NOVOS HÁBITOS
Fábio Braga/Netflix
Cauã Gonçalves, Douglas Silva e Sabrina Nonato em cena da comédia Samantha!, da Netflix
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 2/7/2018 - 5h41
"A televisão morreu", detona Zé Cigarrinho (Ary França) no primeiro episódio de Samantha!, comédia nacional que a Netflix lança na próxima sexta (6). A sentença apocalíptica é mais um ataque da plataforma de streaming contra sua principal rival na produção audiovisual brasileira, a Globo. E, apesar de extrema, não deixa de ter um fundo de verdade.
"Nós vivemos em uma era em que todo mundo adora dizer que algo do passado morreu. O rádio morreu, o jornal morreu, a TV morreu...", enumera Felipe Braga, criador da comédia. "Mas é claro que existe uma provocação dentro disso. A televisão da qual o Zé Cigarrinho e a Samantha [Emanuelle Araújo] faziam parte, em que a família toda se unia para assistir junta, de fato morreu, está no passado."
"Agora, nós temos uma experiência muito mais individualista de audiência", continua o showrunner, se referindo ao fato de o público poder assistir aos seus programas favoritos em uma tela de celular ou no computador pessoal.
"Por mais que as pessoas encontrem uma comunidade de gostos similares espalhada pelo mundo todo, o que é muito legal, o modo como nós vemos televisão mudou muito."
De fato, muita coisa sofreu uma transformação desde a década de 1980, período retratado no início de Samantha!. E a Netflix não é a única culpada pela troca de hábitos. Nos anos 1990, a TV paga começou a tirar público dos canais abertos, em grades específicas para diferentes grupos _com uma programação repleta de desenhos, de atrações musicais ou de eventos esportivos.
É inegável, porém, que a chegada do streaming e do video on demand alteraram de vez a forma com que os espectadores consomem entretenimento. "Hoje, a TV é apenas mais uma opção entre tantas outras. E eu sinto que a própria televisão está tentando se reciclar por causa disso", opina a atriz Emanuelle Araújo, com a experiência de quem já atuou em novelas da Globo e agora é estrela do streaming.
De olho no elenco
A Netflix não tenta apenas mudar os hábitos de consumo para tirar público da rival. Com o investimento em séries nacionais, passou a buscar atores conhecidos da Globo para estrelarem suas produções.
Assim, nomes como Fernanda Vasconcellos e Maria Flor apareceram (mesmo que pouco) na segunda temporada de 3%, Selton Mello protagoniza O Mecanismo e Emanuelle está em Samantha! _que os produtores insistem não ser uma adaptação da vida da cantora e apresentadora Simony.
Mas o grande ataque veio mesmo com a contratação de Marco Pigossi, protagonista de novelas da Globo. Ele foi escalado para participar da australiana Tidelands e também protagonizará Cidades Invisíveis, do indicado ao Oscar Carlos Saldanha. O ator se queimou na antiga casa para migrar para o streaming: ele alegou que não ia renovar seu contrato para estudar em Londres, mas preferiu atuar nas duas séries.
E, na última sexta (29), a Netflix anunciou o elenco de sua próxima produção nacional, Coisa Mais Linda. No elenco, vários refugos da Globo: Pathy Dejesus (I Love Paraisópolis), Fernanda Vasconcellos (Haja Coração), Mel Lisboa (Presença de Anita), Thaila Ayala (Ti Ti Ti), Ícaro Silva (Show dos Famosos) e Leandro Lima (Joia Rara), além de Maria Casadevall (de Os Dias Eram Assim), que não tem contrato de longo prazo com a rede aberta porque não quer.
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