MEMÓRIA DA TV
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Tarcísio Meira (1935-2021) em cena de Araponga (1990); faixa foi criada após Pantanal (1990)
Publicado em 8/5/2022 - 6h20
Depois da estreia de Pantanal (1990) na Manchete (1983-1999), a Globo não sabia mais o que fazer para tentar conter o crescimento da novela de Benedito Ruy Barbosa. Apesar de não concorrer diretamente com Rainha da Sucata (1990), a novela das oito da época, a produção da concorrente fatalmente vencia o que vinha em seguida.
Para tentar segurar a concorrente, a Globo usou a minissérie Riacho Doce (1990) e apelou para a nudez de Claudia Raia em Rainha da Sucata. Ao mesmo tempo, alguns programas foram extintos porque apanhavam feio da novela, como o humorístico TV Pirata (1988-1992). Atrações como Chico Anysio Show (1982-1990) e Linha Direta (1990, 1ª versão) também perderam a vez.
Como não havia forma de esticar ainda mais a duração dos capítulos da trama de Silvio de Abreu, o jeito foi apelar para outra novela.
Do jeito que deu, a emissora estreou Araponga (1990), de Dias Gomes (1922-1999), Lauro Cézar Muniz e Ferreira Gullar (1930-2016), que entrava no ar logo após Rainha da Sucata, às 21h30, quando Pantanal estava bombando.
A trama iniciou sua trajetória em 15 de outubro daquele ano, mas não deu certo, terminando em 29 de março de 1991.
Araponga estava prevista para substituir Rainha da Sucata, mas acabou sendo antecipada e alocada nessa nova faixa, que existiu somente nessa ocasião. Com isso, Cassiano Gabus Mendes (1927-1993) foi convocado para escrever a substituta, Meu Bem, Meu Mal (1990).
Araponga mostrava a história do detetive Aristênio Catanduva (Tarcísio Meira), um sujeito atrapalhado que trabalha para a Polícia Federal, anos após prestar serviços ao regime militar (daí vem o nome do personagem e da trama).
Mesmo sendo estrelada pelo galã Tarcísio Meira (1935-2021), ainda em plena forma, e contando com beldades como Christiane Torloni e Luiza Brunet no elenco, a obra é pouco lembrada.
A tática de nada adiantou. Araponga tentou fazer novela de um jeito novo, como seu próprio slogan anunciava, mas o público rejeitou a ideia.
"A sequência de capítulos tinha a estrutura de novela, mas o ritmo era de seriado. Confundiu o telespectador", destacou o especialista Ismael Fernandes (1945-1997) no livro Memória da Televisão Brasileira.
Mesmo exposto em um contexto tão desfavorável, o fracasso da novela não arranhou a imagem consagrada de galã de Tarcísio Meira, que encarou a repercussão negativa com naturalidade e bom humor.
Boa parte das críticas vinha do tratamento que a mãe, dona Marocas, interpretada por Zilka Salaberry (1917-2005), dispensava ao filho, mimando-o a ponto de lhe servir mamadeira no colo.
Em uma entrevista ao jornal O Globo, publicada em novembro de 1994, o ator falou sobre personagens dele que sofreram com críticas, a exemplo daquele que interpretava à época, o vilão Raul Pellegrini, de Pátria Minha (1994).
"Era ridículo. As pessoas se decepcionavam, ficavam indignadas. E talvez até com razão. Já as crianças adoravam. Era como se fosse o pai delas tomando mamadeira. Eu gostava", declarou Tarcísio ao relembrar Araponga.
Com apenas 113 capítulos, Araponga, nunca reprisada, ficou marcada na história da televisão pela tentativa --em vão-- de brecar Pantanal. Quem sabe um dia o público possa acompanhar essa esquecida produção no Globoplay.
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