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COLUNA DE MÍDIA

A tragédia de Conká, Meghan e Harry: Eles nunca serão tão interessantes novamente

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Montagem: Karol Conká à esquerda vestindo um top vermelho sorrindo; Harry e Meghan à direita andando de mãos dadas sorrindo

Karol Conká, príncipe Harry e Meghan Markle tentam recuperar aprovação da mídia

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 11/3/2021 - 6h50

A ex-BBB Karol Conká e o casal Meghan Markle e príncipe Harry parecem habitar extremos distantes nesse momento, mas vivem o mesmo desafio de recuperar suas imagens e seguir relevantes em um cenário cada vez mais competitivo na luta pela atenção da audiência na mídia.

Após uma passagem polêmica (para dizer o mínimo) no reality show da Globo, a rapper se tornou uma espécie de vilã nacional por suas atitudes em um dos programas de TV mais vistos e comentados do mundo.

Já Meghan e Harry, até pouco tempo vistos como ricos ingratos, ganharam um sopro de carisma depois da entrevista para a apresentadora Oprah Winfrey, no último domingo (7). Afinal, ninguém estava muito tocado pelo sofrimento de Harry, que, aos 36 anos de idade, reclamava que ficou sem sua mesada e seus seguranças.

reprodução/CBS

Harry e Meghan em entrevista bombástica

Uma pesquisa YouGov de dezembro apontou que quase 70% dos entrevistados se diziam "não muito interessados" ou "nada interessados" em Meghan e Harry. Homens e mulheres responderam à pergunta sobre seu interesse em porcentagens semelhantes.

No Reino Unido os dados também mostravam uma queda rápida da popularidade do casal. Os outros membros da realeza não sofreram uma queda tão dramática, exceto Andrew, que historicamente é visto como o menos popular da família.

Meghan e Harry têm contratos com Netflix e Spotify, portanto precisavam criar algo que chamasse a atenção para os dois, mas também melhorasse a percepção do público. A entrevista com a Oprah atendeu às duas necessidades.

No Brasil, a lógica que levou Karol a aceitar entrar no BBB21 foi semelhante. Dentro do maior reality do país, ela ganharia projeção nacional. Provavelmente, a artista não imaginava que o resultado poderia ser negativo, mas, do ponto de vista midiático, ela saiu muito mais conhecida do que entrou.

rEPRODUÇÃO/TV GLOBO

Karol teve maior índice de rejeição do BBB

Como disse J. B. Oliveira, o Boninho: "No Big Brother não tem perdedor, porque todo mundo sai mais conhecido do que quando entrou". O diretor da Globo entende a cultura de celebridades como poucos. E, apesar do recorde de rejeição no paredão do reality, a rapper saiu muito mais famosa do que antes.

O problema é que Conká, Meghan e Harry nunca mais serão tão interessantes. Depois que você senta diante da Oprah e fala de como foi vítima de preconceito e pensou em suicídio para uma audiência de 17,1 milhão de pessoas nos EUA e 12 milhões no Reino Unido, o que pode ser mais interessante no futuro?

Por sua vez, a cantora esteve no programa mais visto do país e mostrou uma faceta inimaginável, indo de canceladora a cancelada. O que ela poderia fazer fora da casa que despertaria mais interesse e curiosidade da audiência?

Celebridades no final do dia são criadores de conteúdo por natureza. Pode parecer banal um famoso mostrando fotos na praia, falando sobre o que não entende, ou dando dicas de seja o que for. Mas entretenimento é isso.

Em seu livro Vida: o Filme, Neil Gabler traça a ascendência do entretenimento em nossa sociedade. Divertir-se é fácil, e o corolário é que, quando o objetivo é entretenimento, atrair e prender a atenção do público é o valor supremo, e "coisas que não se enquadram --por exemplo, literatura séria, debate político sério, ideias sérias, qualquer coisa séria-- estão mais propensos a serem comprometidos ou marginalizados do que nunca".

Por que Oprah é tão efetiva em manter seu status de celebridade? Basicamente, porque criar materiais mais interessantes e que entretenham depende de quem está diante dela sendo entrevistado. À Oprah cabe seguir instigando as pessoas a fazerem revelações bombásticas. E dessa perspectiva, o material é virtualmente inesgotável, porque sempre há famosos como incompreendidos querendo um empurrãozinho de popularidade da apresentadora.

O risco para Conká é o mesmo do casal real. "Na ausência de criação de conteúdo surpreendentemente bom, Meghan e Harry podem precisar recriar muitos aspectos do ambiente britânico que acabaram de fugir para manter o público interessado", afirma Jack Shafer, em sua coluna no Politico.

"Para começar, eles precisarão de um suprimento constante de vilões para lutar, causas adicionais para defender, heróis únicos para fazer parceria e novas revelações pessoais para descobrir. É uma espiral incessante e exigente", completa.

Karol viverá desafios semelhantes. Ao precisar gerar conteúdo ainda mais atraente do que o BBB para "apagar" ou diminuir o peso de seu período no programa, corre o risco de recriar o ambiente que a tornou nacionalmente famosa, mas agora na vida real.

A artista, Meghan e Harry chegaram ao ápice do entretenimento. Nunca conseguirão criar material mais interessante do que produziram nas últimas semanas. E essa é a tragédia das celebridades. Ou radicalizam e se tornam personagens de si mesmos, ou são relegados ao lado B da fama.

Duvida? Olhe os exemplos de Madonna, Britney Spears e tantos outros que caíram do olimpo das celebridades para a vala comum das polêmicas na mídia. Eles vivem no imaginário e não são esquecidos, mas não conseguem retornar ao topo.

reprodução/instagram

Britney Spears não ganha destaque na mídia

Por que isso importa?

A entrevista do casal real mostrou a força que a TV ainda tem quando se trata de um grande evento. A rede CBS, que mostrou a conversa, pagou uma taxa de licença entre US$ 7 milhões e US$ 9 milhões pelos direitos de transmissão da entrevista de Oprah com o príncipe Harry e a duquesa de Sussex, de acordo com o WSJ.

A CBS estava cobrando cerca de US$ 325 mil por 30 segundos de intervalo comercial durante o programa, cerca de duas vezes o preço normal.
E os direitos de transmissão da rede não incluem apresentar a entrevista no streaming. Oprah, que tem um contrato com o Apple TV+, manteve os direitos de transmitir a conversa em streaming.

Uma porta-voz do casal disse que Meghan e Harry não estão sendo remunerados ​​pela entrevista.


Este texto é argumentativo e não expressa necessariamente a opinião do Notícias da TV. A Coluna de Mídia é publicada toda quinta-feira.


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