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DRAMALHÃO MUSICAL

Série da década, Empire chega ao fim desfigurada por coronavírus e escândalo

Fotos: Reprodução/Fox

A atriz Taraji P. Henson veste um blazer colorido, em cima de um top branco, enquanto fica boquiaberta em cena de Empire

Vencedora do Globo de Ouro, Taraji P. Henson em cena decisiva do último episódio da série Empire

JOÃO DA PAZ

Publicado em 23/4/2020 - 5h06

Série que conseguiu números de audiências raros nesta década, Empire cravou seu lugar na história da TV. Porém, devido a um escândalo orquestrado pelo ator Jussie Smollett e a uma calamidade pública, o drama novelesco chegou ao fim na última terça-feira (21) nos Estados Unidos com um desfecho desfigurado.

Devido à crise do novo coronavírus que paralisou Hollywood, Empire teve de acabar dois episódios antes do previsto e se tornou a primeira grande série afetada gravemente pela pandemia. A sexta temporada foi pensada para ter o desfecho no 20º capítulo. Mas as gravações foram interrompidas durante o penúltimo episódio, que não foi finalizado. Assim, o 18º episódio serviu como o último.

Como era de se esperar, o adeus de Empire foi cheio de pontas soltas, com tramas importantes sem conclusão. "Isso é o que parte o meu coração", disse Brett Mahoney, o showrunner do drama, sobre as histórias não encerradas.

Em entrevista ao site TV Line, ele fez uma promessa aos fãs: "[A conclusão de Empire] Foi vítima da Covid-19. Eu prometo que se a gente não gravar o episódio derradeiro, vamos resolver esse problema de um jeito ou de outro".

[Atenção: a seguir spoilers da sexta temporada]

A sexta temporada simplesmente não finalizou as cenas de flashforward (do futuro) que aparentemente mataram o power couple Lucious Lyon (Terrence Howard) e Cookie (Taraji P. Henson) --ele alvejado por tiros, ela "morta" em um carro-bomba. Esse arco que durou a temporada toda foi ignorado, pois o desfecho seria gravado no 20º e último episódio, com uma clara resolução sobre o destino do casal.

Em vez disso, o que ficou como o episódio fina foi um verdadeiro monstro, uma junção do que seria o 18º capítulo com as cenas gravadas do 19º. O Frankenstein narrativo foi feito para tentar montar algo satisfatório. A trama avançou rapidamente, com duas mortes mal explicadas e um final feliz para toda a família Lyon, unida após deixaram as rixas letais de lado.

Fica aberta a possibilidade de se fazer um filme no futuro para entregar aos telespectadores o que aconteceria no final planejado. Mas, para isso acontecer, os produtores terão de superar entraves em questões contratuais, a agenda do elenco e o constante flerte de Terrence Howard com a ideia de se aposentar da atuação.

Jussie Smollett, Bryshere Y. Gray, Terrence Howard, Taraji P. Henson e Trai Byers em Empire


Inserida na cultura pop

Empire cravou seu lugar na cultura pop, atraindo a atenção de inúmeros artistas (da música, da TV e do cinema) que se ofereciam para atuar na série. A lista de celebridades que passaram pelo drama contou com nomes como Mariah Carey (cantora), Demi Moore (atriz) e Chris Rock (comediante). Quem contribuiu para a atração virar um fenômeno tem nome e sobrenome: Cookie Lyon.

A personagem de Taraji P. Henson virou uma sensação, o que alavancou a fama da atriz. Ela aparecia em tudo que é lugar, de programas matinais a talk shows noturnos, esbanjando um alto astral único e falando sobre Cookie, com seus bordões e um jeito espalhafatoso que a transformaram em ícone.

Empire pode continuar seguindo os passos de Cookie, no que seria uma estratégia lógica e padrão de grandes séries, que é pegar uma personagem marcante e fazer uma série derivada. Contudo, o showrunner Mahoney jura de pés juntos que não sabe de nada sobre uma atração filhote liderada por ela. Por Cookie, Taraji venceu o Globo de Ouro de melhor atriz em 2016.

Altos e baixos

Lançada há cinco anos, Empire atingiu o auge muito rapidamente. O drama musical apresentou números incríveis de audiência nas primeiras temporadas, com episódios cheios de reviravoltas, dignas de novelas mexicanas. Só que depois caiu no lugar-comum, e o público evaporou aos poucos.

No ano de estreia, os números registrados por Empire só eram semelhantes aos de Grey's Anatomy, de uma década atrás. A primeira temporada teve uma média robusta de 13 milhões por episódio e foi líder nos Estados Unidos entre os telespectadores adultos. Também foi dona de um dos comerciais mais caros nos EUA, equivalente aos cobiçados reclames da NFL (a liga profissional de futebol americano).

Em 2019, Empire virou manchete pelos motivos errados, chegando ao noticiário policial e assunto prioritário no site TMZ. Intérprete do cantor gay Jamal, o ator Jussie Smollett se viu enrolado em um escândalo. Ele alegou ter sido atacado por dois homens em Chicago, no que definiu como um crime de ódio e homofobia. Após uma longa investigação, a polícia concluiu que ele mesmo armou tudo.

Smollett teve o caso contra ele arquivado, com o fim das 16 acusações. Ele passou de mártir da causa de minorias que sofrem agressões todos os dias a mentiroso e interesseiro, uma pessoa que armou um crime para ganhar destaque na mídia.

Sem medir palavras, o produtor Lee Daniels, cocriador da série, disse que esse barraco todo "certamente influenciou bastante" o cancelamento do drama na sexta temporada, que nos Estados Unidos terminou com média de 2,65 milhões de telespectadores, 41% a menos do que no ano anterior.

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