Caso Evandro
Reprodução/TV Globo
Celina e Beatriz Abagge, conhecidas como 'bruxas de Guaratuba', foram acusadas de matar menino em ritual
FERNANDA LOPES
Publicado em 4/1/2020 - 5h26
Está em fase de desenvolvimento e roteiro uma nova série documental e criminal da Globo, chamada Caso Evandro. O projeto, capitaneado pelo professor e pesquisador Ivan Mizanzuk, é baseado no podcast homônimo e contará a história do misterioso assassinato de Evandro Caetano, de 6 anos, há quase três décadas. Há indícios de que ele foi morto num ritual de magia negra.
Evandro Ramos Caetano morava com a família em Guaratuba, cidade do litoral do Paraná, quando desapareceu, em abril de 1992. Após cinco dias de buscas, o corpo foi encontrado num estado macabro: sem os órgãos, sem couro cabeludo, sem as mãos, orelhas, entre outras mutilações.
Na época, sete pessoas foram presas por suposto envolvimento no crime, entre elas a primeira-dama da cidade e sua filha. Celina e Beatriz Abagge, respectivamente mãe e filha, foram acusadas de serem mandantes do assassinato. Elas até confessaram, mas depois afirmaram que foram torturadas e obrigadas a assumirem a culpa.
Ficaram presas durante quase seis anos, em regime fechado e domiciliar. O primeiro julgamento, em 1998, durou 34 dias e é até hoje o mais longo do Judiciário brasileiro.
É sobre essa história que Mizanzuk tem se debruçado novamente. Ele produziu uma temporada de 50 episódios de podcast sobre o caso, e agora transforma o tema para uma série documental de oito capítulos, que irá estrear no Globoplay em 2020 (a data exata ainda não foi definida pela plataforma de streaming).
A atração contará com muito material de arquivo dos julgamentos, de filmagens caseiras e de reportagens da época, além de entrevistas com mais de 40 pessoas envolvidas no caso.
"Estamos entrando em contato agora com possíveis entrevistados. Muitos estão topando, porque entendem [a importância], ouviram o podcast, viram o tratamento sério que o Ivan deu ao caso e imaginam que a série também fará um tratamento respeitoso e ético. Isso faz com que pessoas como Beatriz e Celina Abagge queiram participar. Elas julgam importante dar seu ponto de vista, poder serem ouvidas", diz Aly Muritiba, diretor da série.
Após passarem por mais julgamentos, em 2003 e 2011, num processo de mais de 20 mil páginas, hoje tanto Beatriz quanto Celina Abagge estão em liberdade, sem pendências na Justiça. Para a mãe, o caso prescreveu por causa da idade. Já a filha ganhou perdão de pena em 2016.
Ainda há muito mistério envolvendo o caso e as circunstâncias da morte de Evandro. "Para o Estado o caso está encerrado, não existe recurso. Só que eu também gosto de mostrar que às vezes o Estado te dá resoluções que talvez não sejam convictas. Gosto muito de usar essa história pra mostrar como funciona nosso sistema Judiciário", diz Mizanzuk.
O podcast sobre o Caso Evandro teve mais de 4 milhões de downloads, e Ivan acredita que o fascínio sobre a história continuará na série. "Nós temos essa obsessão por mistérios, não queremos ver coisas mal resolvidas. Isso nos angustia, especialmente quando envolve uma criança morta", afirma.
"E há um outro fator que pra mim é muito importante: onde nós, como sociedade, falhamos pra que isso acontecesse? Que tipo de reflexão a gente pode fazer pra evitar que isso aconteça novamente? [Em séries de crimes reais] Tem o pessoal que está pensando em contar só o crime, olha que horrível o que aconteceu. Quando eu lido com casos reais, prefiro sempre ler as histórias dentro dessa função mais reflexiva e didática do nosso sistema", diz Mizanzuk.
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