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Isca Lésbica

Como Supergirl foi de drama engajado a série superficial e massacrada por fãs

Imagens: Divulgação/The CW

A atriz Melissa Benoist em cena da quinta temporada de Supergirl, com o uniforme da heroína

Melissa Benoist na quinta temporada de Supergirl; militância deu lugar a superficialidade

JOÃO DA PAZ

Publicado em 11/3/2020 - 5h07

Com justiça, Supergirl desfrutou durante muito tempo do status de ser mais do que uma série de heróis. Isso foi conquistado por ela ser engajada, tratar de política e feminismo e abordar temas LGBTQ+ com delicadeza. Mas o jogo virou para pior na quinta temporada, pois a trama ficou superficial, abraçou o queerbaiting (insinua casais homossexuais que nunca se concretizam para atrair esse público) e agora é massacrada por fãs.

[Atenção: este texto contém spoilers]

A insatisfação dos telespectadores da série da prima do Superman chegou ao ápice no último domingo (8), com a exibição do 14º episódio da quinta temporada nos Estados Unidos. Bem no Dia Internacional da Mulher, a atração forçou um encontro romântico entre Kara Danvers (Melissa Benoist), a identidade civil de Supergirl, com o repórter William Dey (Staz Nair).

A superficialidade desse relacionamento é gritante. Kara só topou sair com o colega de trabalho porque ficou com culpa de tê-lo rejeitado em outra oportunidade (ele havia sido tosco e idiota com ela). Não é ideal que a heroína da história se envolva com um par romântico dessa forma, um namoro erguido na base "vou me encontrar com você porque estou com dó".

Os fãs de Supergirl encontraram uma maneira de demonstrar o quanto ficaram enfurecidos com essa abordagem. Eles foram ao site IMDb, que compila fichas de diversas produções e recebe avaliações de fãs, para dar a nota mais baixa possível ao episódio da semana, chamado de The Bodyguard (O Guarda-Costas).

Na terça-feira (10), o capítulo estava com média 4,3, a pior de toda a série no site. Esse dado soma os julgamentos de todos os votantes (412 internautas usuários até a conclusão deste texto). Do total, 256 pessoas (62%) deram nota 1.

Katie McGrath com Melissa Benoist (de costas); é um olhar de amiga ou de quero algo a mais?


O que é queerbaiting?

Uma avaliação tão negativa carrega um valor simbólico. O episódio mais recente foi a gota d'água para os fãs. O desgosto de quem vê Supergirl com a atração vem de muito antes, principalmente pelo queerbaiting que envolve a protagonista e Lena Luthor (Katie McGrath), a irmã de Lex Luthor (Jon Cryer).

O termo em inglês pode ser traduzido como "isca homossexual", que serve para carimbar quando uma série (ou novela ou filme) insinua um romance entre duas mulheres para atrair o público LGBTQ+. Mas nada acontece, não passa da amizade.

Supergirl faz isso de forma escancarada com Kara e Lena. Os diálogos que elas travam têm frases do nível: "Eu nunca tive alguém igual a você". As nuances românticas entre as duas são inúmeras, como troca de olhares típicos de quem está flertando com outra pessoa. Ao fundo, uma trilha sonora ideal para tascar um beijão.

O pior de tudo é que Supergirl não precisava aplicar tal truque, que culminou no encontro forçado de Kara com William, como se mostrasse aos fãs que a Supergirl é, sem sombra de dúvida, heterossexual. Fora isso, a atração tem um público LGBTQ+ cativo, angariado por belas histórias contadas no passado.

A primeira se deu em 2016, ainda na segunda temporada, quando a agente Alex Danvers (Chyler Leigh), irmã adotiva de Kara, saiu do armário e assumiu ser lésbica. A série engatou um romance dela com a detetive Maggie Sawyer (Floriana Lima). O casal serviu como exemplo para telespectadoras, inclusive livrando uma da morte.

Na quarta temporada, Supergirl apresentou uma heroína transexual. Trata-se de Dreamer, interpretada por Nicole Maines.

Tais ações só ajudaram o drama a ser conhecido por sua veia progressista e ativista. A série já teve mulher presidente dos EUA, campanha para conscientizar eleitores na hora do voto e debate sobre imigração, jogando na atração assuntos em voga no mundo contemporâneo. É o oposto do que se vê atualmente.

Supergirl está renovada para a sexta temporada. Os episódios inéditos da quinta temporada são exibidos no Brasil na Warner, aos domingos, sempre às 23h15. O capítulo The Bodyguard será exibido no próximo dia 22. As quatro primeiras temporadas estão disponíveis na Netflix.

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