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CARRASCO NAZISTA

Quase inofensiva, Flor do Caribe mexe em vespeiro com vilão nazifascista

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Sérgio Mamberti está de terno e segura na mão direita uma medalha da Cruz de Ferro nazista em cena de Flor do Caribe

Dionísio (Sérgio Mamberti) ostenta com orgulho a Cruz de Ferro, símbolo nazista, em Flor do Caribe

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 22/8/2020 - 6h55

Praticamente inofensiva, a reprise de Flor do Caribe (2013) não deve render fortes dores de cabeça à Globo. Com audiência razoável em sua primeira exibição, além de contar com o "efeito Grazi Massafera" para fisgar o público, o folhetim de Walther Negrão tem, no entanto, um calcanhar de Aquiles: o seu vilão nazifascista Dionísio (Sérgio Mamberti).

A emissora divulga a trama, que volta ao ar no próximo dia 31, como uma "viagem" à paradisíaca e fictícia Vila dos Ventos, baseada nas dunas e praias do Rio Grande do Norte. O clima solar e a narrativa contemporânea contrastam diretamente com a pegada histórica de Novo Mundo --que chega ao último capítulo na próxima sexta-feira (28) sem repetir o sucesso de sua exibição original.

A novela de Alessandro Marson e Thereza Falcão tropeçou não só por ainda estar fresca na memória dos telespectadores que a acompanharam em 2017. Ao misturar ficção com os livros de História, a produção afugentou o público já desgastado por acompanhar nos telejornais a crise política e econômica agravada pela pandemia de coronavírus (Covid-19).

O principal trunfo da nova reprise é fornecer um alívio ao público com uma imagem de um país tropical e abençoado por Deus, bem longe das intrigas políticas que Pedro (Caio Castro) enfrentou na antecessora de Nos Tempos do Imperador.

"Ela é leve, solar, perfeita para exibir numa pandemia, porque traz outro clima", afirma o ator Jorge Loreto, intérprete do Candinho. "Concordo. A reprise vem um momento muito especial para dar um respiro e levar as pessoas a viverem um romance, uma aventura, um pouco disso tudo", explica o diretor artístico Jayme Monjardim.

O único empecilho para fazer as pessoas se esquecerem do noticiário é justamente o personagem de Sérgio Mamberti. Sob a fachada de um senhor simpático e bonachão, o antagonista é, na verdade, Klaus Wagner. Ele é procurado há anos por ser um carrasco nazista responsável pela tragédia que se abateu sob diversas famílias judias, incluindo a do pai de Ester (Grazi Massafera).

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Cruz de Ferro com a suática nazista: honraria de Dionísio (Sérgio Maberti) assombra folhetim

Há nove anos, a narrativa estreou em um mundo que palavras como fascismo e nazismo eram até então uma triste página, ainda que virada, da humanidade. Dionísio exibia as suas medalhas, como a condecoração que ganhou do próprio Adolf Hitler (1889-1945), como um resquício de um mundo que parecia existir apenas nos filmes e no museu.

Em 2020, o fascismo voltou a ganhar fôlego, a exemplo de Donald Trump que sugeriu incluir grupos antifascistas como terroristas nos Estados Unidos. No Brasil, o STF (Supremo Tribunal Federal) votou na quarta (19) para impedir o ministério da Justiça de produzir um dossiê sobre servidores identificados com o movimento --o próprio presidente Jair Bolsonaro é frequentemente apontado como "fascista".

Ou seja, Flor do Caribe tem pela frente o desafio de falar sobre um assunto em um momento em que ele volta a ficar "quente", com apoiadores e opositores exaltados. A seu favor, a atuação de Mamberti conseguiu mesclar os dados históricos com uma boa dose de caricatura em seu papel. "Era meio uma paródia de nazista e agora já virou uma realidade", avalia Jean Pierre Noher, que deu vida ao malandro Duque.


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