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ANÁLISE

Novas reprises mostram que Globo se preocupa mais com ibope do que com a web

Fotos: Divulgação/TV Globo

Montagem com as atrizes Juliana Paes, Mariana Ximenes e Grazi Massafera em cenas de A Força do Querer, Haja Coração e Flor do Caribe, respectivamente

Juliana Paes em A Força do Querer, Mariana Ximenes em Haja Coração e Grazi Massafera em Flor do Caribe

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 1/8/2020 - 7h20

Tão logo a Globo oficializou a próxima trinca a ser reprisada na pandemia, a gritaria na internet foi generalizada. Flor do Caribe (2013) ocupará a vaga de Novo Mundo (2017), mas os internautas torceram o nariz para a escolha da trama de Walther Negrão. De fato, a história passa longe de ser emblemática, mas tem duas coisas que, nesse momento, pesaram na decisão da emissora: qualidade técnica e audiência satisfatória.

Esquemática demais, Flor do Caribe foi mais uma das novelas de Negrão a beber na fonte de Tropicaliente (1994). Apesar de ensolarada e para cima, Flor do Caribe flertou com uma trama nazista incluída (e mal desenvolvida) na metade final da história. Ainda assim, é um folhetim que tende a fazer o público se esquecer um pouco do momento pesado causado pelo coronavírus.

Além disso, Flor do Caribe tem outro fator relevante: o protagonismo de Grazi Massafera, atriz em alta na Globo depois de brilhar em Bom Sucesso (2019). Como a mocinha Ester, ela já dava mostras de um amadurecimento em sua atuação, o que viria a se confirmar com Verdades Secretas (2015) e, posteriormente, no último fenômeno da faixa das sete.

Já a escolha de Haja Coração (2016) também obedeceu a critérios de audiência. A releitura de Sassaricando (1987) não fez feio no ibope, apesar de não ser uma novela aclamada pelos noveleiros, que torciam pela volta do remake de Ti Ti Ti (2010).

O único senão sobre Haja Coração é que a escolha pode significar mais trabalho para o autor Daniel Ortiz, que viu sua Salve-se Quem Puder ser interrompida no meio e agora terá de se esforçar para não reutilizar fórmulas prontas nem deixá-las evidentes no ar, como o par romântico vivido por Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo, repetido nas duas novelas do autor.

Por fim, a mais óbvia das reprises, A Força do Querer (2017), embora ainda esteja fresca na memória do público, foi um acerto da emissora, principalmente quando comparada ao horror narrativo que é Fina Estampa (2011).

Sem o exótico de outras culturas, a história de Gloria Perez, uma das mais bem contadas de sua carreira, é extremamente brasileira, tocou em temas relevantes da atualidade de uma maneira sensível e ainda contou com um desempenho excepcional de Juliana Paes, eternizada como a traficante Bibi Perigosa.

Por mais gritaria que a internet fizesse, as escolhas mostram que a Globo não está muito preocupada com hashtags e memes, mas sim com números que satisfaçam o departamento comercial, que mais do que nunca precisa mostrar serviço.

Ironicamente, a emissora desperdiçou seus tesouros no Vale a Pena Ver de Novo. Avenida Brasil (2012) e Êta Mundo Bom! (2016) foram reprisadas na faixa vespertina, o que impossibilita a exibição dos grandes sucessos em seus horários originais. Por outro lado, os dois títulos se mostraram essenciais para aquecer a audiência da tarde e manter os telespectadores ligados na emissora.

Para o público saudosista de grandes clássicos da teledramaturgia, o recado é claro: ele não vai ficar órfão, mas não vai ser na tela da TV que terá a chance de matar a saudade. Se quiserem, que se satisfaçam com os relançamentos do Globoplay.


Este texto não reflete necessariamente a opinião do Notícias da TV.

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