'SOLITÁRIA E INTENSA'
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Sabrina Petraglia em ensaio fotográfico; mãe de três, atriz detalha experiência da maternidade
Sabrina Petraglia administra uma maternidade em dose tripla. A atriz de 39 anos é mãe de Gael, de três anos; Maya, de um ano e cinco meses; e Léo, que completa 28 dias neste domingo (8). Com este desafio constante nas mãos, a atriz admite que intercala esta experiência entre momentos de fusão e confusão na criação dos filhos.
"Esse vai ser o meu maior desafio agora, como mãe de três, me dividir para dar uma atenção especial para cada um. Tudo bem, de vez em quando vai ficar uma fusão ou uma confusão, e está tudo certo", conta Sabrina em entrevista ao Notícias da TV.
Casada com o engenheiro Ramón Velázquez, a atriz logo avisa que não pretende ter mais filhos. "Agora acabou, chega! Acho que já deu, três está bom. Dar atenção para três já é difícil, quatro, não! Aí não vai dar para conciliar nada", pontua.
Conhecida pelo público graças a papéis como a Shirlei de Haja Coração (2016) e a Micaela de Salve-se Quem Puder (2020), Sabrina desenvolve novos projetos por trás das câmeras sobre maternidade.
No Dia das Mães, confira a entrevista de Sabrina Petraglia ao Notícias da TV:
NOTÍCIAS DA TV - Como está sendo esse desafio de ter três filhos com idades parecidas? Como você administra essa situação?
SABRINA PETRAGLIA - É, são três! O mais difícil é conseguir dar uma atenção exclusiva para cada um, porque é muito importante essa atenção exclusiva, essa escuta. Ficar só com o Gael, entender em qual fase ele está, com a Maya e, agora, com o Léo.
Agora, estamos nos reorganizando. A cada integrante que chega, a gente se reorganiza, se readequa a tudo, a vida muda. O mais difícil, que já sinto em pouco tempo, é isso, se dividir e dar atenção para todo mundo criando essa fusão, e não ficar só na função. "Ah, tem a função de dar banho, de almoçar, jantar." Não! É importante esse momento de fusão, quando a gente escuta, ouve e entende a criança, é fundamental.
Esse vai ser o meu maior desafio agora, como mãe de três, me dividir para dar uma atenção especial para cada um. Tudo bem, de vez em quando vai ficar uma fusão ou uma confusão, e está tudo certo.
E as suas gestações ocorreram bem próximas. Elas foram planejadas ou foi um susto para você?
A do Gael foi planejada, estava tentando há uns dois meses. No terceiro mês, engravidei. Da Maya, não. Estava no meio de Salve-se Quem Puder (2020) e vendo para colocar o DIU (dispositivo intrauterino). Entramos na pandemia e, depois de um tempinho, engravidei. Foi um susto, pois não estava esperando. Foi bem-vindo porque já queria ter outro filho, mas fiquei muito insegura, não queria atrapalhar o trabalho, fiquei em crise.
O Daniel Ortiz [autor da novela] recebeu superbem, me acolheu muito bem. Depois dessa acolhida tanto do Daniel como do Fred Mayrink [diretor artístico da novela], fiquei um pouco mais tranquila. Do Léo, falei: "Quer saber, acho que quero mais um". De repente, estava nesse momento de trabalho confuso, as coisas ainda estão voltando, me questionei: "Será que é agora, será que não?".
Aí engravidei e perdi, tive um aborto. Falei: "Nossa, acho que é um sinal para esperar um pouco mais, vamos ver mais para frente. Não sei, três, será que vou dar conta?". No mês seguinte, engravidei de novo, meio que no susto, porque estava pensando em esperar.
Não adianta. Quando o nosso corpo, a aura, o espírito consente a vinda de uma criança, e é para ser, não tem quem segure. Acho que consenti, sabe? Em algum lugar, já estava ciente de que ia ter mais um. Agora acabou, chega! Acho que já deu, três está bom. Dar atenção para três já é difícil, quatro, não! Aí não vai dar para conciliar nada.
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O Gael completou três anos neste mês, e você entrou no universo da maternidade com a chegada dele. Você enxerga mudanças na Sabrina de agora em comparação com a Sabrina de três anos atrás?
Com certeza, totalmente! Sou outra pessoa, totalmente transformada, modificada. Com outros valores, outros princípios, outra visão de tudo. Outra experiência também, acho que a maternidade dá muito medo porque é um ser humano que depende 100% de você, nem sabemos direito como dar banho, colocar para dormir, o que fazer quando ele chora.
Hoje, com o Léo, já tenho uma experiência, um amadurecimento, e a gente vai se transformando porque os sentimentos se alargam, todos os tipos. O do medo, da alegria, do amor. É tudo muito intenso! A maternidade é muito solitária e muito intensa. Solitária porque é você e o bebê o tempo todo. Você pode compartilhar com outras mães esse momento, mas ele é solitário.
Lembro-me de tudo! Do meu primeiro banho com o Gael, que foi saindo da UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. O primeiro banho da Maya foi no chuveiro com o meu marido. Com o Léo, lembro do banho com o meu marido e o meu primeiro banho nele, quando chegamos em casa
A maternidade é demais! Nunca pensei em ser mãe, não pensava em ser. Só fui mãe mesmo porque encontrei um parceiro com quem tive vontade de construir uma família, porém a maternidade não era um desejo, um sonho. Aconteceu e que bom que aconteceu, gostei da experiência, gosto de ser mãe. Não é a toa que tive três.
Na vida pessoal, você sente pressões estéticas ou mudanças no corpo? Até na questão de saúde mental, como você enfrenta essas questões?
É uma mudança muito rude. O corpo muda, o psicológico também. Tudo muda e nunca mais será como era, a verdade é essa. Fica até melhor, mas será diferente. Três seres humanos passaram por essa barriga, então não é uma barriga "zerada".
Claro que a gente vai trabalhar para ficar melhor, para a nossa autoestima ficar boa. Com certeza estou com alguns quilos a mais do que tinha antes, ainda estou inchada. Tive que fazer uma cesárea, então ainda está dolorido, não estou 100%. Parece que os órgãos não voltaram para o lugar direito. Você fica com o corpo bagunçado, ainda mais depois de três gestações muito próximas.
Não me sinto pressionada a voltar, de verdade. O corpo demora nove meses para se transformar, foram três vezes seguidas. Então, agora vou tomar o meu tempo para o corpo voltar ao lugar. Estou grata. Minha barriga não está um tanquinho, e está tudo bem. Quero voltar para a atividade física quando der, tudo no seu tempo, sabe?
Estou me respeitando e agradecendo ao meu corpo por todos esses momentos, pelas vidas que gerei. Estou fazendo um exercício de gratidão com o meu próprio corpo, de aceitar quem sou hoje, com toda a bagagem de três filhos nesse corpo que me acolhe.
Sim, nos sentimos pressionadas, ainda mais a gente que trabalha com imagem. Todo mundo espera que, depois de um mês, você esteja magra, com a barriga tanque. Desculpa, não vou tomar um remédio e deixar de amamentar para ficar magérrima. Não vou correr risco de voltar para uma atividade física sem esperar o tempo certo.
Tudo bem quem volta tão rápido, tem gente que tem mais facilidade, não quero me comparar a ninguém. Vou tomar meu tempo, ficar bem com o meu corpo, com o meu psicológico. Se alguém falar alguma coisa, eu respondo: "Estou tomando o meu tempo, sou mãe de três".
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As gestações da Maya e do Léo ocorreram na pandemia. Além das incertezas desse período de crise sanitária, você ficou com algum medo por causa do momento complicado que ainda vivemos?
Com certeza! Quando engravidei da Maya, fiquei desesperada, foi um choque. Claro, fiquei feliz por ser uma vida, mas fiquei assim: "Meu Deus, engravidei na pandemia. E se pego Covid grávida, o que vai acontecer?". Muito medo, fiquei neurótica, não saía de casa.
Com o Léo foi um pouco menos, pois já estava vacinada, tomei a terceira dose durante a gravidez dele. Gerou um medo de saúde mesmo, com o que poderia acontecer. Um vírus tão novo que ninguém sabe direito o que pode dar.
Durante a gravidez da Maya, você voltou para gravar a segunda temporada de Salve-se Quem Puder. Imagino como foi essa loucura, até porque você teve cenas de tapas.
Foi uma loucura, estava com cinco meses. Descobri que estava grávida do Gael na segunda semana de gravação da série Pico da Neblina [2019, HBO], era um sonho gravar com o Fernando Meirelles [diretor e cineasta]. Não falei para ninguém que estava grávida. Poderia ter falado porque a equipe ia me acolher de todas as formas, mas fiquei com receio, não falei e estava no começo. Com quatro meses, não aparecia barriga nenhuma.
Em Salve-se Quem Puder, a minha barriga já tinha apontado com cinco meses. Então, não dava para esconder. Era gravar com roupas mais larguinhas e tudo no close. Nesta cena em especial, tinha que me jogar, era uma cena de ação, de corpo físico. Com todo o cuidado do mundo, eles [a produção] colocaram um colchão, tinha todo um jeito de cair de forma leve.
Na cena não parecia leve, foi complicado, mas foi uma delícia. Foi com muito cuidado, a equipe toda preparada. Tinha uma dublê, mas falei que queria fazer. Deu tudo certo! Foi engraçado, uma experiência legal.
Não sabíamos como seria, as cenas de beijo eram com acrílico. Então, eu e o Marcos [Pitombo] ficamos separados pelo acrílico. Eles testaram um chroma-key, uma bolinha. Foi uma experiência nova, gravar em pandemia. Tive essa experiência e foi inusitada.
Quais são os seus próximos projetos profissionais?
Eu me juntei com algumas mães, como a Thaís Vilarinho, que é a Mãe Fora da Caixa, tem vários livros, é famosa no Instagram; a Nathalia Dill, mãe da Eva; a Bárbara Garcia, que é uma amiga que poucos conhecem, atriz, mãe solo, preta, militante, engajada, fez teatro comigo muitos anos aqui em São Paulo; e com a Dani Junco, da B2Mamy, uma empresa que empodera mulheres a serem independentes financeiramente mesmo com a maternidade.
Nós nos juntamos e estamos desenvolvendo dois projetos: o primeiro será uma roda de conversa sobre essa maternidade real, não sabemos se será um podcast ou um programa; e o segundo é uma ficção, um filme ou uma série.
Estamos produzindo, escrevendo isso juntas e esperamos que dê bons frutos porque o projeto está muito bonito e tem um propósito muito legal, que é o de acolher mães pós-maternidade e empoderar essas mulheres a voltarem ao trabalho e serem independentes. E de acolher, de não julgar, de ser a rede de apoio para mulheres que não têm essa rede de apoio dentro de casa.
Voltando a sua carreira como atriz, a Shirlei de Haja Coração [2016] foi um divisor de águas. Como você enxerga a sua última década na atuação?
Sim, ela foi um divisor de águas. Trabalhei sete anos na Rádio Eldorado, do Estadão, como jornalista. Falava sobre cultura, teatro, e estava ficando muito amarga, falando mal de tudo, estava muito chata, aí falei: "Por que estou tão chata assim, meu Deus? É porque tenho inveja dessas pessoas que sobem no palco, e eu não tenho coragem de subir. Não faço aquilo que desejo de coração".
Lembro que tinha 24 anos e decidir fazer vestibular para a Escola de Artes Dramáticas da USP [Universidade de São Paulo]. Na época, disse: "Se passar, vai ser um sinal de que tenho que seguir esse caminho". Entrei e me emburaquei lá, aprendi muito. Pedi demissão do Estadão e comecei a fazer teatro.
Trabalhei um tempão no teatro, mas pensei assim: "Fui uma criança que sempre assistiu novela. Minha avó, minha mãe, minha bisavó, todo mundo é supernoveleiro. Eu queria fazer novela". Na USP, todo mundo dizia: "Nossa, você que não quer fazer o teatrão?". Eu respondia: "Tá bom, eu quero fazer o teatrão, mas também quero fazer novela".
Fiz o teste no SBT para Uma Rosa Com Amor [2010], lembro que tinham mais de 5 mil meninas. Deu sorte que a Carla Marins [protagonista da trama] aceitou fazer a novela, e acharam a gente parecida. Eu era a irmã dela, então isso contribuiu. Assim fiz a minha primeira novela, com a Betty Faria, que é madrinha do meu casamento e minha grande amiga, minha primeira amiga da televisão.
Fiz participações em Passione [2011] e em Flor do Caribe [2013]. Veio a Itália em Alto Astral [2014] e aí, depois, o golaço da Shirlei. Acho que consegui, eu provei o sucesso da Shirlei. De repente, eu assistia Chocolate com Pimenta [2003] e falava: "Nossa, olha só a Mariana Ximenes". Daqui a pouco, ela era a minha irmã.
De repente, realizei um sonho de criança, que era fazer novela e fazer sucesso em uma novela, porque acho que a Shirlei foi um sucesso. Não tem como falar que não foi, senti isso na pele. Na rua, tinha gente que se jogava no chão e beijava minha perna para sarar.
Então assim, eu me realizei. Espero fazer outras novelas, trabalhos e séries que sejam um sucesso. Mas, se não fizer, já passei por isso e já vivenciei. Realmente foi especial e nunca vou esquecer essa personagem que o Daniel Ortiz me deu. Adoro audiovisual, novela, cinema. Estou morrendo de saudade do palco também. Enfim, gosto de atuar. Não importa onde, estou sempre à procura de bons papéis e eu adoro.
Tem vontade de fazer uma vilã?
Um Anjo Mau [1976; 1997], uma boazinha que não é boazinha. Tenho essa coisa angelical, mas jogar no outro time pode ser bem interessante. Tenho vontade de fazer uma vilã. Eu gosto de fazer mocinhas, acho muito mais difícil do que fazer vilã, porém tenho essa vontade.
Gosto de fazer bons papéis, não importa o tamanho deles, pode ser uma coadjuvante ou uma protagonista. Não importa. Quero bons papéis, em que a gente consiga trabalhar bastante. Eu gosto do que faço, amo meu ofício. Tentei não ser atriz, juro que tentei.
A gente ficou isolado durante tanto tempo, voltar a fazer teatro será emocionante. Também penso em teatro infantil, quero que meu principal público sejam os meus filhos, a minha plateia. Minha plateia mais exigente.
E como você enxerga atualmente, como mãe e mulher?
Acho que tudo te transforma. Essa experiência na televisão me amadureceu muito, realizei um sonho. A maternidade também me transformou. Acho que serei uma atriz muito melhor depois da maternidade. Você não precisa ser mãe para ter esse sentimento vertical, mas no meu caso, a experiência da maternidade me verticalizou nesse sentido.
A gente se transforma o tempo todo, ano após ano, e muita coisa em tão pouco tempo. Foi a época mais intensa e transformadora da minha vida. Acho que nesses últimos anos eu me realizei, eu realizei sonhos e até os sonhos que nem sabia que tinha, como o de ter filhos. Acho que sou uma pessoa realizada. Tenho 39 anos, ano que vem faço 40, vou olhar pra trás e dizer: "Que bom".
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