na cultura do século 21. Estamos diante de uma "tempestade perfeita", na qual fatores de retração econômica se encontram com o fim do domínio praticamente solitário da gigante que virou quase um sinônimo do próprio segmento.

No ambiente corporativo, há uma tese de ocupação de mercado chamada "First Move Advantage". Ela fala de uma enorme vantagem que determinados segmentos oferecem a quem faz o primeiro movimento e o conclui com êxito. A Netflix viveu com isso durante muito tempo no universo do streaming, enquanto outros grandes grupos de comunicação vinham tentando manter os modelos de distribuição de conteúdo via TV a cabo e pay-per-view.

Ambos maximizaram retornos ao longo das décadas de 1990 e 2000, aproveitando a força do catálogo dessas grandes corporações e a capilaridade que tinham de chegar a muitos lares. O resultado de curto prazo era mais certo do que abrir frentes de distribuição digital, que esvaziavam a galinha dos ovos de ouro.

Foi justamente este o caminho seguido pela Netflix --que, como já foi dito várias vezes, nasceu no mercado de distribuição de conteúdo, não de produção. No fim dos anos 1990, para concorrer com a poderosa Blockbuster no aluguel de filmes (sim, jovens, houve um tempo em que íamos a uma loja física para alugar um filme e poder assisti-lo em casa), inovaram ao fazer o envio de DVDs pelos correios.

Reed Hastings e sua equipe rapidamente perceberam para onde o negócio se encaminharia e migraram seus investimentos para o digital, de maneira a poder aproveitar a base de assinantes que tinham construído. Em 2007, começaram o serviço de streaming, no mesmo ano que Steve Jobs lançava o iPhone e apenas dois após o surgimento do YouTube.

Durante toda a década de 2010, a Netflix nadou praticamente sozinha, se aproveitando dos catálogos de grandes estúdios que a percebiam como uma receita adicional. Demoraram a ver a concorrência ali.

Mas, nos últimos anos, as estratégias mudaram. Vários filmes começaram a ser retirados da Netflix por empresas que resolveram criar plataformas concorrentes para entrar em um jogo que já estava praticamente ganho pela empresa de Hastings.

Não dá pra negar a força econômica de concorrentes como Warner, Disney, Discovery e Viacom, entre outros. Sem falar em novos entrantes, como a Amazon. No Brasil, a Globo soma-se à lista. Na segunda metade da década passada, todos começaram a investir em tecnologia, coincidindo com o momento em que a Netflix passou a investir em produzir conteúdos próprios, o que aumentou muito seu custo de operação.

Passados alguns anos, o que vemos já era, até certo ponto, previsível. É natural que, com as novas plataformas de streaming finalmente chegando ao consumidor, como HBO Max, Amazon Prime Video, Paramount+, Hulu, Disney+ e Star+, uma fragmentação da audiência acontecesse.

Nos EUA, um mercado mais avançado na distribuição digital, a média é de entre quatro e cinco serviços de streaming por família --e isso inclui os serviços de outras naturezas, como os de música e de jogos online. Os assinantes não têm como manter tantas assinaturas.

A desaceleração do crescimento, simultâneo à chegada de novos competidores, não surpreende e pode ser considerada ainda tímida. Segundo os resultados divulgados em abril, a Netflix perdeu 200 mil assinantes em um trimestre em que, entre outras dificuldades, houve o bloqueio de acesso aos assinantes russos, em protestos pela guerra contra a Ucrânia.

Para se ter uma ideia, um vazamento não intencional dos balanços da empresa revelou que, em 2021, a plataforma já contava com 19 milhões de assinantes únicos apenas no Brasil. Números bastante inflados pelo crescimento de consumo na pandemia, quando as pessoas passavam mais tempo em casa, e que talvez tenham sugerido uma empolgação maior sobre os anos seguintes.

Temos, portanto, uma combinação de fatores nos números da Netflix: fim da era em que dominava sozinha o mercado, ressaca de um crescimento exponencial gerado pela pandemia, indícios de crise econômica em vários países em um momento de guerra no centro na Europa, e o crescimento de concorrentes.

Mais do que uma recessão de investimentos, é possível prever uma onda de oportunidade para as plataformas concorrentes, que chegaram depois e veem uma chance de diminuírem a distância conquistada pela empresa de Reed Hastings.

Nada muda o fato de que o streaming continua um modelo inevitável de distribuição de conteúdo para a próxima década. Qualquer coisa que o substitua ainda não foi inventada ou é muito embrionária enquanto o próprio streaming se consolida.

A questão da desaceleração dos números diz muito mais respeito ao mercado financeiro. A expansão das estruturas de 5G e de fibra ótica só tendem a aumentar ainda mais a penetração desta tecnologia e a consolidação desses hábitos em todas as camadas sociais. Ainda há muito para o streaming crescer, mesmo que a velocidade seja (um pouquinho) mais lenta.


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