SINTONIA
Fotos: Rafael Morse/Netflix
KondZilla (à dir.) passa instruções para Jottapê (de costas), Bruna Mascarenhas e Júlio Silvério
Depois de atrações com boas histórias e desenvolvimento fraco, ou orçamentos que deixaram a desejar e prejudicaram a realização de produtos de alto padrão, a Netflix acerta na mosca com Sintonia, série nacional que chega à plataforma nesta sexta (9). O mentor do projeto é Konrad Dantas, o KondZilla, "rei" do YouTube no Brasil que conseguiu levar o conhecimento adquirido ao fazer seus clipes de funk para o streaming.
"Nós chegamos no topo global do YouTube, somos o maior canal de música do mundo, com 50 milhões de inscritos. Isso representa 24% da população brasileira, é muita coisa. E eu comecei a pensar: como é que eu posso romper a plataforma e buscar mais público? Sou muito grato pelo trabalho que fiz no YouTube, mas era hora de realizar conteúdo para o jovem de favela em outro lugar", diz ele à reportagem.
Sintonia é a história de três amigos que cresceram juntos na fictícia comunidade de Vila Áurea, em São Paulo. Até então inseparáveis, eles começam a se distanciar quando a vida os leva para rumos diferentes: Nando (Christian Malheiros) ganha importância no tráfico; Rita (Bruna Mascarenhas) descobre a salvação na fé evangélica; e Doni (Jottapê) tenta a sorte como cantor de funk.
As tramas são baseadas em casos reais que KondZilla ouviu durante sua adolescência na favela do Guarujá. "Eu ia escutando aquelas histórias e me empolgando. Pensava: 'Se algum dia eu trabalhar com audiovisual, gostaria de contar a história desse cara, e daquele, e do outro também'. No fim, é uma obra de ficção, mas tem muito do que eu ia ouvindo aqui e ali", resume o produtor musical.
Com expertise na gravação de videoclipes, mas sem nenhuma experiência em obras de ficção, Kond se aliou à produtora Losbragas (que já havia feito Samantha! na Netflix), e a parceria acabou resultando no produto que a plataforma estreia agora.
A ideia da série, de acordo com os produtores, é fazer com que os jovens da comunidade, que raramente conseguem se enxergar na televisão, finalmente tenham um produto que possam acompanhar e se identificar.
"A gente precisava começar a dar voz a essas pessoas que têm algo original e único para contar. Porque se você faz uma coisa que é muito local e verdadeira, o potencial dela se torna global. Se você tem uma história legal, mas tenta maquiá-la porque acha que tem ser desse ou daquele jeito, fica mais difícil fazer o público se engajar. 'Representatividade' virou uma palavra meio pau pra toda obra, mas é isso", resume Rita Moraes, produtora da Losbragas.
Christian Malheiros interpreta Nando, protagonista de Sintonia que entra no mundo do tráfico
Apesar de ter sido pensada para o público das comunidades, Sintonia também tem atrativos para outros espectadores. A história dos três amigos é construída como em tantas outras séries, com derrotas e vitórias, romances e corações partidos. E até quem não gosta de funk vai se pegar cantando as músicas do MC Doni.
A história de Rita na igreja também foge do lugar-comum. Ao contrário do que costuma ser mostrado em outras obras de ficção, os pastores não são ladrões interessados no dinheiro dos fiéis, tampouco há segundas intenções dos religiosos ao se aproximarem da jovem --que está, de fato, sem rumo no início da série.
Mesmo a caminhada de Nando no crime evita esteréotipos mostrados tantas vezes no cinema, nas séries e nas novelas. Os personagens do tráfico matam, chantageiam e são violentos, mas suas motivações ali são facilmente identificáveis --o protagonista, por exemplo, faz tudo para garantir o sustento da família.
"Eu tenho uma paixão louca pelo Kond desde o dia em que a gente se conheceu, e ele sabe disso. Mas, para a Losbragas, o atrativo do projeto não era só trabalhar com ele, era isso. Contar a história da comunidade sob o olhar de quem está ali. Não somos nós, elite, tentando fazer isso com a nossa visão de fora. Tem muita verdade no projeto, e isso faz toda a diferença", resume Rita.
A primeira temporada de Sintonia tem seis episódios com cerca de 40 minutos cada. Para aproveitar a repercussão de KondZilla no YouTube, o primeiro capítulo será disponibilizado de graça no canal do produtor durante 48 horas.
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