MENOS AGRO, MENOS POP
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Jupará (Evaldo Macarrão) em Renascer; ele representa comunidades tradicionais na trama
Bruno Luperi deu indícios de que prestou atenção nas críticas à abordagem sobre o meio ambiente no remake de Pantanal (2022). O primeiro capítulo de Renascer na segunda (22) tocou no assunto de uma maneira muito menos didática e com maior atenção aos porta-vozes --sobretudo em uma das primeiras cenas de Jupará (Evaldo Macarrão).
A história de Juma (Alanis Guillen) foi duramente criticada por promover um "banho verde", também chamado de greenwashing, em um dos setores que mais contribui para as mudanças climáticas. O pecuarista José Leôncio (Marcos Palmeira) discursava a favor da preservação, mesmo quando sua atividade econômica era uma das principais responsáveis pela degradação daquele bioma.
Pantanal também havia derrapado ao oferecer um contraponto aos manejos tradicionais do agronegócio. Jove (Jesuita Barbosa) muitas vezes abordou a agrofloresta com excesso de didatismo, o que acabaria afastando ainda mais o público de uma discussão mais profunda.
Além disso, o fotógrafo era justamente um forasteiro que apontava o que devia ser feito na região, quando havia vozes bem mais ligadas à terra --como as de Tadeu (José Loreto) ou até mesmo o Velho do Rio (Osmar Prado). Uma cena controversa sobre o veganismo igualmente prejudicou a discussão.
Renascer, de antemão, já dá a chance de Luperi construir outro tipo de debate sobre meio ambiente. José Inocêncio (Humberto Carrão) foi apresentado como um homem com ideias revolucionárias sobre a produção de cacau --surpreendendo ao reerguer uma fazenda assolada pela vassoura-de-bruxa.
Em vez de longos discursos sobre agrofloresta, o protagonista colocou o método na prática e de uma forma que contribuiu para a narrativa. O espanto dos trabalhadores com a ideia de misturar a mata nativa com o cacau por si só introduziu o tema de uma maneira muito mais simples e compreensível.
Um dos acertos de Renascer em sua abordagem sobre o meio ambiente foi o espaço dado a Jupará. Ele teve uma sequência de grande destaque na qual explicou a origem do seu apelido. Trata-se de uma referência a um pássaro que teria recebido de Deus a missão de disseminar as sementes do cacau.
O telespectador mais desatento pode ter achado que a sequência foi apenas um maneirismo do longo capítulo de estreia. Contudo, o diálogo apresentou ao público a relação dos povos tradicionais com a terra, composta não só por diversos saberes, mas também por uma profunda ligação sagrada com o solo.
Jupará representa as diversas comunidades quilombolas do sul da Bahia que resistem desde o século 18, quando começou o grande fluxo de pessoas escravizadas que fugiam em direção a adensamentos como Camamu e Cairú. Ou seja, ele vocaliza mais de dois séculos de práticas que representam uma alternativa ao tipo de exploração da terra proposto pelo agronegócio.
O excesso de deferência de Luperi ao texto do avô, Benedito Ruy Barbosa, pode ter causado boa parte do ruído sobre a discussão ambiental em Pantanal. A relação do agronegócio com a terra e com a pauta ecológica era bastante diferente em 1990 daquela promovida em 2022 --e até mesmo em 1996, quando o pecuarista Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) foi o protagonista de O Rei do Gado.
Renascer é mais próxima de Velho Chico (2016), em que Santo (Domingos Montagner) também representava essas vozes da terra em contraponto a um representante do agronegócio, o vilão Afrânio (Antonio Fagundes). José Inocêncio também traz em si esse enfrentamento na relação conturbada com os coronéis Firmino (Enrique Diaz) e Belarmino (Antonio Calloni).
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