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GREENWASHING

Agro e pop, Terra e Paixão passa com trator em cima da 'ecochata' Pantanal

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

A atriz Barbara Reis caracterizada como a Aline em cena de Terra e Paixão

Aline (Barbara Reis) em Terra e Paixão; personagem virou o rosto de maniqueísmo ecológico

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 23/6/2023 - 6h40

A cada capítulo, Terra e Paixão se confunde ainda mais com as propagandas da campanha "Agro é pop, agro é tech, agro é tudo". Afinal, o agronegócio --mais do que um pano de fundo-- se beneficia diretamente do maniqueísmo da história. Não à toa, esse conflito entre os bons e os maus produtores também ganha um verniz ecológico --em que Antônio (Tony Ramos) está de olho em um tesouro nas terras de Aline (Barbara Reis).

O folhetim de Walcyr Carrasco não só debate o mesmo assunto, a água, como ainda passa como um trator em cima de Pantanal (2022). Além do texto muito didático (para não dizer repetitivo), a história de Aline trabalha com conceitos mais inteligíveis a um público mais amplo --de que esse recurso está prestes a acabar, levando ao colapso da economia e da sociedade humana.

Terra e Paixão apela a um discurso raso, em que Caio (Cauã Reymond) recita diversas vezes que o agronegócio é responsável por colocar comida na mesa dos brasileiros. Essa comida, no entanto, vem de outra fonte. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a agricultura familiar é responsável por 70% dessa produção.

A novela das nove também não enxerga o agro como um setor que produz pressão econômica e também política, com uma bancada significativa no Congresso Nacional. Ao contrário, o folhetim divide esses empresários a partir de um filtro moral e bastante distante da realidade.

Aline representa os "bons" produtores, que respeitam a terra como uma entidade quase mística e, por isso, são beneficiados por ela com seus recursos. No caso, com uma nascente em sua propriedade. Antônio, por sua vez, é o rosto dos "maus" --cuja ganância levou a uma punição, a uma crise hídrica sem precedentes em suas fazendas.

Banho verde

Pantanal até tinha um certo grau de maniqueísmo, no qual José Leôncio (Marcos Palmeira) representava os pecuaristas que tinham certa ética em relação ao bioma. A trama, porém, considerava o fator político que é ignorado por Terra e Paixão --como nas aspirações de José Lucas (Irandhir Santos) a um cargo público.

O remake de Bruno Luperi, contudo, também poderia facilmente ser acusado de greenwashing (banho verde, em inglês). A história tomava para si virtudes ambientalistas que não necessariamente eram verdadeiras ou aplicáveis à realidade --como se fosse apenas um verniz.

Carrasco teve um cuidado a mais ao construir a sua história para que essa lavagem não ficasse assim tão evidente. Em vez de um representante das elites, como o playboy Jove (Jesuita Barbosa), ele escalou uma professora de Matemática, sem qualquer conhecimento prévio sobre o agronegócio, para ser a sua protagonista.

Aline não só traz essa inocência como também carrega a representatividade de "dona da terra", seja por ser uma mulher negra que dialoga com comunidades tradicionais e quilombolas, seja por ter a bênção do núcleo indígena da trama. Como se o pajé Jurucê (Daniel Munduruku), como porta-voz dos povos originários, a entregasse a real posse da terra.

A questão é que essa construção, mesmo que muito melhor amarrada do que a de Jove, acaba soando como apenas uma casca, um disfarce. A representatividade de Aline no viés ecológico vai se esvaziando aos poucos, à medida que Terra e Paixão funciona como relações-públicas do agronegócio.

Não à toa, a produção parece mais a propaganda de EGS (Governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês) de uma mineradora. Difícil engolir uma discussão sobre crise hídrica, por mais bem embalada que seja, quando o agronegócio é responsável por 90% do consumo de água do país.


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