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DIREITISTA E FASCISTA

Do agronegócio ao MST: Bronca de Lula no JN acerta em cheio Pantanal

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Montagem com Lula no Jornal Nacional à esquerda e Marcos Palmeira como José Leôncio à direita em cena de Pantanal

Lula em sabatina ao Jornal Nacional e José Leôncio (Marcos Palmeira) em cena de Pantanal

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 28/8/2022 - 9h00

A bronca de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o agronegócio, ao qual se referiu como "fascista e direitista", não ficou restrita apenas ao Jornal Nacional na última quinta (25). As críticas do ex-presidente ecoam também contra um dos principais produtos do horário nobre da Globo, a novela Pantanal --que tenta se pintar de verde, mesmo como um dos maiores acenos da emissora ao setor.

O próprio petista é um telespectador assíduo do folhetim de Bruno Luperi e já se comparou a Jove (Jesuita Barbosa) em eventos de pré-campanha. O rapaz, inclusive, é responsável por levantar bandeiras agroecológicas e tentar implantar práticas de manejos sustentáveis nas fazendas de José Leôncio (Marcos Palmeira).

O empresário mostra todo o tempo que sente uma culpa imensa por ter criado um império agropecuário em um dos ecossistemas mais ameaçados do Brasil. O discurso até faz bonito nas redes sociais, mas resvala em uma prática conhecida como greenwashing --falas genéricas e aproximação com temas verdes para passar uma falsa impressão de sustentabilidade.

José Leôncio é uma figura recorrente que aparece em novelas da Globo, a do bom empresário, que vai de encontro às críticas mais recorrentes à elite econômica brasileira. Uma espécie de capitalista de bom coração, a exemplo de Santiago em Um Lugar ao Sol (2021).

O pecuarista é construído como um homem simples, vindo das camadas populares que, como num acaso do destino, se vê com sete fazendas e um rebanho de proporções bíblicas. Ou seja, justamente o contrário dos principais nomes do agronegócio --cujas fortunas e propriedades vêm de décadas ou até mesmo séculos de acumulação.

O pai de Tadeu (José Loreto) é claramente um representante desse setor que, para limpar a barra, faz mea culpa na novela: seja por rejeitar a política, mesmo com a bancada do boi sendo uma das maiores do Congresso; por críticas ao agrotóxicos; ou pela recusa à modernidade, que vai levá-lo ao lugar do Velho do Rio (Osmar Prado) no final da trama.

Em 1990, essa transição não era exatamente uma questão para Benedito Ruy Barbosa. Luperi, entretanto, enfrenta um cenário de colapso ambiental, em que o agronegócio também tem peso na crise econômica ao pressionar preços em preferir vender mercadorias como leite e carnes ao exterior com a alta do dólar. Agora, um pecuarista virar guardião do Pantanal chega a ganhar até certo tom de escárnio.

E o MST?

Lula até faz um breve aceno ao setor ao falar de um pequeno grupo de empresários que prefere manter políticas de preservação ambiental para manter acordos com União Europeia e China. José Leôncio até poderia entrar nesse grupo, mas há uma ressalva que volta a colocar Pantanal em xeque: a citação ao MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).

A escolha de Luperi em insistir nas figuras de José Leôncio --o agronegócio-- e Jove --o herdeiro-- como protagonistas em uma história com fundo ambiental soa bastante preguiçosa dentro do universo de Ruy Barbosa. O avô dele já trazia os sem-terra em evidência em O Rei do Gado (1994), quando eles ainda eram vistos sob uma aura de "terroristas" pela opinião pública.

Uma das mudanças centrais desde a primeira versão de Pantanal é que questões identitárias passaram a ter um peso muito maior não só dentro das esquerdas, mas também na forma em se construir uma narrativa. Mais do que a história em si, quem a conta passa a ser crucial.

O autor até coloca alguns personagens fora do poder hegemônico dentro do discurso ambiental, a exemplo de Miriam (Liza Del Dala), uma mulher negra especialista agroecologia que ajuda os Leôncio a implantarem manejo sustentável em uma das fazendas.

O xis da questão é que o protagonismo continua em Jove, que é um jovem que não tem qualquer formação na área. Ele é qualificado apenas por herdar os poderes econômicos de José Leôncio e os sobrenaturais do Velho do Rio --capaz de dominar bois marruá só no olhar.

Por que Pantanal se recusa a colocar as figuras que realmente estão no front da guerra pela terra como protagonistas? A própria trama dá uma abertura, como no caso de Filó (Dira Paes), que dá indícios de pertencer ao grupo indígena Terena, e a obra de Ruy Barbosa também é rica nessas referências.

Luperi parece ser alvo de uma deferência maior do que necessária pelos roteiros do avô, a ponto de que manter diálogos inteiros inalterados, quiçá a interferir por completo no andamento da novela --a exemplo de Trindade (Gabriel Sater), que foi embora mesmo debaixo de inúmeros apelos.

Essa falta de imaginação também parece ser o que o crítico britânico Mark Fischer (1968-2017) chamou de realismo capitalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo. Pantanal tem uma dificuldade imensa em sonhar com outro mundo possível e se contenta com este --apenas adiando um colapso ambiental cada vez mais próximo.

Escrita por Benedito Ruy Barbosa, a novela Pantanal foi exibida em 1990 pela extinta Manchete (1983-1999). O remake da Globo é adaptado por Bruno Luperi, neto do autor, e ficará no ar até outubro.

Em seguida, a Globo vai estrear Travessia, trama de autoria de Gloria Perez.


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