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CRÍTICA

A Dona do Pedaço só foi boa para comercial da Globo e conta de Paolla Oliveira

Reprodução/TV Globo

Paolla Oliveira em cena de merchandising de A Dona do Pedaço como a blogueira Vivi Guedes

Vivi (Paolla Oliveira) fez merchandising de carro em A Dona do Pedaço e nos intervalos da novela

RAPHAEL SCIRE

raphascire@gmail.com

Publicado em 23/11/2019 - 5h05

Alavanca de audiência da Globo, o autor Walcyr Carrasco virou sinônimo de sucesso. Desde que foi promovido ao horário mais nobre da emissora, com Amor à Vida (2013), nenhuma de suas novelas decepcionou na audiência, inclusive aquelas que escreveu em outros horários, como Verdades Secretas (2015) e Eta Mundo Bom! (2016). Com A Dona do Pedaço não foi diferente. Sua fórmula pronta, pasteurizada e de fácil entendimento mais uma vez funcionou.

Para a emissora, a história das peripécias de Maria da Paz (Juliana Paes) foi um bálsamo comercial. Ações de merchandising apareciam capítulo sim, outro também. Até o programa de Sonia Abrão perderia na quantidade de interrupções.

Segundo a revista Veja, a arrecadação da emissora com receita publicitária, nos últimos três meses, cresceu R$ 200 milhões, uma cifra considerável em tempos de crise econômica.

Para os atores, fazer parte de um elenco de Walcyr Carrasco é a certeza de uma exposição das mais interessantes, com inúmeras chances de destacar a carreira na televisão e engordar a conta bancária. Paolla Oliveira que o diga: sua Vivi Guedes foi a verdadeira dona do pedaço, ao menos do pedaço comercial.

Com uma ajudinha da digital influencer, a publicidade extrapolou os limites da história. A personagem virou garota-propaganda de marca de carro, além de emprestar o rostinho para diversos outros produtos.

Estima-se que uma marca precisa desembolsar ao menos R$ 500 mil para ter Paolla como estrela de campanha. Quando a ação é apenas digital, o valor cai pela metade. Já dá para ter uma noção do quanto a atriz faturou, visto que Vivi foi a personagem mais requisitada para encabeçar os merchans.

E quem pagou o preço de tudo isso foi mesmo o público, ao menos aquele telespectador mais exigente, que preza por uma história de qualidade, com personagens bem delineados e diálogos que não entregam as cenas mastigadas, deixando um mínimo de espaço para o raciocínio lógico funcionar. A Dona do Pedaço passou longe de todos esses requisitos.

A trama foi inicialmente comparada a Vale Tudo (1988), mas, no final, o paralelo soa até ofensivo. A semelhança para na vontade da filha de dar um golpe na própria mãe. Não havia em Josiane (Agatha Moreira) motivações para tanto ódio.

O mínimo que se espera de uma novela é coerência, e isso o folhetim das nove não teve. Tal qual a história mambembe, sua protagonista sofreu de um surto de personalidade durante toda sua trajetória: começou como mocinha ingênua, virou uma perua espalhafatosa, nutriu uma certa sede de vingança... Isso para não falar nos trejeitos abobalhados que Juliana imprimiu em sua criação.

Maria da Paz não esteve sozinha no rol de personalidade mutantes que apareceram na história. Personagens mudaram ao sabor de acontecimentos estapafúrdios. Ações sem nenhuma justificativa pareciam esquecidas pelos personagens, ninguém nunca contestou a mudança repentina de fulano ou sicrano, e a tarefa de dar um mínimo de dignidade diante da bipolaridade das criações, para os intérpretes, foi ingrata.

Nathalia Dill, a noviça do mal Fabiana, e Lee Taylor, o tira da pesada Camilo, foram os únicos que conseguiram trazer um pouco de harmonia para as bombas que tinham em mãos. Suely Franco (Marlene), Deborah Evelyn (Líris) e até Caio Castro (Rock) também não comprometeram e defenderam bem seus coadjuvantes, mais coesos.

Por fim, A Dona do Pedaço esteve a um passo de transformar o principal produto da Globo em uma cópia bem finalizada de novela da Record. A conversão de Jô e Régis (Reynaldo Gianecchini) teve direito a vários ingredientes vistos nas tramas bíblicas da concorrente: a música (aqui menos tonitruante, é verdade) e a pregação com discursos inflamados, repleta de louvores e améns, são facilmente encontrados na concorrência. Só faltaram as passagens da Bíblia narradas por uma voz de trovão.

Ao público, restaram duas opções: embarcar na viagem louca de Carrasco ou apontar todos os absurdos de um roteiro sem pé nem cabeça. No melhor estilo "falem bem ou falem mal, mas falem de mim", a história cumpriu seu papel.

Por todo o serviço prestado durante sua exibição, A Dona do Pedaço pode ser resumida em uma única palavra: #chacotinha.


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