CRÍTICA
Divulgação/Star+
Kaitlyn Dever em cena de Dopesick; nova minissérie estreou na sexta (12) no Star+
Entre os anos 1990 e 2000, os Estados Unidos enfrentaram uma das piores crises de saúde de sua história. Milhões de norte-americanos sofreram com o vício em opioides por conta da prescrição de remédios não adequados comercializados pela indústria farmacêutica. Dopesick, nova minissérie do Star+, expõe os efeitos devastadores destes eventos.
Escrita e criada pelo vencedor do Emmy Danny Strong (Buffy: A Caça-Vampiros), a série é baseada no livro homônimo de Beth May que entrou para a lista de mais vendidos dos Estados Unidos em 2018. Na obra, a autora descreve a crise que resultou em inúmeros viciados em remédios controlados e em um alto índice de mortes.
Dopesick relata os eventos em dois períodos: o primeiro em 1996, quando Richard Sackler (Michael Stuhlbarg) decide investir e comercializar o opioide OxyContin, remédio com forte efeito analgésico derivado da papoula do oriente --um tipo de medicamento altamente suscetível ao vício. Já o segundo momento, situado no início dos anos 2000, mostra a jornada de dois promotores públicos tentando expor os abusos da Purdue Pharma, empresa farmacêutica responsável pela criação e distribuição da droga.
Para incluir a visão das vítimas dentro deste drama de escalas continentais, a série dá o protagonismo a duas figuras opostas: Samuel Flixx (Michael Keaton), um devoto médico da pequena cidade de Appalachian, e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever), jovem mineira de classe média baixa que se torna viciada em opioide.
Dopesick explica o caos imposto pela crise de saúde de maneira quase didática. Enquanto a ambição de Sackler e de outros executivos da Purdue Pharma coloca em risco a vida de milhões de americanos, uma frase de Flixx logo no início do primeiro episódio, dita durante o julgamento do caso OxyContin, descreve a magnitude do problema em questão: "Eu não acredito em quantos dos meus pacientes estão mortos agora".
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Michael Keaton em cena de Dopesick
Embora utilize ficção nos detalhes, sem deixar de contar uma história factualmente correta, Dopesick é uma ilustração poderosa do poder das pessoas sem limites financeiros ou morais e do sofrimento induzido pela ganância da indústria farmacêutica. A crise ganha ares políticos quando o próprio sistema regulatório dos EUA se torna cúmplice dos interesses corporativos.
Essa cumplicidade entre políticos e executivos se torna clara quando a luta dos procuradores Rick Mountcastle (Peter Sarsgaard) e Randy Ramseyer (John Hoogenakker) começa a ser ofuscada por poderes ocultos. É por meio do trabalho da dupla e da agente Bridget Meyer (Rosario Dawson), do departamento de narcóticos, que a série destaca o domínio que o setor privado mantém sob o público.
Depois de brilhar em Inacreditável (2019), da Netflix, Kaitlyn Dever volta a roubar a cena como Betsy, uma jovem gay que adora trabalhar nas minas ao lado do pai, embora também deseje viver em um lugar onde possa ser ela mesma sem sofrer com a homofobia. Por conta da ganância dos poderosos, ela se torna vítima de uma prescrição errônea de OxyContin. Através de seus olhos, o público enxerga os malefícios do abuso da medicação e como isso destruiu a vida de milhões.
Dopesick não é uma série fácil de assistir, nem deveria ser. Uma crise que persiste até hoje no sistema de saúde estadunidense foi instaurada por cada parte da pirâmide que compõe a indústria farmacêutica: executivos, representantes, médicos e advogados, todos culpados pelo alto número de viciados e mortos causados pelos opioides. Se a produção do Star+ é capaz de causar raiva em angústia em sua audiência, é sinal de que se trata de uma história (muito) bem contada.
Os dois primeiros episódios de Dopesick já estão disponíveis no Star+. No total, a atração conta com oito, disponibilizados semanalmente às quartas.
Assista abaixo ao trailer legendado:
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