Nada mastigado
Divulgação/HBO
A atriz Regina King em cena da primeira temporada de Watchmen, mais uma série cabeçuda da HBO
JOÃO DA PAZ
Publicado em 1/12/2019 - 5h18
Sabe aquela série na qual alguém fala "vou entrar por essa porta", e aí vai lá e... abre a porta? Pois é. Se por um lado atrações mastigadas são pouco atraentes, o outro extremo também não é nada agradável. Watchmen, da HBO, é a mais nova integrante de atrações cabeçudas, que precisam de manual ou de uma cola na Wikipédia para serem entendidas.
O primeiro drama de heróis do canal premium se junta a programas como American Gods, Mr. Robot (ambas disponíveis no Prime Video) e Westworld (HBO) no grupo de produções que, sem um guia, não podem ser entendidas em sua plenitude.
Watchmen só reforça sua necessidade de cola com um site que a própria HBO criou para ajudar o público a compreender o que se passa nos episódios. Uma brincadeira com a Wikipédia, o endereço chama-se Peteypedia, que faz referência ao nome do agente do FBI Dale Petey (Dustin Ingram), que sabe tudo sobre os heróis e bandidos.
O problema é que não é tão fácil entender Watchmen nem usando o site como referência. É preciso conhecer fatos narrados na HQ clássica na qual a atração da HBO se baseia, pois o que o site faz é conectar esses eventos com o tempo presente da trama. O período que separa os quadrinhos da série é de 34 anos.
A cada semana, a tal da Peteypedia solta documentos do FBI, trechos de processos e artigos de jornais (tudo fictício) que têm alguma relação com o episódio mostrado na TV. As informações lá compartilhadas fazem menções às histórias da HQ. O telespectador tem de estar munido dessas armas para ligar lé com cré.
Isso, diga-se de passagem, torna-se algo enfadonho e triste. Basta pegar o sexto episódio, exibido no domingo passado (24), como exemplo. Todo em preto e branco, o capítulo teve cinematografia e atuação belíssimas, um triste retrato de como o racismo está enraizado há anos na sociedade americana. O ponto de vista foi o do avô da protagonista Angela Abar (Regina King). Agora, o que isso tem a ver com a trama de Watchmen no todo? Só com um guia para conectar os pontos.
reprodução/hbo
Mensagem deixada pela empresa Delos Destinations no site que ajuda os fãs de Westworld
A difícil Westworld, com várias linhas de tempo e personagens humanos que parecem robôs (ou robôs que parecem humanos), exigiu durante duas temporadas muito esforço dos neurônios para captar a mensagem da série e compreender os episódios. Por falta de um, a HBO lançou dois sites auxiliares: um sobre os parques futuristas e outro sobre a empresa Delos, mantenedora desses lugares.
Por mais que tivesse suas complexidades bem peculiares, Westworld foi compreensível ao público que investiu na série, fez algumas anotações e parou para pensar um pouco no que estava acontecendo. Dá para perceber quem é quem atentando a detalhes e pistas deixadas aqui e ali.
Assim, os sites serviam como um bônus para os iniciados e uma Wikipédia básica para quem estava mais fora de si do que a Dolores (Evan Rachel Wood). Curiosamente, como a série está em pausa e retorna com a terceira temporada só no ano que vem, os sites estão offline. Uma mensagem foi escrita para o público: "Nós estamos passando por uma manutenção (...) para melhorar a experiência de nossos usuários", informa a Delos em sua página.
reprodução/USA Network
Site especial de Mr. Robot simula uma página inicial de um desktop; internauta personagem
O quebra-cabeça que é Mr. Robot, com personagens que não são quem parecem ser e um monte de detalhes soltos, é complicada apenas aparentemente. Tanto que, ao longo de suas quatro temporadas, os fãs desvendaram teorias em fóruns online antes mesmo de a série revelar as verdades.
Chamado de whoismrrobot (quem é o mr. robot?), o site de ajuda é um grande barato. Quem entrar no endereço verá uma simulação de uma tela de um desktop, na qual o internauta poderá navegar com liberdade e ter acesso a documentos secretos e dicas para entender o mundo de Mr. Robot. É como se o próprio usuário fosse um personagem da série, em busca de informações.
Em contrapartida, American Gods é o tipo de série que não soube lidar muito bem com sua trama diferentona, que tem zumbi e deuses antigos e modernos no meio de uma guerra movido pelo ego. A primeira temporada deixou o telespectador anestesiado, no mau sentido. A experiência televisiva foi passiva, e a cara de espanto ao fim de cada episódio foi de "o que foi isso, hein?". Até o protagonista precisou de um dicionário para se inteirar.
Confusões nos bastidores só deixam essa salada toda sem sabor. Em três anos, a série teve quatro showrunners, o profissional que chefia uma produção em todos os aspectos. Isso fez a segunda temporada mudar completamente, com aquela trama didática e mastigada que não caiu bem e foi criticada pelos fãs.
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