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ACUSAÇÃO DE RACISMO

Por que o comportamento e as falas de Vinicius Coimbra são tão inadequados?

JOÃO COTTA/TV GLOBO

Vinicius Coimbra foi afastado temporariamente da Globo por causa de uma denúncia de racismo

Vinicius Coimbra foi afastado temporariamente da Globo por causa de uma denúncia de racismo

CARLA BITTENCOURT, colunista

carla@noticiasdatv.com

Publicado em 28/2/2022 - 7h00

Vinicius Coimbra, diretor artístico de Nos Tempos do Imperador, foi afastado temporariamente de suas atividades na Globo por causa de uma denúncia de racismo. Entre as acusações, há relatos de que ele promovia segregação nos bastidores e se referia aos atores do núcleo da Pequena África como "elenco negro". A pedido do Notícias da TV, HugoOliveira, que é educador, gestor cultural e pesquisador doutorando na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), explica por que tais comportamentos não são aceitáveis.

A decisão da emissora pelo afastamento de Coimbra foi oficializada no último dia 15 em resposta às acusações de preconceito racial registradas durante as gravações da novela de Alessandro Marson e Thereza Falcão. As atrizes Cinnara Leal, Dani Ornellas e Roberta Rodrigues procuraram a direção da Globo para reclamar de posturas discriminatórias contra atores negros por parte de Coimbra e sua equipe.

O diretor estava à frente da próxima novela das seis, Mar do Sertão, e foi substituído por Allan Fiterman, que comanda Quanto Mais Vida, Melhor!. A decisão foi  revelada pelo Notícias da TV em primeira mão.

Fontes ligadas ao compliance da emissora ouvidas pela reportagem contam que, segundo Cinnara, Dani e Roberta, o elenco da pequena África era chamado "carinhosamente" de elenco preto ou negro.

"Nós podemos não nos sentir bem com uma pessoa branca nos chamando de preto. A forma como me relaciono entre os meus não permite a todos o mesmo tratamento. Quem determina isso somos nós. Se as pessoas não se identificavam com o tratamento, mesmo sendo de forma 'carinhosa', era importante que ele [o diretor] tivesse a sensibilidade de não chamá-los dessa forma. As pessoas precisam saber como o outro se sente com a forma de tratamento", explica Oliveira.

Para o educador, Coimbra e sua equipe promoveram uma segregação muito séria nos bastidores da novela ao fazer diferença entre os atores pela cor de sua pele:

Quando alguém diferencia o elenco branco e o elenco negro, ele está subjugando um grupo de pessoas a uma situação que historicamente constrói um significado sobre aqueles corpos que sempre foram desumanizados. Na verdade, o diretor está humanizando um grupo e desumanizando outro. Esta é uma face cruel do racismo.

Ainda segundo o testemunho das atrizes ao compliance da Globo, Coimbra cobrou posicionamento de alguns atores negros sobre o episódio em que a trama vacilou ao retratar o "racismo reverso" envolvendo Samuel (Michel Gomes) e Pilar (Gabriela Medvedovski). A cena causou um pedido de desculpas da autora Thereza Falcão, e o diretor insistiu para que elas e outros atores negros defendessem a novela em entrevista e em redes sociais.

"Quando a Globo vai fazer uma novela com núcleo italiano, ou vão abordar uma guerra ou fato histórico, eles chamam especialistas no assunto. Mas no caso desta novela, a emissora só contratou especialistas depois desse episódio. Uma pena que a Globo tenha perdido a oportunidade de educar através de sua novela, que é de mais fácil acesso à população que os livros, por exemplo. Quando a direção pressiona os atores para eles tomarem uma posição, eles estão transferindo a responsabilidade para o outro, persuadindo quem sempre esteve em situação desfavorável", completa Oliveira.

Atores negros, de acordo com relatos, foram escalados para gravar durante o pico de casos de Covid-19, enquanto o restante do elenco foi poupado de se expor. O educador compara a situação ocorrida na Globo com o que aconteceu no país na pandemia.

Há dois anos, a primeira morte de Covid no Brasil foi de uma mulher negra, doméstica, que saiu para trabalhar. É muito comum o branco fugir e nos colocar à frente com a desculpa de que somos fortes, mais resistentes. Mas sangramos como todos as pessoas.

Para o profissional, Coimbra, no entanto, não errou sozinho e virou uma espécie de bode expiatório na emissora. Tanto Ricardo Waddington (diretor de Entretenimento) quanto José Luiz Villamarim (diretor de Dramaturgia) foram avisados sobre as queixas das três atrizes e disseram a elas e seus representantes que tomariam providências. As gravações começaram em janeiro de 2020.

"Vinicius não agiu sozinho. Suas atitudes foram acobertadas por seus superiores e pela empresa. Há um pacto narcisista da branquitude que faz parte do racismo estrutural. Só espero que, com esse episódio, as atrizes se recuperem do trauma. Sabemos que elas vão sofrer represálias mesmo depois da violência que viveram. É preciso que elas fiquem bem acima de tudo", diz Oliveira, que finaliza: "Não cabe às pessoas brancas dizerem como os negros devem agir, se comportar ou sentir. Quem determina tudo isso somos nós".


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