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ESTREIA NO GLOBOPLAY

Alcoolismo, casal lésbico e assassinato: Como Vale Tudo mexeu com o Brasil?

Divulgação/TV Globo

A atriz Renata Sorrah olhando para cima, com olhar vago, em cena como Heleninha em Vale Tudo

Renata Sorrah interpretou Heleninha Roitman, personagem que sofria com alcoolismo em Vale Tudo (1988)

REDAÇÃO

Publicado em 19/7/2020 - 6h55

Estreia neste domingo (19) no Globoplay uma das novelas de maior sucesso da história da teledramaturgia brasileira: Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga. A história teve grande engajamento com o público da época ao trazer questões que causam polêmica e repercussão na TV até hoje, como alcoolismo, homossexualidade e um assassinato misterioso.

Vale Tudo tinha como tema central uma pergunta moral: vale a pena ser honesto no Brasil? As protagonistas, mãe e filha, eram opostos completos: Raquel, interpretada por Regina Duarte, foi uma mocinha impecável, correta do início ao fim --para a atriz, era santinha até demais.

Maria de Fátima, vivida por Gloria Pires, só pensava em dinheiro e poder. Era capaz de passar por cima de quem precisasse para alcançar seus objetivos, inclusive (e principalmente) de sua mãe.

A personagem cometeu várias atrocidades na novela, aliada a outros dois vilões: Odete Roitman (Beatriz Segall) e Marco Aurélio (Reginaldo Faria). Os três falavam absurdos, tratavam mal seus subordinados e destilavam preconceitos contra a população mais pobre --algo que gerou revolta na época e certamente não seria tolerado pelos defensores do politicamente correto atualmente.

No entanto, as tramas dos vilões, que retratavam falcatruas, corrupção e abusos de poder, foram muito mais facilmente aceitas do que a história de amor de um casal formado por duas mulheres.

A homossexualidade ainda era um tabu na televisão e na sociedade nos anos 1980, e a Globo teve obstáculos para veicular cenas entre as namoradas Cecilia (Lala Deheinzelin) e Laís (Christina Prochaska). Elas viviam juntas em Vale Tudo, mas o relacionamento não era aceito nem pelos familiares. As duas eram rejeitadas e criticadas por Marco Aurélio, irmão de Cecília. 

Na vida real, diálogos que deixavam mais explícita a relação homossexual das mulheres foram vetados pela Censura Federal, ainda em vigor na época. Cecília morreu na novela, o que já estava previsto desde a sinopse. A partir daí, Vale Tudo discutiu uma questão ainda muito obscura na época, sobre quem deveria ficar com a herança de alguém que vivia em um casamento homossexual.

Outro tema forte explorado pela novela foi o alcoolismo, retratado pela personagem Heleninha Roitman (Renata Sorrah). Artista insegura, ela afogava suas mágoas na bebida. A personagem virou até alvo de piada entre os telespectadores, mas a novela implementou uma campanha social ao mostrar que Heleninha procurou ajuda nos Alcoólicos Anônimos e conseguiu se recuperar do vício.

reprodução/tv Globo

Odete Roitman (Beatriz Segall) em cena do assassinato que mexeu com os telespectadores


Quem matou?

Mas nada mexeu tanto com o público brasileiro quanto o assassinato de Odete Roitman. A vilã foi morta com um tiro no peito, e vários personagens se tornaram suspeitos, uma vez que a megera colecionava vários inimigos.

O mistério durou apenas 11 capítulos, mas gerou tanta repercussão que virou não só o assunto do momento como também um dos crimes mais comentados da teledramaturgia até hoje. Na época, houve até concurso de uma marca de alimentos para premiar o telespectador que acertasse o nome do assassino.

A revelação aconteceu no último capítulo: quem matou Odete Roitman foi Leila (Cássia Kis), mulher de Marco Aurélio. Na verdade, ela atirou pensando que se tratasse de Maria de Fátima, que estava tendo um caso com seu marido.

Numa representação da impunidade no Brasil, Leila não pagou por seu crime. Ela e Marco Aurélio, um notável corrupto, foram embora do país, com a célebre cena em que o vilão dá uma banana para o Brasil enquanto embarca em seu avião

Vale Tudo estará disponível na íntegra no Globoplay a partir deste domingo. Ela está entre as 50 novelas antigas que entrarão para o catálogo da plataforma.

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