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Nova série

No Brasil da Netflix, Itaquerão é metáfora da desigualdade social

Fotos: Pedro Saad/Netflix

O ator João Miguel em cena da série 3% filmada na parte interna do estádio do Corinthians - Fotos: Pedro Saad/Netflix

O ator João Miguel em cena da série 3% filmada na parte interna do estádio do Corinthians

JOÃO DA PAZ

Publicado em 24/11/2016 - 6h09

Disponível a partir desta sexta-feira (25), a primeira série nacional da Netflix foi toda produzida em São Paulo. Das cenas externas dos oito episódios de 3%, cerca de 80% tiveram como cenário a Arena Corinthians, o Itaquerão, na zona leste da cidade. O luxo do estádio, que tem acabamento em mármore, contrasta com a pobreza da vizinhança e funciona com metáfora da trama, que trata de um mundo futurista no qual 3% da população desfruta do bom e do melhor, enquanto o resto fica na miséria.

"Foi um achado ter esse prédio do Itaquerão na série", diz o diretor Jotagá Crema em entrevista ao Notícias da TV. "O Itaquerão é uma realidade. Você entra nele e está em outro mundo, é colossal. [Ali] há um dos contrastes do Brasil, entre o opulento e o puxadinho".

No estádio, se passam as cenas do "Processo", uma seleção pelo qual jovens de 20 anos se submetem para entrar no Maralto, área privilegiada de um Brasil devastado. Eles querem escapar do Continente, um lugar abaixo da pobreza, onde quase não há água nem comida. Apenas 3% dos concorrentes têm a oportunidade de mudar de lado.

Parte das cenas no Continente, com pessoas maltrapilhas e sujas, foram gravadas no centro velho de São Paulo. Para o ator Michel Gomes, que interpreta o cadeirante Fernando, o contraste entre o estádio e as cenas feitas na rua foi gritante: "Itaquerão era o Céu e os outros lugares, o Inferno, porque pegamos sets bem pesados", diz. Ele conta que chegou a ser confundido com um morador de rua.

O diretor uruguaio César Charlone (à dir.) supervisiona cenas da série 3% no Itaquerão

Desigualdade escancarada
Assim como outras séries apocalípticas, como The Walking Dead, a intenção de 3% não é contar como houve a destruição, mas mostrar a reação dos sobreviventes da tragédia. 

O território arrasado do Continente é uma grande favela. Quem é preterido pelo "Processo" tenta tocar a vida como pode ou se junta ao grupo de rebeldes chamado A Causa. Eles criam uma força contrária à seleção para o Maralto e infiltram um candidato no 104º ano do "Processo". Essa é uma das principais histórias da primeira temporada.

Quem está no comando do "Processo" é a dupla Matheus (Sérgio Mamberti) e Nair (Zezé Motta). Eles estão de olho no chefe da seleção, Ezequiel (João Miguel), porque pela primeira vez após quase cem anos ocorre um homicídio na área abastada. Por isso, Ezequiel precisa prestar mais atenção em quem irá escolher para passar no processo seletivo. Aline (Viviane Porto) é escalada pela cúpula do Maralto para avaliar o trabalho dele.

O elenco de 3% é recheado de atores que já passaram pela Globo. Além de Sérgio Mamberti (Flor do Caribe), Zezé Motta (Boogie Oogie), João Miguel (Felizes Para Sempre?) e Viviane Porto (Babilônia), estão na série Bianca Comparato (Sete Vidas), Michel Gomes (Sexo e as Negas) e Rodolfo Valente (Malhação).

Criada pelo roteirista Pedro Aguileira, a primeira temporada foi produzida pela Boutique Filmes, com direção-geral do cineasta uruguaio César Charlone, indicado ao Oscar de melhor fotografia por Cidade de Deus (2002).


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