P-VALLEY
IMAGENS: DIVULGAÇÃO/STARZ
A atriz Brandee Evans em imagem da série P-Valley, considerada a nova sensação da TV norte-americana
JOÃO DA PAZ
Publicado em 19/7/2020 - 6h45
Entre as mais de 500 séries que existem na TV americana, surge aquela que se destaca por ser, de fato, única. Criada por uma mulher, só com diretoras e com um time de roteiristas predominantemente feminino, o drama P-Valley narra a vida de strippers. Esses fatores tornam o programa diferente e atraente. Mas afinal, o que ela tem de tão especial?
Para os especialistas, P-Valley é a nova sensação da chamada summer season, período de lançamentos entre junho e agosto. O prestigiado site The Hollywood Reporter foi além, carimbando a produção como "uma das melhores séries do ano."
Disponível no streaming Starzplay, com novos episódios sempre aos domingos, o drama tira da margem as strippers, figuras até presentes em séries, porém usadas sempre como pano de fundo, às vezes sequer chamadas pelo nome. O exemplo maior desse retrato é visto em The Sopranos (HBO, 1999-2007), com os encontros de Tony (James Gandolfini) e sua trupe no clube Bada Bing!.
P-Valley apresenta uma proposta inédita. Tem como protagonistas as strippers de um estabelecimento em uma das regiões mais pobres dos Estados Unidos, no delta do rio Mississippi. A proposta é mostrar que aquelas mulheres encaram os shows em cima do palco como um trabalho e são donas de trajetórias não muito opostas àquelas com profissões mais conservadoras, por assim dizer.
Ter mulheres em todos os cantos dos bastidores ajuda a atração a ter um estilo sem igual. A ativista e roteirista Katori Hall montou uma peça de teatro sobre strippers, batizada de Pussy Valley. Para a TV, a primeira palavra foi abreviada em uma autocensura, por ser uma referência chula ao órgão genital feminino.
Katori percorreu todos os Estados Unidos com o propósito de conhecer essas mulheres e ouvir o ponto de vista delas para repassá-los ao grande público. Com a série, o alcance é maior, com um objetivo.
"Nós estigmatizamos mulheres que são strippers. Nós a julgamos", pontuou a ativista em entrevista para o site Deadline. "Então, para mim, a série serve para humanizar esse grupo de mulheres que é ignorado". A correção disso brotou das mãos e visão feminina. Todo os oito episódios foram dirigidos por mulheres. E quatro roteiristas participaram do processo de construção do drama.
Elarica Johnson é uma das atrizes do elenco de protagonistas de P-Valley; passado misterioso
Está no bojo de P-Valley mostrar que aquelas strippers têm sentimentos, são mais do que objetos para compor uma cena. Logo de cara, o telespectador se depara com Autumn Night (Elarica Johnson), que escapa de um furacão no Estado do Texas e desce de um ônibus na pequena cidade fictícia de Chucalissa, no Mississipi. Ela vai parar de frente ao clube Pynk, mas sequer tem dinheiro suficiente para entrar.
Ao ver que o local estará fazendo um concurso com strippers amadoras, ela decide participar. Como em muitas séries do canal americano Starz (tipo Vida), Autumn assume a função da personagem de vem de fora e serve como um guia para o telespectador conhecer o núcleo duro da trama.
No Pynk, feito para representar um clube de verdade, quem reina absoluto é Mercedes (Brandee Evans), uma stripper idolatrada e veterana, perto da aposentadoria aos 20 e poucos anos de idade. De dia, ela treina um grupo de garotas cheerleaders e tem uma mãe gananciosa, líder de louvor de uma igreja evangélica.
P-Valley entra nesse mundo complexo e sujo, conhecido nos EUA como o dirty south (a música rap que vem dessa região é a trilha sonora da série). É uma mistura de pobreza, poucas oportunidades de trabalho e uma presença religiosa forte. Uma região marcada pelo passado cruel da escravidão e segregação racial.
Nesse ambiente, ser stripper acaba sendo uma saída para sobreviver. P-Valley tem como distinção contar como é estar cercado de tudo isso e ser uma mulher. Por que ser stripper é uma opção justificável? Eis uma das propostas da atração.
Há ainda espaço para discutir violência doméstica, que a stripper Miss Mississippi (Shannon Thornton) sofre, mesmo com um bebê recém-nascido. Autumn e Mercedes escondem segredos Mas não importa o que aconteça, elas demonstram solidariedade, como se fossem uma grande família. Todas entendem como é calçar saltos plataformas e vestir um biquíni para ir ao trabalho.
A direção toda feminina faz a diferença. A série se sobressai no olhar, que mesmo dentro de um clube de striptease há pouca nudez. Os registros das danças são um caso à parte, como se aquelas atrizes fossem verdadeiras atletas no pole dance, com acrobacias insanas. E sem closes de câmera indiscretos tipo banheira do Gugu.
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