Análise: 'Ladra de novelas', Letícia Colin transforma coadjuvante e confunde o público

Bastou pronunciar uma única palavra para que Letícia Colin caísse nas graças do público de Segundo Sol com seu sotaque baiano caprichado. A intérprete da prostituta Rosa na atual trama das nove da Globo repete o feito que provocou em Novo Mundo (2017) e transforma uma personagem coadjuvante em destaque central de uma novela.

Na trama de época exibida no ano passado, Letícia deu vida a Leopoldina, a imperatriz brasileira de origem austríaca, casada com dom Pedro I (Caio Castro). Aos poucos, a personagem ganhou mais simpatia e apelo do público do que a mocinha da história, Anna (Isabelle Drummond). O sotaque acertado é um ponto em comum entre as duas atuações de Letícia. Não é exagero afirmar que ela se tornou a "ladra oficial" dos folhetins da Globo.

Vinda de um núcleo secundário, Rosa era um papel aparentemente pequeno, mas que tem cada vez mais espaço dentro da história de João Emanuel Carneiro. Debochada e cínica tanto quanto Laureta (Adriana Esteves), é a única menina do bordel capaz de bater boca com a vilã por saber de seu "potencial profissional".

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Nos capítulos que estão por vir, Rosa deve ganhar destaque ao se tornar peça essencial na descoberta do segredo da cafetina e de Karola (Deborah Secco) _o roubo do bebê de Luzia (Giovanna Antonelli).

Rosa tem com o pai, o machista Agenor (Roberto Bonfim), a mesma petulância que demonstra com Laureta. Disposta a se ver livre das privações e da falta de oportunidades, ela abandonou a casa da família e foi ganhar a vida como garota de programa. Já mostrou, porém, que seu ponto fraco é a mãe submissa, Nice (Kelzy Ecard), e a irmã policial, Maura (Nanda Costa).

Envolvida pelo mocinho da história, Ícaro (Chay Suede), Rosa está no centro do romance jovem de Segundo Sol. Apesar de atraída pelo filho de Luzia, engatou um namoro com Valentim (Danilo Mesquita). Só por isso, ganhou a antipatia de Karola, que a chama de "Rosa Murcha". Também passou a circular por boa parte dos núcleos da novela _já se envolveu com o malandro Remy (Vladimir Brichta) e com o misterioso Roberval (Fabrício Boliveira).

Não por acaso, Rosa se mostrou muito mais interessante como personagem do que a chatíssima Manuela (Luisa Arraes), que só faz chorar e brigar com a irmã postiça Rochelle (Giovanna Lancelotti). Em termos de carisma, Rosa dá de dez a zero na filha da protagonista que, supostamente, deveria ter mais destaque do que a "quenga".

O crescimento da personagem tem dois fatores: o primeiro é a interpretação de Letícia, que certamente deu gás extra a Rosa. O segundo é a brincadeira proposta pelo autor na construção da prostituta. Ela pode ser lida de duas maneiras distintas: a safada ou a sobrevivente, a depender da conveniência da história.

Ambígua, ela pode pender tanto para a vilania quanto para o heroísmo. A confusão do público, neste caso, beneficia a novela ao gerar curiosidade sobre seu caráter.

Como nas novelas de João Emanuel Carneiro nada é muito óbvio, é de se esperar que Rosa ganhe mais força com as surpresas que a personagem ainda pode ofertar ao público. Se entrar para o bando de Laureta, tem tudo para aumentar a sofrência de Luzia. Caso contrário, pode ser a pedra no sapato de Karola.

À vontade em cena, Letícia Colin mostra descontração na pele de Rosa. A atriz soube aproveitar a chance para engrandecer a personagem. Após sucessivos "roubos de cena", Letícia está mais do que pronta para protagonizar uma história.