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COLUNA DE MÍDIA

Fuga ou estratégia copiada da Globo: Por que Tutinha renunciou à Jovem Pan?

DIVULGAÇÃO/JOVEM PAN

Tutinha, dono da Jovem Pan

Tutinha renuncia ao comando da Jovem Pan: fuga ou tentativa de preservar imagem durante mudança

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 10/1/2023 - 6h30

Na segunda-feira (9), Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, renunciou ao cargo de presidente do Grupo Jovem Pan. O novo comandante será Roberto Araújo, CEO do grupo desde 2014. Fuga, reformulação ou uma inspiração em estratégia adotada pela Globo no passado: o que motivou a saída de Tutinha?

Provavelmente, um conjunto de razões. A primeira, o inquérito instaurado pelo MPF (Ministério Público Federal) para apurar "a conduta do grupo bolsonarista na disseminação de conteúdos desinformativos a respeito do funcionamento das instituições brasileiras e com potencial para incitar atos antidemocráticos".

Segundo o MPF, "o foco da investigação será a veiculação de notícias falsas e comentários abusivos pela emissora, sobretudo contra os poderes constituídos e a organização dos processos democráticos do país".

O órgão reuniu uma longa lista de comentários realizados por profissionais da empresa ao longo dos últimos meses, além de diversas falas tentando defender os atos criminosos dos terroristas que invadiram e depredaram as sedes dos três poderes no último domingo (8).

A renúncia também permite que Tutinha more no exterior, onde é mais difícil a ação da Justiça brasileira. Porém, a saída do executivo ainda traz outras vantagens.

Tutinha perdeu o controle

No final do ano passado, Tutinha já havia avisado aos funcionários de sua empresa que não iria pagar a conta do bolsonarismo. O executivo temia principalmente retaliações do STF por meio de multas. Ele disse em reuniões internas que "a desobediência civil não sairá do meu bolso".

Mesmo após a ordem de Tutinha para que seus profissionais parassem de divulgar fake news e desinformação, o que se viu no último domingo foi uma empresa sem controle. 

O MPF cita como exemplo o comentarista Alexandre Garcia, comentarista contratado do canal, que "chegou a fazer uma leitura distorcida da Constituição para atribuir legitimidade às ações de destruição diante do que ele acredita ser um contexto de inação das instituições". 

"É o poder do povo", disse o ex-Globo e CNN Brasil, em alusão ao artigo 1º da Lei Maior. "Nos últimos dois meses as pessoas ficaram paradas esperando por uma tutela das Forças Armadas. A tutela não veio. Então resolveram tomar a iniciativa".

Paulo Figueiredo, por exemplo, disse no ar que "as pessoas estão revoltadas com a forma como o processo eleitoral foi conduzido, elas estão revoltadas com a truculência com que certas instituições têm violado a nossa Constituição".

O documento do MPF reúne ainda diversas falas semelhantes de outros profissionais do canal. Ou seja, ninguém na Jovem Pan leu o memorando de Tutinha --ou, se leu, ignora ou não consegue mudar o comportamento.

Uma 'limpa' na Jovem Pan

Se ninguém obedece, o jeito é mudar radicalmente, já que a demissão dos bolsonaristas mais "raiz" não parece ter sido um recado forte o bastante.

Com Tutinha fora de cena, mesmo que atuando nos bastidores, há espaço para o serviço "sujo" ser feito na Jovem Pan sem que o ex-presidente se comprometa com ninguém. 

E qual é esse serviço sujo? Basicamente, cortar custos e demitir todos aqueles que possam comprometer o futuro da empresa, mesmo que isso signifique trazer a Jovem Pan para o centro do espectro político e mudar todo o time.

Obviamente, a medida é altamente impopular. Seria um claro sinal contra o bolsonarismo, mas essencial para a sobrevivência do grupo. Além de perder anúncios do governo, a companhia nas últimas semanas foi alvo de uma campanha de desmonetização do Sleeping Giants Brasil, que afastou os poucos anunciantes que restaram na empresa.

Se a mudança não funcionar, Tutinha poderá dizer que não participou e as decisões foram de terceiros. Mas, se der certo, o executivo seguirá recebendo dividendos, já que continua como sócio.

Tutinha ainda poderá retornar ao comando da empresa caso o cenário político tenda novamente à direita no futuro. Dependendo do rumo, caso volte o bolsonarismo, ele pode até retornar como um "herói" exilado.

Estratégia usada pela Globo

Por razões diferentes, a Globo já fez isso no passado, quando o comando do grupo de comunicação da família Marinho foi entregue ao executivo Jorge Nóbrega, em 2017.

Nóbrega deu o start ao projeto Uma Só Globo. Altamente impopular, a mudança cortou bilhões em custos e promoveu a demissão de centenas de funcionários unindo cinco empresas do grupo. Entre as mudanças estava o fim dos contratos fixos das estrelas da casa. Muitos benefícios e mordomias também foram extintos e contratos históricos deixaram de ser renovados.

Como a família Marinho não estava no comando no período, a figura pública responsável pelas medidas impopulares foi Nóbrega. Na época das mudanças, muitos chegaram a dizer que a Globo iria quebrar.

Quando a reestruturação estava concluída, a líder de audiência estava com caixa reforçado. Na hora de a Globo de voltar a crescer, os Marinho retornaram ao comando. Em 2022, Paulo Marinho assumiu a presidência e João Roberto Marinho o comando do grupo.

Nóbrega agora integra o Conselho de Administração do Grupo Globo, presidido por João Roberto Marinho, e composto por Roberto Irineu Marinho e José Roberto Marinho, como vice-presidentes, e por Paulo Marinho, Roberto Marinho Neto e Alberto Pecegueiro, como conselheiros.

O futuro da Jovem Pan e Tutinha é incerto. Mas sem a presença de Tutinha, que se tornou tóxico por seu vínculo com o bolsonarismo, as chances de sobrevivência deles aumentam.

A coluna entrou em contato com Roberto Araújo, novo presidente da Jovem Pan, mas não obteve resposta.


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