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NOME AOS BOIS

'Amiga da onça' do meio ambiente, Pantanal tem medo de falar sobre política

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Murilo Benício caracterizado como o Tenório em cena de Pantanal

Tenório (Murilo Benício) em Pantanal; vilão esconde Bolsonaro por trás do bigode na novela

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 26/5/2022 - 6h45

O Velho do Rio (Osmar Prado) está sempre a postos para passar mais uma cena reclamando sobre como o homem destrói a natureza em Pantanal. O ancião é a síntese do discurso da novela das nove sobre a ecologia, que  frequentemente soa genérico. Um tanto "amiga da onça" do meio ambiente, a produção tem uma dificuldade imensa em se fazer presente politicamente para dar nome aos bois --sejam os gados do agronegócio ou de Jair Bolsonaro.

O bioma sempre foi apontado pelo autor Bruno Luperi como um dos protagonistas do remake, ainda que já não representasse mais aquele "paraíso perdido" da primeira versão. A ação humana fez com que a equipe encontrasse muito mais poeira do que água nas planícies alagadas.

Os próprios personagens falam o tempo inteiro sobre o que se perdeu de uma forma quase religiosa, como se tivessem sido expulsos dos Jardins do Éden. Eugênio (Almir Sater) disse a Irma (Camila Morgado) que a bordo da chalana assistiu impassível aos fogaréus que destruíram a mata.

O barqueiro faz referência aos incêndios que arrasaram o Pantanal e atrapalharam a própria pré-produção do folhetim em 2021. Eles, no entanto, têm muito mais a ver com a história do que se imagina. O avanço indiscriminado do agronegócio --e de tantos José Leôncio (Marcos Palmeira)-- levou a região a uma de suas piores secas e ao consequente desastre.

O pecuarista não é apresentado como proprietário de sete fazendas, com uma fortuna no banco e digno de frequentar os círculos da bancada ruralista. Ele ganha um verniz do peão que venceu na vida ao dominar a natureza e que não perdeu a essência --numa ladainha que até fazia sentido em 1990.

O mito do "bom Leôncio" ainda é passado para Jove (Jesuita Barbosa), que encontrou o propósito na vida em reunir o próprio rebanho. Um tanto inimaginável para um rapaz que até alguns capítulos era vegetariano e criticava o pai por lucrar com a exploração animal --e cujas mudanças foram amplamente criticadas por ativistas.

A dificuldade de Pantanal em criticar o impacto do agronegócio ao meio ambiente é que isso também implicaria em desconstruir os seus próprios heróis. Essa simbiose entre os Leôncio e o Pantanal faz parte da história de uma forma tão fundamental que para desfazê-la precisaria começar a novela do zero.

Jesuita Barbosa como Jove ao lado de Marcos Palmeira, o José Leôncio, em cena de Pantanal

Jove e José Leôncio em Pantanal

Bolsonaro: o inominável

Luperi recusa inicialmente didatismos para discutir algumas das questões mais espinhosas, como o machismo de José Leôncio. Em outros momentos, ele até precisou fazer com que Guta (Julia Dalavia) realmente desse as tais "palestrinhas" diante dos impropérios que saíam da boca de Tenório (Murilo Benício) --e que precisavam de respostas à altura.

Um dos pontos que mais chama atenção é a relutância do autor em associar o vilão mais fortemente a Jair Bolsonaro. O marido de Bruaca (Isabel Teixeira) é o porta-voz do presidente dentro da narrativa, seja no apoio ao garimpo ou no avanço do turismo mesmo em áreas com forte proteção ambiental.

A opção, obviamente, não é censura da Globo. A emissora sempre deixou os novelistas muito à vontade para fazerem as ressalvas que quisessem ao atual presidente e ao gabinete dele. Nos Tempos do Imperador (2021) e Além da Ilusão são provas vivas de que menções mais diretas são possíveis.

Luperi também não é um escritor que se furta a escrever sobre temas mais políticos, a exemplo de Velho Chico (2016). A ausência de alfinetadas claras a Bolsonaro parece ter a ver mais com o próprio público, que é bem mais amplo e difícil de fisgar às nove da noite.

Com o horário em baixa diante do fracasso de Um Lugar ao Sol (2021), o novelista parece ter desistido de pesar a mão. O brasileiro não só tende a rejeitar a política, como também passa pelo tal processo de polarização. E abrir mão dos 30% de telespectadores que se declaram abertamente apoiadores do bolsonarismo não parece boa ideia.

Esse aceno, claro, possui uma série de consequências. Além do meio ambiente, Pantanal abre espaço para uma série de discussões sobre LGBTfobia, feminismo, repressão sexual e tantos outros tópicos que aparentemente só vão ficar mesmo na boca do povo.


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