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COLUNA DE MÍDIA

Oscar bate recorde no Globoplay e expõe fragilidade de concorrentes na TV

REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY

Cerimônia do Oscar

Oscar bate recorde no Globoplay e transmissão na plataforma cresce 600% em relação a 2021

GUILHERME RAVACHE, colunista

ravache@proton.me

Publicado em 31/3/2022 - 6h40

Os resultados da audiência do Oscar são uma nova demonstração da força do streaming no lar dos brasileiros. A transmissão ficou em primeiro lugar no ranking de lives do Globoplay. Entre o início e o final da exibição, foram 5,3 milhões de videoviews, seis vezes mais do que a edição passada. O número representa 916 mil horas de consumo, número três vezes superior ao Oscar de 2021.

Foram 983 mil contas da Globo assistindo à transmissão --lembrando que uma conta pode ter mais de uma pessoa assistindo ao evento.

O resultado é ainda mais impressionante se levarmos em conta que o Oscar no Globoplay teve média de 200 mil usuários por minuto, o que significa uma audiência 65% maior do que a registrada pela TV por assinatura.

Os números evidenciam a boa performance da atração no Globoplay, mas apontam para os desafios crescentes dos concorrentes tradicionais da Globo como SBT, Record, Band, RedeTV, além de canais a cabo. 

Netflix se rende à Globo

Há anos a TV a cabo perde espaço para o streaming e ninguém duvida que a queda do número de assinantes é um fenômeno que veio para ficar. Na TV aberta o movimento também acontece, mas é mais lento. Infelizmente, a assinatura de um serviço de streaming ainda é um custo inacessível para muitos brasileiros. 

Então, mesmo com menos espectadores na soma total de audiência das TVs abertas, já que tem cada vez mais gente no streaming, ainda é na televisão que as grandes audiências se encontram.

A TV ainda facilita as conversas virtuais, já que no mesmo horário os espectadores podem compartilhar e debater nas redes sociais o que estão vendo. O fato do primeiro comercial da novela Pantanal ter sido da Netflix mostra que mesmo as empresas "nativas digitais" não ignoram esse fato.

Os números do Oscar no Globoplay, e outros recentes bons resultados da plataforma, como os recordes de audiência do BBB 22 e da novela Verdades Secretas 2, mostram que a Globo tem conseguido realizar uma difícil transição ao recuperar sua audiência da TV no streaming. Ou seja, mesmo que perca público na TV linear, a Globo ganha no Globoplay e, no final do dia, segue líder absoluta de audiência.

Qual o plano dos concorrentes?

No Globoplay a transmissão do Oscar ganhou mais liberdade, e como os números de minutos assistidos mostram, agradou ao público. O feito abre margem para mais possibilidades. A emissora poderia fazer uma segunda transmissão com outros comentaristas, por exemplo. Ou ainda, transmitir uma série de eventos que não encontrariam espaço em sua grade de programação. 

O Oscar corre risco até de deixar a TV aberta, já que sua audiência na rede americana ABC, apesar de ter subido 55% em relação à edição do ano passado, ainda foi a segunda mais baixa da história do evento. Ou seja, graças ao streaming o Oscar pode ter a oportunidade de seguir vivo mesmo que com um público menor e mais segmentado.

Mas se a Globo tem o Globoplay, qual a alternativa dos concorrentes da emissora na TV aberta e a cabo?

Os grandes players internacionais do cabo lançaram seus próprios serviços de streaming. As gigantes WarnerMedia e Discovery inclusive se uniram em uma única empresa para serem mais fortes e concorrer com gigantes como Netflix, Apple TV+ e HBO Max.

No Oscar, o streaming dominou a premiação, com destaque para a Apple TV+ que inclusive venceu a categoria de melhor filme com CODA - No Ritmo do Coração.

Em que pé está a concorrência

O rápido crescimento do Globoplay e de alguns canais de TV a cabo no streaming levam a uma questão desconfortável para o SBT, Record, Band e RedeTV!: o que eles vão fazer quando tudo for streaming?

O SBT é um fenômeno no YouTube, mas a barreira de entrada na plataforma do Google é baixa. Qualquer concorrente pode abrir uma conta e disponibilizar conteúdo para começar a competir em pé de igualdade com o SBT. 

A Globo inclusive fechou uma parceria bilionária de tecnologia com o Google. A emissora carioca não investiu em sua entrada no YouTube por avaliar que não faria sentido gastar milhões para produzir um conteúdo que iria gerar apenas alguns milhares de reais no Google.

Recentemente, foi iniciado um projeto piloto da Globo com o YouTube, mas com foco em apoiar outras iniciativas de marca  e menos focados na receita financeira.

Digitais, mas não muito

A Record tem o serviço de streaming PlayPlus, mas a iniciativa parece que perdeu fôlego nos últimos tempos. Sim, há futebol no streaming da Record, mas a prioridade nitidamente é a TV. Como o Oscar no Globoplay mostrou, as pessoas querem no streaming conteúdo com a mesma qualidade da TV ou até maior.  

Na Band, o braço digital da empresa é a Vibra, que funciona como uma startup independente. Um bonito modo de dizer que a aposta é no Faustão e é para lá que vão os principais investimentos da emissora paulista.  O site da Vibra, ou a falta dele, são um exemplo dessa realidade. Todo o conteúdo da Vibra fica disponível em um perfil do Instagram, não há um site propriamente.

Na RedeTV! o digital é uma grande fonte de receita da emissora. Mas a principal origem do dinheiro no digital são as pegadinhas no YouTube. Dos 200 vídeos mais vistos da emissora na plataforma do Google, somente um deles não é pegadinha. Também é evidente a predominância de produções com mulheres de biquíni, com muitas imagens destacando glúteos.

Se a Globo terá recursos suficientes para competir com as gigantes de tecnologia como Google e Apple na guerra do streaming é uma pergunta difícil de responder. Os resultados da empresa têm sido positivos, ela reverteu o prejuízo e a crise de imagem da emissora parece ter ficado no passado. Nem a recente saída do narrador Galvão Bueno gerou surpresa ou polêmica.

Quando o tema é concorrer com seus pares nacionais, a Globo segue mais líder do que nunca na TV, e cada vez mais também assume uma posição de liderança no digital.


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