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PASSOU PANO?

A Vida Depois do Tombo explica por que Karol Conká foi escrota no BBB21

REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY

Karol Conká chorando em cena do documentário A Vida Depois do Tombo

Karol Conká chorando em cena do documentário A Vida Depois do Tombo, lançado pelo Globoplay

Se a Disney fez o mundo amar Malévola, por que a Globo não pode tentar convencer o Brasil de que Karol Conká é digna de perdão? Esse é o propósito do documentário A Vida Depois do Tombo, que o Globoplay lançou na madrugada de quinta-feira (28). Vale a pena assistir? Sim, sem dúvida. Mas é recomendável se desligar das redes sociais enquanto assistir aos quatro episódios para poder imergir na narrativa.

Karol Conká teve sua vida dilacerada ao sair do reality show da Globo por conta do péssimo comportamento com alguns colegas de confinamento.

E antes de justificar o que parece injustificável, é importante recapitular algumas das barbaridades que ela cometeu ao longo dos quase 30 dias em que ficou confinada: perseguiu e atormentou Lucas Penteado a ponto de fazê-lo sentir uma tortura psicológica; foi tóxica com Arcrebiano de Araújo, o Bil, com quem inventou uma relação de amor que nunca existiu; foi desonesta, mentirosa e implicante com Carla Diaz; e fez Juliette Freire sofrer com sua arrogância e prepotência.

O cancelamento foi inevitável. E A Vida Depois do Tombo aborda isso. É um documentário feito às pressas, carente de algumas narrativas, mas inteiramente construído para mostrar que, por trás da vilã que o país passou a odiar mais do que qualquer presidente da República no poder, existe um ser humano.

O propósito é destrinchar de onde surgiu aquela Karol Conká que decepcionou fãs e amigos. Por que ela é tão amarga, amargurada, fria, pesada, mentirosa? A lista de adjetivos negativos é extensa, mas acredite, há respostas.

A principal delas aparece no quarto episódio. É um documentário curto, de apenas quatro capítulos, que você mal vê o tempo passar. E é no derradeiro que você encontra um ponto de conexão entre a Karoline dos Santos Oliveira e a Karol Conká do BBB21.

Karol Conká mudou o visual após o BBB21

Reconstrução de imagem

Logo que saiu do confinamento, a cantora se meteu em outro reality show. A equipe de gravação do documentário a acompanhou durante muitos dias, e a entrevistou em diversas ocasiões. E logo você percebe a transformação dela. Pode-se dizer com toda a certeza que, quando esteve no Mais Você e no Domingão do Faustão, Karol ainda não tinha processado todas as informações e sentido o peso real de seus atos.

Ali, naqueles momentos, ela sabia que tinha cometido erros, mas tentava driblar a negatividade e acreditava que o público havia exagerado. Dia após dia ela foi acessando conteúdos que a fizeram perceber a gravidade da situação. Reuniu-se com sua equipe, que a treinou para se posicionar nas entrevistas que deu nos programas da Globo.

Sua assessora de imprensa a instruiu a não manter o discurso arrogante que vinha adotando. Seu produtor executivo demitiu funcionários da equipe por contenção de gastos, já que o núcleo principal acreditava que não haveria mais recursos financeiros para bancar toda a estrutura que vinha mantendo. Os amigos sumiram. Os fãs a rejeitaram. E as lágrimas começaram a escorrer genuinamente.

No primeiro episódio, é possível ver o semblante turrão dela ainda presente. No quarto, ela já aparece diferente. É nítido em seu rosto que o peso de seus atos a consumiu. E os choros foram intensos, verdadeiros, o tom de voz surge menos impositivo e mais doce. Conseguiram desmontar a Karol Conká e encontraram a Karoline.

Pai de Karol Conká não foi identificado na série

Pai vilão

E é nesse momento que traumas foram acessados. O preconceito racial e a falta de dinheiro foram detalhes perto do grande causador de tudo o que vimos no BBB21: seu pai.

Embora Karol tenha tido uma relação de muito amor com seu progenitor, ele era alcoólatra. Nos dias de sobriedade, era o melhor pai do mundo. Mas quando estava consumido pelo álcool, a situação mudava completamente.

Ele morreu aos 34 anos, em um dia em que havia discutido com a filha, que tinha apenas 14 na época. Eles haviam feito um pacto: se ele não bebesse naquela semana, ela o iria visitar. Um dia antes, Karol descobriu que a promessa não tinha sido cumprida e, por telefone, discutiram. Um novo acordo foi selado, e ela transferiu a data do encontro para o outro fim de semana.

Só que o encontro nunca aconteceu. Logo após a discussão, o pai de Karol foi encontrado morto na calçada e levado para dentro de casa. A morte, segundo a rapper, foi estúpida: ele tropeçou, caiu e morreu asfixiado com o próprio vômito. Uma história triste, e você deve estar se perguntando: qual é o ponto de conexão entre a morte dele e seu comportamento horroroso no BBB21? O que liga estes dois fatos é o tal do gatilho.

Karol diz que todo o trauma de sua infância foi acessado ao ver Lucas Penteado bêbado no reality show da Globo. No curto período em que ficou confinado, o ator incomodou os adversários nos dias em que esteve alcoolizado. Falava um monte de besteiras, importunava os colegas, era agressivo e, no dia seguinte, quando voltava à sobriedade, pedia desculpas. Mas logo se repetia.

Ela não culpa Lucas por seus atos, que fique claro. A cantora apenas acessou o sentimento de culpa e remorso pela morte do pai, guardado há mais de 20 anos, ao ver o ator agir da mesma maneira que seu pai agia. E isso a fez colocar para fora seu pior lado.

É uma justificativa plausível? Do ponto de vista da psicologia e da psicanálise, talvez possa ser. E é isso que faltou no documentário, que não buscou nenhum profissional dessas áreas para tentar criar um paralelo entre as duas situações.

Mas a narrativa da série é uma sequência de socos no estômago. Ver uma pessoa assistir ao próprio declínio, somados a um caminhão de notícias falsas que foram publicadas no embalo da onda de ódio, e ainda ter que passar a andar com seguranças por sentir medo de ser agredida a qualquer momento na rua é de dar pena.

O documentário traz muitos outros detalhes relevantes, que não vale a pena descortinar aqui. Mas ele tem um propósito: provocar o público a refletir sobre todo o ataque de ódio que despejou e ainda despeja sobre ela. Será que não estamos agindo como Karol Conká agiu dentro do BBB21? Essa é uma das provocações que A Vida Depois do Tombo faz sutilmente.

Durante décadas, a Disney fez o público acreditar que Malévola era uma bruxa que merecia o pior castigo do mundo por maltratar a inocente Aurora, do conto A Bela Adormecida. Mas bastou contar a história por trás da maldade que ela ganhou ares de princesa e fãs ao redor do mundo. O público a viu de maneira mais humanizada.

Com Karol, a mesma coisa. Ela foi a vilã em um produto de entretenimento, e a Globo agora quer te mostrar que existe um ser humano por trás da megera que você conheceu no BBB21.

A recomendação do Notícias da TV é: assista! Mas assista de coração aberto, sem ir pelo embalo das opiniões que foram publicadas no Twitter. Permita-se entrar no universo da Karoline para descobrir quem é a Karol Conká.


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