QUEDA DRÁSTICA
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Luiz Inácio Lula da Silva em live retransmitida pela Jovem Pan em 13 de junho: menos verba
Após ter apoiado Jair Bolsonaro (PL), a Jovem Pan viu diminuir drasticamente a verba para veicular publicidade oficial do Governo Federal nos primeiros seis meses do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Alvo de uma investigação do MPF (Ministério Público Federal) pela conduta diante dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília, a emissora despencou no ranking das campeãs da verba de propaganda federal após a troca de presidente.
Segundo dados oficiais da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República, compilados pelo jornal Folha de S.Paulo, a Jovem Pan tinha firmado contratos que somaram R$ 18,8 milhões --sem contar a publicidade de bancos e gigantes estatais-- entre 2019 e 2022, período equivalente ao mandato de Bolsonaro.
A rede de rádio e TV, dessa forma, se consolidou como a 12ª empresa com mais verbas de publicidade federal nos últimos quatro anos.
Mas, na gestão de Lula, apenas uma rádio afiliada de Manaus apareceu no sistema de divulgação de verbas federal deste ano. O valor pago foi de apenas R$ 2.413 para transmissão de campanha de combate à tuberculose.
A Secom não esclareceu se decidiu tirar a Jovem Pan dos planos de mídia do Governo Federal em 2023, apenas informou à Folha que segue estudos técnicos das agências de publicidade e considera fatores como "audiência, segmento, cobertura etc".
A pasta ainda explicou que as campanhas publicitárias "não ocorrem de forma simultânea" para todos os grupos de comunicação. "O portal [de campanhas da Secom] informa valores parciais e somente as autorizações confirmadas pelos órgãos. Além disso, está em constante atualização em função do fluxo de informações", diz a nota.
Os dados da Secom também mostram que a Globo voltou a liderar o ranking de pagamentos da publicidade do Governo Federal nos primeiros seis meses do governo Lula.
Segundo a Folha, a emissora da família Marinho recebeu ao menos R$ 54 milhões em anúncios da Secom e dos ministérios. Já a Record ficou com R$ 13 milhões, e o SBT foi o destino de outros R$ 12 milhões.
Na gestão de Jair Bolsonaro, o cenário era o oposto. A Globo tinha recebido valores similares aos das duas principais concorrentes. Enquanto a Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, apresentava vantagem na relação de emissoras e empresas escolhidas para veicular a publicidade estatal.
Na presidência da Jovem Pan desde o afastamento de Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, Roberto Alves de Araújo se manifestou sobre a diminuição de verba de publicidade do Governo Federal.
"Causa estranheza que a Jovem Pan tenha ocupado, segundo dados obtidos pela reportagem, a 12ª posição entre os veículos que receberam verbas de publicidade federal na administração anterior, pois nossos números de audiência nos colocam em posição de destaque frente a outros players no mercado", afirma na nota enviada à Folha.
"Mais estranheza ainda que o governo atual, mesmo diante de números que comprovam a eficácia da Jovem Pan na comunicação direta com o público, ignore completamente o grupo em suas campanhas, sem alegar qualquer critério técnico para que isso ocorra", alfinetou. "A escolha política de um veículo em detrimento de outro denota o completo abandono da boa administração pública em nome de ideologias."
O executivo ainda ressaltou que a Jovem Pan tem mais de cem rádios afiliadas no país, além da TV por assinatura, "onde ocupa a segunda posição na audiência entre os canais de notícias e na internet". Também afirmou que o canal do YouTube alcança "mensalmente mais de 40 milhões de usuários únicos".
"A Jovem Pan está sempre aberta ao diálogo com a Secom para ajudar o governo em seus objetivos de comunicação junto à sociedade", completou a nota.
A Jovem Pan virou alvo de um inquérito do Ministério Público Federal (MPF), que apura a conduta da emissora diante dos atos antidemocráticos ocorridos em Brasília em 8 de janeiro. O órgão avalia se o canal de notícias veiculou notícias falsas ou divulgou comentários abusivos sobre os três poderes, inflamando ainda mais os golpistas.
A instituição revelou que fez um levantamento ao longo dos últimos meses, detectando que a emissora veiculou "sistematicamente fake news e discursos que atentam contra a ordem institucional, em um período que coincide com a escalada de movimentos golpistas e violentos em todo país".
Conforme informou o Notícias da TV, a Jovem Pan chegou a proibir seus funcionários de usarem termos como "golpistas", "bolsonaristas" e "antidemocráticos" para se referir aos criminosos que invadiram e destruíram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF).
A ordem era de que os apoiadores de Bolsonaro que estavam em acampamentos em frente ao Exército fossem descritos apenas como "manifestantes". A regra foi flexibilizada somente no dia seguinte, quando saiu a autorização de uso para jornalistas durante a cobertura dos atos em Brasília.
No mês passado, o MPF em São Paulo também abriu uma ação civil pública pedindo o cancelamento das três outorgas de radiodifusão concedidas à Jovem Pan. A emissora é acusada de ter realizado "campanha de desinformação" em 2022, com a disseminação de conteúdos que atentaram contra o regime democrático.
Apesar de a rede também ter canal de televisão e no YouTube, a ação do MPF se limita ao cancelamento das concessões de rádio, uma vez que a radiodifusão constitui um serviço público.
O Ministério analisou o conteúdo transmitido pela emissora entre 1º de janeiro de 2022 e 8 de janeiro deste ano. A ação focou os programas Os Pingos nos Is, 3 em 1, Morning Show e Linha de Frente.
Além do pedido de cancelamento, o Ministério Público Federal pede uma indenização de R$ 13,4 milhões em danos morais coletivos. O valor corresponde a 10% dos ativos do canal apresentados em seu último balanço.
Em nota enviada para o Notícias da TV, a equipe da Jovem Pan afirmou que sua defesa "será manifestada exclusivamente nos autos do processo". "O grupo Jovem Pan reafirma diariamente, ao longo de 80 anos, seu compromisso com a sociedade brasileira e a democracia", diz o comunicado.
Após a abertura do inquérito do MPF, o canal anunciou que o empresário Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, conhecido como Tutinha, deixou a presidência da empresa. Ele foi substituído por Roberto Araújo, que era CEO do grupo desde 2014. Segundo a Jovem Pan, a saída de Tutinha estava definida desde setembro e ocorreu em 1º de janeiro, mas só foi anunciada no dia 9.
Os comentaristas Rodrigo Constantino e Zoe Martinez acabaram demitidos da emissora. Os dois tinham sido temporariamente afastados de seus cargos três dias depois do anúncio das investigações. A participante do Morning Show já havia se ausentado em outubro por infração eleitoral.
Nas últimas semanas, a Jovem Pan tem dispensado mais jornalistas, como Katiuscia Sotomayor e Adriana Reid. O Notícias da TV apurou que outras demissões de jornalistas e apresentadores aconteceram na semana passada. Funcionários foram afastados compulsoriamente da emissora até segunda ordem e temem que sejam demitidos quando voltarem do "recesso" dado pela empresa.
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