NOVOS TEMPOS
JOÃO MIGUEL JÚNIOR E TATA BARRETO/TV GLOBO
Renato Aragão e Miguel Falabella, ambos com décadas de Globo, foram dispensados pela emissora
O humorista Renato Aragão, dispensado pela Globo na terça-feira (30), engrossou uma lista que inclui medalhões como Zeca Camargo, Miguel Falabella, José de Abreu e Vera Fischer, nomes do elenco fixo que perderam o emprego durante a pandemia. Mas por que a líder de audiência está cortando custos de forma acelerada e se desfazendo de estrelas?
A resposta está na crise do novo coronavírus, que reduziu as receitas publicitárias da emissora e a obrigou a acelerar mudanças previstas no projeto Uma Só Globo, que unifica cinco unidades de negócios, entre elas a Globosat e o Globoplay.
O pacote de corte de custos, com demissões inclusas, foi confirmado no início de junho por Manuel Belmar da Costa, CFO (chief financial officer/diretor financeiro) da Globo, ao Notícias da TV. "O pós-Covid-19 traz a necessidade de aceleração das mudanças. A economia parou, o mundo parou, não só a Globo", explicou o executivo.
"Haverá corte de pessoas, haverá corte de estrutura, e a gente vai ter desligamentos em junho, sim. Mas não tem passaralho [demissão em massa], tem um processo contínuo de transformação", avisou Belmar.
Além de estrelas reconhecidas no vídeo, funcionários e executivos também foram enxugados da folha salarial. Em maio, a empresa anunciou uma nova organização na área comercial e dispensou quatro diretores ligados ao setor.
Para ficar mais leve, a Globo unificada está revendo todos os custos fixos e tentando transformá-los em custos variáveis. Na área artística, por exemplo, contratos de longo prazo estão sendo substituídos por acordos que duram somente o tempo em que o profissional efetivamente trabalha, caso de Camila Pitanga. Ela deixou o elenco fixo, mas manteve seu vínculo por causa da segunda temporada de Aruanas.
Nos comunicados de dispensa, a Globo usa sempre a frase "em sintonia com as transformações pelas quais passa o mercado" como justificativa e defende que a empresa "vem adotando novas dinâmicas de parceria com seus talentos". É um recado de que salários altos com baixa produção serão cada vez mais escassos.
Os direitos de transmissão de competições esportivas e de eventos como o Carnaval também estão sendo revistos para "gerar equilíbrio de ecossistemas". Contratos com federações esportivas, como a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), também foram cortados e estão em disputa judicial.
Nessa política, para não ter que pagar uma parcela de US$ 90 milhões (cerca de R$ 460 milhões), que venceria na terça (30), a Globo entrou na Justiça do Rio de Janeiro contra a Fifa e colocou em risco o direito de transmitir a Copa do Mundo de 2022. O imbróglio será resolvido na Suíça nos próximos meses.
Segundo balanço contábil, a emissora fechou 2019 com um caixa de R$ 10,5 bilhões, o equivalente a 3,3 vezes o seu débito total à época. Apesar do cofre cheio no fim do ano passado, a Globo tem perdido receitas com publicidade desde 2015 --saiu de um patamar de quase R$ 12 bilhões anuais, em 2014, para R$ 9,7 bilhões em 2019.
E neste ano o tombo vai ser muito maior. Segundo fontes da própria emissora, suas vendas caíram 40% no segundo trimestre. Se continuar assim, ela vai faturar uns R$ 4 bilhões a menos em 2020.
Embora fature três vezes mais do que Record e SBT juntas, a Globo pode sofrer mais com o novo coronavírus do que suas concorrentes por causa de sua estrutura vertical. Ela faz tudo o que necessita para realizar novelas, programas e telejornais. Da caixa de fósforo que é apenas um detalhe do cenário à edição final do capítulo.
Em abril, a agência de análise de investimentos Moody's já alertava para esse problema estrutural, quando rebaixou sua nota de crédito de Ba1 estável para Ba1 negativo. Para a Moody's, a Globo ficou "vulnerável às mudanças do mercado em condições de operação nunca antes vistas" e "permanece vulnerável à pandemia que continua se espalhando".
O diretor financeiro da Globo diz que 2020 vai ser um "ano catastrófico", com uma queda de mais de 5% do PIB (Produto Interno Bruto). Nesse "cenário muito difícil", "as empresas que tomarem decisões difíceis vão sair mais fortes". "Esse não é um projeto [Uma Só Globo] para reduzir gente. É para assegurar mais 50 anos de nossa história".
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