HISTÓRIAS DO PASSADO
IMAGENS: REPRODUÇÃO/ARQUIVO NETFLIX
Funcionária da Netflix embala DVD a ser enviado para cliente nos anos 2000; 650 discos envelopados por hora
JOÃO DA PAZ
Publicado em 2/8/2020 - 7h00
Na semana passada, a Netflix bateu um recorde monstruoso no Emmy: recebeu 160 indicações para a cerimônia deste ano, destroçando a rival HBO. E isso com apenas sete anos no mundo das produções originais. Antes disso, a realidade da empresa era outra: ela alugava DVDs comprados em um atacadão de eletrônicos e com funcionários no mais trivial serviço braçal. Uma época na qual a companhia também triunfou.
Fundada em 1997, a Netflix só entrou no mercado hollywoodiano em 2013. Nesse intervalo, toda a fortuna que fazia vinha de um serviço básico, mas com uma operação inusitada. A empresa era uma locadora de DVDs, que eram enviados pelos correios aos clientes. Assim que acabavam de ver o conteúdo do disco, os usuários o devolviam, também por correspondência.
Em entrevista para o programa Nightline, revista eletrônica da rede ABC, no começo dos anos 2000, Reed Hastings abriu o jogo sobre como eram os trabalhos nos primórdios. Mentor da Netflix junto com o parceiro Marc Randolph, ele confessou que a metodologia era simples. Eles compravam DVDs de filmes na loja Best Buy, especializada em produtos de audiovisual, e depois alugavam os discos. "Erámos os maiores clientes deles", brincou o chefão da empresa até hoje.
Mas qual era o diferencial da Netflix? Nos anos 1990 e 2000, fãs de cinema tinham como hábito ir a uma locadora de fita VHS ou DVD e escolher filmes para ver em casa. Existia um período de uso (lançamentos teriam de ser devolvidos em 24 horas) e taxas a serem pagas caso a entrega fosse feita fora do prazo.
Mas a empresa criou outra proposta. O cliente se cadastrava em um site e alugava o DVD que queria. O preço inicial era de US$ 4 por disco. O produto chegava na porta de casa, a pessoa assistia quando quisesse e só devolvia quando bem entendesse. Não tinha multa. E a devolução era feita pelo correio também. Em 1998, a empresa tinha em estoque humilde, de apenas mil títulos do cinema.
Com o sucesso repentino, a dupla de empreendedores mudou a tática. No ano seguinte, foi criado o sistema de assinatura mensal, mais interessante. O cliente pagava um valor único a cada 30 dias e tinha acesso ilimitado ao catálogo da Netflix.
O consumidor escolhia quais DVDs queria assistir em um determinado mês. e a empresa mandava um por vez, na ordem estipulada. O assinante tinha total controle. O segundo DVD só chegava em casa quando o primeiro fosse enviado à empresa.
Envelope de cor vermelha que consagrou a Netflix; serviço de entrega de DVDs ainda existe
Toda a engrenagem de recebimento e envio dos DVDs era manual. Nos centros de distribuição da Netflix, espalhados estrategicamente ao redor dos Estados Unidos, o expediente começava às 2h. O primeiro turno madrugava para preparar as novas encomendas. Em um esquema de linha de produção, os operários abriam os envelopes um a um, para ver se o disco tinha sido danificado.
O processo era frenético. Um único funcionário envelopava 650 DVDs por hora com os novos pedidos. Esforço hercúleo para dar contada da demanda, além do cuidado redobrado de não encaminhar o filme errado para o cliente --a cota de falha nesses casos chegava a 5%.
Somente em 2010 é que uma máquina específica infalível foi instalada em cada centro de distribuição para fazer esse serviço --e muito mais. O robô verificava se havia arranhões no disco, limpava e separava o papel dos envelopes com precisão. Essa máquina envelopava 4.500 DVDs por hora.
A engenhoca exclusiva teve de ser criada para dar conta da demanda. A Netflix crescia exponencialmente a cada ano. O primeiro milhão de assinaturas tinha sido alcançado em 2003. Três anos depois, esse número multiplicou cinco vezes.
Em 2009, a empresa tinha espalhados nos EUA 58 centros de distribuição, que armazenavam 46 milhões de unidades de DVDs. Naquela época, a empresa gastava, só com o serviço postal americano, US$ 300 milhões por ano.
Já dominando o setor de locação de DVDs, a Netflix precisava pensar em algo inovador. Em 2011, veio a ideia de disponibilizar os filmes em um site, que o cliente acessaria e poderia assistir ao longa na tela de um computador.
O serviço era bem rudimentar, só funcionando no navegador Internet Explorer (da Microsoft) e com mil títulos para escolher. E o cliente ainda tinha uma limitação de 18 horas por mês para ver os seus filmes.
Mas aquele foi o pontapé inicial para o que se vê hoje. Além de ter um plataforma de fácil manuseio e com uma qualidade que deixa a concorrência comendo poeira, a Netflix agora faz conteúdo próprio de todo o tipo, com um investimento de US$ 17 bilhões (R$ 88 bilhões) em um ano. As indicações ao Emmy de 2020 comprovam a liderança da empresa e justificam o título de gigante do streaming.
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