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VAI DAR AZIA

Cinco séries para maratonar e depois brigar por política na ceia de Natal

DIVULGAÇÃO/HBO/AMAZON

Montagem com Elizabeth Moss em The Handmaid's Tale, Emma Thompson em Years and Years, e Alexa Davalos em The Man In The High Castle

Cenas das séries The Handmaid's Tale, Years and Years e The Man in The High Castle: discussões políticas

DANIEL FARAD

Publicado em 21/12/2019 - 5h00

Em tempos de ceias intranquilas e famílias divididas, até mesmo indicar uma série para os parentes pode fazer qualquer evento desandar. De uma alfinetada em um tio a romper de vez com aquela prima, não faltam histórias que colocam o dedo na ferida e podem azedar o banquete com as suas cenas pesadas e temas mais espinhosos ainda.

Muito além da gritaria provocada pelo último especial de Natal do Porta dos Fundos, tramas distópicas têm chamado cada vez mais a atenção do público com futuros apocalípticos e realidades alternativas. Das mais simples às mais cabeçudas, a discussão é certa e não dá para saber se vai acabar bem.

Não só pelas teorias de conspiração e conversas mais acaloradas sobre os ganchos e reviravoltas das produções, mas porque elas discutem, sim, política, religião e até futebol. Do direito das mulheres em The Handmaid's Tale às turbulentas eleições de Years and Years, não vai faltar assunto para puxar nas festas de fim de ano.

Confira cinco séries que podem fazer a reunião de família ir por água abaixo:

Feminismo na mesa

Adaptado do romance homônimo da canadense Margaret Atwood, The Handmaid's Tale se passa em um futuro imaginário no qual os Estados Unidos foram tomados de assalto por um regime totalitarista e fundamentalista cristão após uma sangrenta guerra civil. Assim se inaugura a República de Gilead, em que as mulheres são extirpadas de qualquer direito, até sobre o próprio corpo.

Diante de uma repentina queda de fertilidade, que resulta em poucas pessoas capazes de gerar um bebê, os líderes da nova nação instauram um verdadeiro regime de terror.

Aquelas que se mostram férteis se tornam aias. Elas não têm sequer direito a usar o próprio nome, são submetidas a estupros ritualísticos, a fim de gerar filhos que serão criados como legítimos herdeiros da elite governante.

REPRODUÇÃO/HULU

Elisabeth Moss é a protagonista de Handmaid's Tale: atração se passa em futuro distópico

A produção original do Hulu é perfeita para trazer à tona na ceia aqueles temas que sempre causam cizânia na maioria das mesas natalinas. A série abre paralelos para conversar sobre feminismo e até mesmo sobre qual é o limite de uma mulher sobre o próprio corpo --com questões espinhosas como assédio e aborto.

Diretas já

A britânica Years and Years tem potencial para dividir a família nas comemorações natalinas durante alguns anos. A série da BBC, exibida no Brasil pela HBO, é um prato cheio (e com passas) para quem quiser pinçar uma discussão delicada antes da troca de presentes do amigo oculto.

Ambientada em um espaço de 15 anos, a história aborda desde a saída do Reino Unido da União Europeia, passando por questões de gênero, críticas a líderes políticos carismáticos e populistas, com episódios que jogam luz até mesmo sobre a crise global de refugiados.

DIVULGAÇÃO/HBO

Emma Thompson vive a controversa primeira-ministra Vivienne Rook em Years and Years

A maior polêmica, entretanto, fica com o pano de fundo dos primeiros episódios do drama. Afinal, eles focam no processo eleitoral que levou a empresária Vivienne Rook (Emma Thompson), conhecida por dizer qualquer coisa que vem à mente, a se tornar a primeira-ministra da Grã Bretanha.

A figura da governante dá margem para alfinetar um ou outro candidato que concorreu ao cargo de presidente do Brasil desde que a democracia foi restabelecida nos anos 1980. Dependendo do político escolhido, não tem nem margem de erro para causar confusão com os parentes à mesa.

Meritocracia

As provocações na ceia por conta de um primo que passou em um concurso público são tanto tradição quanto piada pronta. Um processo seletivo também é o mote da brasileira 3%, da Netflix. O nome é uma referência à porcentagem dos candidatos que consegue superar as provas e adentrar o paraíso chamado Maralto.

A maioria da população que não consegue se dar bem nos testes é condenada a viver na pobreza em um lugar conhecido como Continente. Durante as três temporadas já lançadas, o espectador é levado a se questionar se a triagem é realmente justa diante de inúmeras interferências internas e externas.

PEDRO SAAD/NETFLIX

Glória (Cynthia Senek) e Micheli (Bianca Comparato) em cena de 3%: apocalipse à brasileira

A discussão pode ser levada para a vida cotidiana, já que a sociedade se pergunta se algumas pessoas levam ou não vantagem sobre as outras nas inúmeras seleções às quais são submetidas, desde o vestibular até uma entrevista de emprego. Em algumas famílias, questionar se meritocracia realmente existe vai ser capaz até de causar aquela azia após o salpicão.

Fascismo

Drama original da Amazon, The Man in the High Castle se pergunta como seria a realidade se o nazismo alemão tivesse triunfado durante a Segunda Guerra Mundial. Oprimidas por regimes totalitários, as minorias tentam resistir com a ajuda dos filmes de um misterioso líder que mostram realidades paralelas nas quais as potências do Eixo foram derrotadas. 

REPRODUÇÃO/AMAZON prime video

Juliana (Alexa Davalos) em uma das realidades alternativas de The Man in The High Castle

A trama não dá muito espaço para se questionar quem está certo ou errado, por motivos óbvios, mas alguns termos que acabam separando os personagens também podem apartar os familiares. Afinal, entre fascistas e comunistas, a chance de climão na hora do peru de Natal é certa.

Prazer de discutir

Cabeçuda, Watchmen já causaria polêmica apenas pela sua narrativa, considerada por vezes confusa, que permite voar em inúmeras teorias da conspiração. Além das ações e do destino dos personagens, que por si podem gerar uma alongada discussão, a produção debate uma série de assuntos indigestos, que podem causar refluxo nos mais sensíveis.

DIVULGAÇÃO/HBO

Em Watchmen, um grupo de supremacistas brancos se reúne sob a milícia Sétima Cavalaria

Em um momento no qual o Brasil passa a questionar mais profundamente a atuação das milícias, a série apresenta a Sétima Cavalaria, um grupo supremacista branco que esconde o rosto para atuar como uma polícia paralela. As autoridades, aliás, também escondem a identidade sob a desculpa de se protegerem dos inimigos.

Uma intrigante pergunta que permeia toda a trama pode ser jogada no meio das festas para suscitar uma acalorada discussão: "Quem vigia os vigilantes?". A provocação pode fazer muitas carapuças servirem.

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