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Dear White People

Série negra da Netflix critica feminismo branco de Handmaid's Tale com piadas

Divulgação/Netflix

Jules Hartley (esquerda) e Sophia Stephens (direita) em paródia de The Handmaid's Tale em Dear White People - Divulgação/Netflix

Jules Hartley (esquerda) e Sophia Stephens (direita) em paródia de The Handmaid's Tale em Dear White People

JOÃO DA PAZ

Publicado em 6/8/2019 - 4h41

Comédia ácida da Netflix, Dear White People escolheu a premiada The Handmaid's Tale como alvo. Na terceira temporada, lançada na última sexta-feira (2), a série negra criou uma paródia para criticar o feminismo branco do drama vencedor do Emmy de 2017. Desde o figurino até a atriz Elisabeth Moss, as piadas atingem seu objetivo em cheio.

A atração da Netflix já zoou séries famosas nas duas temporadas anteriores (Scandal no ano de estreia, e Empire no seguinte). A escolha por The Handmaid's Tale veio para jogar luz na problemática que as feministas negras não deixam passar batido, pois mulheres de cor são escanteadas na trama distópica, que tem uma heroína branca ungida a livrar o sexo feminino da opressão masculina.

A universitária Sam White (Logan Browning), aspirante de cinema e protagonista de Dear White People, fica viciada em uma série chamada July's Womb (O Ventre de July), um trocadilho preciso com o nome da personagem principal de The Handmaid's Tale, June (em inglês, June é Junho e July, Julho).

Enquanto ela assiste a um episódio, Gabe Mitchell (John Patrick Amedori), colega de faculdade e namorado de Sam, provoca a parceira: "Não é muito feminismo branco para você?". Sam dá de ombros e continua assistindo à série, dizendo que não consegue largá-la. Ela foi fisgada, assim como boa parte dos Estados Unidos: "[A] América está viciada em mulheres brancas em perigo num futuro distópico", afirma.

A cena vista por Sam toca nesse assunto espinhoso. O livro O Conto de Aia (1985), que inspirou a série The Handmaid's Tale, replica situações que ocorreram com as mulheres escravas negras nos Estados Unidos de verdade. Elas serviam de objetos sexuais e fugiam para o norte (Canadá) em busca de refúgio.

O trecho de July's Womb mostra July (Jules Hartley) revoltada, ao lado de uma criada negra, August (Sophia Stephens): "Dá para acreditar nisso? Sabe.. Eram os Estados Unidos", diz a heroína da paródia, comentando sobre o país que agora está sob um regime intolerante. "Injustiças nos EUA, quem diria?", ironiza August.

Na versão original de O Conto de Aia, as mulheres negras estão ausentes. Na hora de adaptar a trama para a série, o criador Bruce Miller tentou consertar isso, devido à necessidade de mais representatividade em Hollywood. Dessa forma, são negros o marido de June (vivida por Elisabeth Moss), a filha do casal e a melhor amiga de June, Moira (intepretada por Samira Wiley). Contudo, a cultura negra é pouco citada na vida desses personagens.

Em Gilead, nome do regime teocrático que tomou conta dos Estados Unidos continental, as negras aparecem com mais destaque como Marthas, as empregadas domésticas das famílias ricas. São poucas Handmaids, as criadas. Entre os Comandantes e Esposas, a classe alta, pessoas de cor quase não são vistas. Se há criadas negras, ou elas morrem ou são rejeitadas por famílias brancas.

Dear White People cutuca um vespeiro ao abordar um tema que provoca discussões quentes em coletivos feministas. A paródia de Handmaid's Tale serve como gancho. No segundo episódio, duas personagens, uma branca e uma negra, debatem em um programa de rádio sobre feminismo e igualdade de gênero.

A personagem branca, Muffy (Caitlin Carver), argumenta que mulheres iguais a ela não devem ser culpadas pelo racismo. Já a negra, Joelle (Ashley Blaine Featherson), rebate: "O patriarcado oprime todas, mas elas [as brancas] têm de reconhecer seu privilégio". Em um único diálogo, Dear White People resume argumentos vivos em debates feministas, que chegam até a falta de diversidade em The Handmaid's Tale e sua luta embranquecida contra o machismo.

reprodução/netflix

Jules Hartley imita cena polêmica de Handmaid's Tale em episódio de Dear White People 


Ironias sem fim

A comédia da Netflix não perdoa nem Elisabeth Moss. Na conversa com Sam, Gabe menciona um fato da vida da protagonista de July's Womb: "A atriz que interpreta July está em uma seita e não vê a ironia". Na vida real, Elisabeth é integrante da seita Cientologia e sua personagem em The Handmaid's Tale é vítima de uma seita.

Na paródia July's Womb, que venceu o Emmy no universo de Dear White People, as criadas vestem azul e um chapéu preto, em vez do icônico vestido vermelho e chapéu branco que virou símbolo em protestos feministas ao redor do mundo.

O estupro de Handmaid's Tale é citado em Dear White People sem rodeios. Uma das cenas vistas por Sam de July's Womb mostra a protagonista sendo violentada sexualmente, sequência que June viveu na série original. O desejo sexual que a protagonista teve pelo motorista Nick (Max Minghella) também é ironizado.

Em July's Womb, um homem é bondoso com July. Ela, que é narradora da história, assim como June é em The Handmaid’s Tale, se justifica: "Apesar das ameaças de estupro, algo nesse simples ato de bondade me deixou com um puta tesão". Então, os dois fazem sexo com muita paixão, oposto ao estupro mostrado anteriormente. "É como um pornô-tragédia", define Joelle após ver a cena.

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