OPINIÃO
DIVULGAÇÃO/ NETFLIX
Gêmeos Lucas e Marcel em The Circle Brasil; participantes fingiram ser Luma no reality show
HENRIQUE HADDEFINIR
Publicado em 28/3/2020 - 5h02
Se você escuta algo sobre pessoas confinadas em uma casa, pensa logo no Big Brother Brasil, da Globo. Se ouve falar sobre perfis fakes na internet, criados para enganar pessoas, a associação rápida é com Catfish, da MTV. Imagine, então, se existisse um reality em que as duas premissas fossem unidas... Pois bem, esse programa existe.
O The Circle nasceu na Inglaterra em 2018 e já teve duas temporadas por lá, no canal Channel 4. A Netflix comprou o formato e começou a produzir versões em outros países: no início do ano, estreou a norte-americana; neste mês, a versão brasileira chegou ao catálogo com quatro episódios a cada quarta-feira. Os quatro últimos, que coroam o grande vencedor, foram liberados no último dia 25 e surpreenderam com uma vitória que gerou controvérsia.
O programa consiste em reunir um número de pessoas que não se conhecem em um complexo de apartamentos e permitir que eles se falem apenas através de uma rede social que leva o mesmo nome do programa. Essas pessoas podem criar perfis falsos, e o objetivo é conquistar popularidade para evitar ser eliminado.
Os jogadores precisam avaliar uns aos outros, colocando-os em um ranking. Os dois primeiros desse ranking são eleitos influencers e podem escolher, de comum acordo, alguém do resto do grupo para bloquear/eliminar.
Além da tensão sobre as posições do ranking e sobre a eliminação, o programa ganha força na ótima ideia de fazer com que cada eliminado tenha o direito de visitar o apartamento de um dos outros participantes, provocando as reações sobre a identidade real de quem saiu.
O primeiro time de participantes, que chegou no primeiro dia, foi formado por Marina (que fingiu ser cantora), JP (um bombeiro que não mentiu sobre nada), Dumaresq (um grande defensor da diversidade e da comunidade gay que também não mentiu no perfil), Julia (que na verdade era um cuteleiro heterossexual), Lorayne (que foi sincera no perfil), Akel (que só mentiu a idade e a profissão), Lucas (que na verdade era a lésbica Paloma) e Gaybol (um gamer que também não ocultou nada).
A cada eliminação, um novo jogador era inserido no jogo, o que nos levou a conhecer Luma (que na verdade eram os gêmeos gays Lucas e Marcel), Ray (que não mentiu sobre nada), Ana (que era o debochado Raf) e Renan (que entrou por último, falando a verdade, mas durou apenas dois dias).
A entrada de Renan no episódio nove, inclusive, repete um erro das versões americana e britânica, que é inserir alguém novo com tão pouco tempo para que essa pessoa se desenvolva no programa. Luma, Rayssa e Ana, que entraram depois, até tiveram um bom desempenho, melhor do que os novatos que foram entrando no decorrer da edição americana. Porém, inserir alguém depois do sétimo capítulo é o mesmo que condenar esse participante.
Em muitos aspectos, aliás, o The Circle Brasil foi superior ao seu primo dos Estados Unidos. Além de ter participantes mais intensos e ávidos pela oportunidade, a versão brasileira se pautou no jogo de uma maneira bem mais incisiva. O bombeiro JP, por exemplo, manipulou tão bem os colegas que desmontou todo o jogo da favorita Lorayne, colocando-a em grande risco.
Os perfis fake também foram muito bem-sucedidos. No começo Lucas e Julia (que na verdade eram Paloma e Rob) foram mal nas suas composições. Sobretudo Rob, que revelou-se estranhamente sexualizado e inconveniente. Entretanto, Luma (os gêmeos) e Ana (Raf) conseguiram enganar os outros durante bastante tempo. Raf, inclusive, foi um frescor com seu humor cínico sobre o jogo demagógico dos outros.
A diversidade na escolha do elenco também foi um ponto muito positivo do reality. Se na versão americana uma jovem gordinha entrou com um perfil de uma menina magra, aqui na nossa versão tivemos o contrário: Raf usou sua amiga gorda e bem resolvida como alter ego. Além disso, Marina, uma carioca muito extrovertida e plus size, entrou assumindo essa bandeira com muita alegria.
O fato de termos gays, lésbicas, gordinhas, nerds, nordestinos e negros misturados a participantes considerados dentro dos padrões deu ao reality a chance de explorar as positividades que envolvem várias dessas comunidades, já que nenhum deles sublinhou as próprias mazelas, preferindo naturalizar as culturas e comportamentos que lhes cabiam. A não-vilanização dos fakes também é um ponto alto do programa.
A apresentação de Giovanna Ewbank foi correta, mas suas narrações estão longe da esperteza e humor que vimos na narradora da versão norte-americana. E para quem achou que os apartamentos eram muito parecidos ao que se viu nas outras edições, há um motivo: todas elas foram gravadas no mesmo lugar. Ou seja, o The Circle Brasil foi rodado na Inglaterra.
Com uma vitória controversa (quem venceu polarizava opiniões aqui fora), mas importante, o The Circle Brasil fez uma ótima primeira temporada, com muitas passagens engraçadas, tensas, emocionais, tudo que um bom reality precisa ter. Enfim, ficou a interessante ideia de que para ter é mais importante ser --o que, nos tempos de hoje, soa como uma lição que poderia ser replicada em cada lar do país.
O primeiro ano do The Circle Brasil (assim como o da versão americana) já está disponível no Netflix, e a edição francesa estreia no início de abril.
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