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GUERRA NO IBOPE

Há dez anos, Record usou CSI no horário nobre para frear séries americanas no SBT

DIVULGAÇÃO/CBS

Em um ambiente escuro, William Petersen usa uma luva branca e acende uma lanterna em cena clássica de CSI

William Petersen e sua inseperável lanterna em CSI, série que chegou a ser a atração mais vista da Record

JOÃO DA PAZ

Publicado em 14/6/2020 - 6h04

Duas das três maiores emissoras da TV brasileira travaram um duelo curioso no horário nobre, dez anos atrás. Às 21h, o SBT se dava bem com episódios de Supernatural, deixando a Record na terceira colocação no Ibope. Como resposta, a emissora de Edir Macedo usou CSI (2000-2015) para acabar com a festa da rival e saiu por cima.

Esse investida nas séries em uma hora convidativa para o telespectador começou um pouco antes, em outubro de 2009. Em uma das tantas intervenções de Silvio Santos na programação de sua emissora, o drama dos irmãos Winchester (vividos por Jared Padalecki e Jensen Ackles) passou a ir ao ar na faixa mais nobre da TV.

O sucesso foi absoluto, atingindo até 14 pontos de audiência (média na Grande São Paulo), derrotando todo tipo de atração da Record, seja A Fazenda, telejornal ou novela (Bela, a Feia). A série norte-americana elevou o ibope do SBT em 110% no horário.

A folha do calendário virou, a fonte secou, e a Record entrou para o jogo. Foram exibidas quatro temporadas de Supernatural às 21h, até o primeiro mês de 2010. O SBT tinha os direitos do quinto ano, mas teria de esperar finalizar sua passagem no canal pago Warner. O jeito foi visitar o acervo e tirar de lá as atrações que manteriam a faixa de séries no ar. E do outro lado do ringue vinha chumbo grosso.

Em 25 janeiro de 2010, a Record colocou CSI no ar às 21h, drama policial ambientado em Las Vegas que revolucionou o gênero. A atração ocupou o lugar que antes pertencia à segunda edição do reality show A Fazenda, que passou a entrar no ar depois da série. Sem Supernatural, o SBT jogou suas fichas em Gossip Girl - A Garota do Blog (2007-2012). Os dados de audiência mudaram de imediato.

CSI colocou a Record na vice-liderança já nos primeiros dias, com índices de audiência na casa dos 10 pontos, contra 6 da série teen. E a trama policial, que elevou o ibope da emissora de Edir Macedo em 40%, nunca mais perdeu essa posição, superando tudo o que o SBT apostava no confronto, como Smallville (2001-2011) e Cold Case (Arquivo Morto, 2003-2010).

Após um semestre sem ser sequer ameaçada, CSI enfrentou uma concorrente de peso. Entrou no SBT a reprise da primeira temporada de Grey's Anatomy, após votação do público (veja acima vídeo do SBT anunciando a série). Porém, o drama hospitalar foi um fracasso retumbante, beirando apenas os 5 pontos de audiência.

Na lona, o SBT optou por trocar a estratégia, e Grey's Anatomy saiu do ar em 16 de junho de 2010, encerrando esse duelo épico e que provavelmente jamais irá ocorrer novamente no horário nobre. Uma nova linha de shows foi armada no SBT na faixa das 21h, com programas como Hebe (1986-2010), Qual É o Seu Talento? (2009-2012) e Esquadrão da Moda.

E CSI continuou nas alturas. Em julho, a Record decidiu reprisar a primeira temporada da atração, e o resultado no Ibope foi surpreendente, com mais público do que a exibição em janeiro do mesmo ano. Vale pontuar que nessa época, CSI era o programa de maior audiência da emissora, com um share de 20% (ou seja, a cada dez televisores ligados às 21h, dois estavam sintonizados na Record).

divulgação/NBC

O ator Colin Donnell na quarta temporada de Chicago Med, atualmente exibida pela Record


Saem novelas, entram séries

A mesma disputa de dez anos atrás poderia voltar a ocorrer em tempos de pandemia e paralisação das novelas? No SBT haveria essa possibilidade, mas teria que acabar com o bloco de novelas infantis da programação, que a partir do final deste mês terá a inclusão de Chiquititas (2013), preparada para substituir As Aventuras de Poliana. Cúmplices de um Resgate também está neste bloco.

Será que o SBT teria sucesso com Supernatural, retirando a série das frias madrugadas do sábado? Ou quem sabe Arrow, às 21h, uma série de herói igualmente popular?

Na Record, essa possibilidade de retorno das séries no horário nobre seria uma boa, no lugar das reprises de novelas bíblicas que vão muito mal de audiência.

Atualmente, Chicago Med, no ar por volta das 23h40, tem ibope similar ao da novela Jesus (2018), exibida duas horas antes, mesmo com menos televisores ligados no horário. Na última quinta (11), por exemplo, a série marcou 3,7 de média, contra 3,8 do folhetim.

Mais cedo, a produção gringa ambientada em Chicago teria tudo para entregar uma audiência muito melhor. As outras atrações da franquia, Fire e P.D., também entram na programação perto da meia-noite e vão bem de audiência. P.D. chegou a ser mais vista do que novelas e toda grade matinal da Record. Às 21h, esse trio de dramas teria a oportunidade de render muito mais.

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